Cultivo, desde os tempos de menino, o hábito de ler alguma coisa antes de dormir. Sempre que me deito só, leio qualquer livro que me caia nas mãos e o devoro até que suas letrinhas comecem a despencar da página e caiam sobre meus olhos.
Esta noite, depois de uma terça-feira comum conquistada com a alegria das coisas banais, fui até meia madrugada lendo Una Casa con Goteras, do aragonês Santiago Lorén. É uma breve história de um encanador que, em casa, vive com a sua esposa e a sogra que tenta sempre iriritá-lo. No início do livro, o encanador está cumprindo a tarefa de consertar um encaixe na tubulação de um hotel de construção recente.
No exato momento em que está encaixando os tubos, ele é informado da morte repentina de sua sogra e então, acometido de um enorme sentimento de culpa ele reage trabalhando de forma inconsciente. Sem se dar conta, o seu trabalho é defeituoso e imperfeito...
Mas isso é literatura de alcova, no bom sentido: só para puxar o sono. O que me leva a falar disso é que, por estranha coincidência com a reta final desse torturante segundo turno eleitoral, a frase que me deu na testa um átimo de segundo antes de adormecer tem tudo a ver com o domingo que vem: "Sabía que el elegir era algo así como ser lançado al agua después de haber aprendido a nadar por correspondencia".
Acordei pensando que é assim que o brasileiro maior de 16 anos e menos experiente dos que já têm 70, é lançado obrigatoriamente às urnas neste 21 de outubro. Ele só sabe que, neste domingo, a escolha é algo assim mesmo como estar sendo lançado ao mar depois de aprender a nadar por correspondência.
Tudo que o eleitor brasileiro sabe a respeito do candidato, lhe foi ensinado num massacrante curso intensivo de TV que ensinava como a vida da sua cidade vai ser igualzinha àquela que ele mostrou na televisão da sua sala. Pronto, você está formado em generalidades, já pode votar para ser feliz. No mínimo, depois que o novo prefeito assumir, a sua casa nunca mais terá goteiras.