O golpe de Lula contra o golpe contra Lula

A paixão de uma secretária que contrariava Tom Jobim.

Depois de dar um chega-pra-lá em Beira-Color, Roberto Gurgel agora se volta para o que tem mesmo que fazer. Com o final feliz do julgamento do Mensalão, ele agora diz que vai "analisar com mais calma" as declarações de Marcos Valério e já foi avisando: "Serão tomadas as providências que são cabíveis para completa investigação de tudo que demande apuração".

Tradução: Gurgel vai tomar as providências que tiver que tomar com relação a Lula que hoje só fala em sucessão presidencial e não dá um pio sobre a Operação Porto Seguro.

Não fala nisso e nem sobre o gelo que já passou a dar em Rose, a única figura central de mais esse escândalo, inclusive de alcova, que atuava em todas as posições: ataque, defesa, viagens clandestinas pelo mundo afora, propinas apenas para ela mesma, tráfico de influência pessoal, porque podia mais que a primeira-dama de verdade.

De qualquer maneira, assim que desfiar a trama de fio a pavio, vai encaminhar o caso para o Ministério Público de primeira instância, posto que Lula não tem mais prerrogativa de foro especial. É só um político aposentado que está sendo vitima de mais um golpe de Estado. É a primeira vez na história do mundo que o Poder constituído e estabelecido derruba do governo alguém que já não é mais governo.

A duplicidade de Lula é impressionante. Ele é capaz de denunciar um golpe para derrubá-lo do poder sem estar no poder; é como se fosse um golpe para derrubar um governo que não está no governo. E também é capaz de acusar uma punhalada pelas costas de um "caso" que não era um caso. Quer dizer, o golpe de Estado não é golpe e nem é contra o Estado; e Rose não era seu caso era, por acaso, caso de si mesma. Uma instigante história de encantamento e paixão unipessoal, um affair de narcisismo em que uma secretária-geral contrariava o canto de Tom Jobim e conseguia ser feliz sozinha.