O medo

TENHA MEDO DO QUE O GOVERNO PODE FAZER COM VOCÊ. NO BRASIL GOVERNAR É SATISFAZER NECESSIDADES FISIOLÓGICAS.

10 de out. de 2012

Bukovski foi Buscetta que foi meio Jefferson e muito Dirceu


Foi na década de 90. O Roberto Jefferson deles lá, o dissidente Vladimir Bukovski, levou para a Itália as provas de que a mídia italiana estava na gaveta da KGB ao correr dos Anos-80. Jogou bustica no ventilador. Mas, pra começo de conversa, a coisa nem chegou a repercutir muito, logo de início.
 
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Na verdade o chamado 4° Poder não queria meter o dedo nas feridas que haviam sido deixadas pela Guerra Fria, um assunto que já estava demodée. Mas aí, a porca começou a torcer o rabo. Os jornais começaram a abrir cadernos de política e de polícia tratando da matéria que, afinal, saíra dos baús das miudezas dos Arquivos Secretos de Moscou.

O material de Bukovski veio à tona com as suas as graves implicações. Foi então que se soube que o o Partido Comunista Italiano - um  facção mais convicta e mais sólida do que o PT daqui - havia recebido pelo menos quatro milhões de dólares da KGB.

Aí foi a vez então do Parlamento italaino ser pressionado pela opinião pública, pelo clamor da voz rouca das ruas a realizar uma devassa fiscal pra cima de todos os envolvidos. E sabe lá o que aconteceu? O Partido Comunista Italiano bateu pé, reclamou e jurou com os pés que batiam juntos que não era nada daquilo e coisa e tal; que o Bukovski era, mais que um Tommaso Buscetta daquela época, um Bob Jeff desqualificado, não merecia confiança. Pelo menos, mais confiança do que tinha o Partidão italiano.

E quando o PCI tratava de encobrir o sol com a sua enorme peneira, eis que de repente, não mais que de repente, surgiu do seio do povo e da toga de magistrados honrados, para combater os juízes que estavam na folha de pagamento e no quadro de colaboradores da máfia - a Operação Mãos Limpas ou Mani Pulite. Nada mais que uma investigação judicial de grande envergadura para esclarecer casos de corrupção naquela década.
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Era só uma consequência inevitável  do escândalo do Banco Ambrosiano, em 1982 que tinha tudo a ver com  a Mafia, com o sacrosssanto o Banco do Vaticanoe a honorável loja maçónica P2.

Sabe no que foi que deu? A operação deu um fim na chamada Primeira República Italiana, coisa tipo assim República dos Calamares aqui no Brasil da Silva. Culminou também com o desaparecimento de muitos partidos nanicos, siglas de aluguel e facções similares.

Houve políticos e industriais que, para o bem geral da nação, cometeram suicídio quando os seus crimes foram descobertos. Eles lá, ainda que pareça mentira, tinham ainda um pingo de vergonha.

Foi uma devassa geral. Nada parecido com o que se prenuncia por aqui, onde tudo parece que vai acabar com o fim deste julgamento do Mensalão. É que lá na Itália, eles tinham alguns heróis solitários que resolveram de mãos limpas enfrentar a máfia desde os Anos-80, como os juízes Paolo Borsellino e Giovanni Falcone.

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E aí veio impávido e colosso o testemunho do mafioso Tommaso Buscetta - um pouco de Jefferson nesta hora e muito de Dirceu por ser um capo italiano. Ele quebrou, pelas mesmas razões que Bob Jeff quebrou por aqui, o código de silêncio, a famosa omertà. Foi quando passou a ter a mesma lepra que Bob Jeff pegou em 2005 na República dos Calamares.

Assim é que, só para contrariar dona Dilma Vana, a Itália mafiosa é aqui.

Tommaso Buscetta é um pouco Roberto Jefferson - quando dedura os mensaleiros - e muito Zé Dirceu, quando é chefe de quadrilha. Não se alegre, no entanto.
 
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É que a corrupção, a propina, o Estado dentro do Estado, o crime organizado estatal voltaram a sacudir a Itália poucos anos depois.

Por aqui, se tudo ficar só no julgamento do Mensalão, teremos reeditado apenas a primeira parte da Operação Mãos Limpas, ficando apenas com o segundo episódio, sem mandar para a cadeia de uma vez por todas o Capeta de i tutti capi - que só aparece nas fotos quando está de bem com a plateia.
 
Ou logo depois que conseguiu desvencilhar-se das malhas da justiça, tirando o corpo fora e apontando o dedo para o primeiro que estiver a seu lado: - Não fui eu... Foi ele!