Um cidadão acima e abaixo de qualquer suspeita

Basta não estar acima do bem e do mal, nem ser maior que a lei e a ordem para que qualquer cidadão acima de qualquer suspeita seja investigado pela Justiça logo que baixe à vida e ao cotidiano de um cidadão comum como aquele do texto da Constitutição de 88 que diz o quanto somos todos iguais perante a lei.

Lula, embora ele não pense assim, é igual a qualquer um de nós - cruzes! - diante da lei. Trata-se de um mero presidente aposentado de dois mandatos transbordantes de escândalos; é um empresário dono de um instituto que faz palestras com cachês inimagináveis sobre histórias de ficção sobre ele mesmo; é presidente de honra e bem remunerado do PT, partido que fundou para usar como bem entende. Enfim, Lula é só o máximo denominador comum que perambula pelo submundo do poder e pelo mundo afora, sem mais o que fazer.

Enfim, Lula está pronto e caindo de maduro para ser investigado, sim senhor. Não quer. Acha isso um abuso, uma perseguição, um descalabro, uma revolta da sociedade invejosa do seu sucesso como migrante de Garanhuns que chegou ao Palácio do Planalto, para virar filme água-com-açúcar como O Filho do Brasil. Encarou de tal forma esse personagem que se acha e se vê até agora como filho único. Não é.

Tanto é verdade que agora procuradores e magistrados de tribunais superiores já têm como “inevitável” a abertura de inquérito, na Procuradoria Geral da República, para investigar o que o eufemismo redatorial recomenda chamar de "suspeitas" do seu envolvimento no escândalo do mensalão.

Lula é perseguido nesse momento, não pela imprensa, não pela sociedade invejosa, não pelos que urdem um golpe contra quem não tem mandato popular, mas é caçado pelos indícios escandalosamente graves surgidos no processo original e abortados pelas revelações feitas ao Ministério Público pelo velho companheiro de fileiras partidárias, o malfeitor contumaz já condenado, Marcos Valério.

Porque é um homem comum, sem as discriminatórias prerrogativas de entidade superior, igualzinho a qualquer filho de Deus, Lula precisa e deve ser investigado, até mesmo para que sua inocência seja definitivamente demonstrada e sua história não seja sepultada em uma cela 3x4 como um reles Zé Dirceu, ou um notório Fernandinho Beira-Mar que, no ostracismo, ainda não se ressocializou.

Assim que acabe a novela do Mensalão, para o bem de Lula, o novo inquérito será aberto a qualquer momento por Roberto Gurgel, procurador-geral da República que, ao que se sabe, nunca foi convidado para "bater um papo e tomar um vinho lá em casa".