Pelo visto, o Governo de Transição vai mesmo transitar apenas da República dos Calamares para a República dos Tiriricas. A estratégia da arte de escolha é a mesma, sem tirar nem pôr. A matéria que sinaliza o rumo que a era de Dona Flor e Seus Dois Maridos está tomando é do jornal Folha de S. Paulo.
Cabeleireira vai receber
R$ 6.800 como secretária
Por Breno Costa, na Folha:
O governo vai pagar mais de R$ 6.800 para uma cabeleireira gaúcha trabalhar como secretária na equipe de transição da presidente eleita Dilma Rousseff. Márcia Westphalen é uma das 13 pessoas nomeadas ontem para compor o governo de transição de Dilma Rousseff, até a posse da nova presidente. Até 2009, ela trabalhava como cabeleireira num salão de beleza em Porto Alegre. Manteve até ontem à tarde no ar um blog sobre “cabelos, tendências e dicas de visual”. O blog saiu do ar após a Folha entrar em contato com o governo de transição.
No blog, se apresentava dizendo já ter morado em “vários países” e trabalhado “em salões de diversos estilos”. Afirmava ainda que, “por ideologia, não faço alisamento, escovas progressivas ou qualquer outro processo agressivo”. Segundo o governo de transição, Westphalen é formada em direito e foi selecionada por análise de currículo pela campanha de Dilma, quando passou a atuar, de acordo com a assessoria, como secretária trilíngue.
À Folha Westphalen informou outra função. Também disse que foi selecionada por análise de currículo, mas que trabalhou na área de “apoio de produção”, auxiliando na organização de eventos da campanha de Dilma. Sobre seu papel no governo de transição, disse que ainda não sabia qual seria sua função, mas negou que fosse trabalhar como cabeleireira.
E tem mais:
Acusada de ser sanguessuga
é nomeada para a transição
Por Breno Costa e Rubens Valente, na Folha:
A advogada Christiane Araújo de Oliveira, 30, denunciada em 2008 pelo Ministério Público Federal sob acusação de envolvimento com a máfia dos sanguessugas, foi nomeada para a equipe de transição da presidente eleita Dilma Rousseff. O esquema, descoberto em 2006, consistia no direcionamento de licitações para a compra de ambulâncias por prefeituras com dinheiro de emendas parlamentares em troca de pagamento de propina para congressistas.
Apesar de a nomeação ter sido assinada pelo ministro-chefe da Casa Civil, Carlos Eduardo Esteves Lima, a indicação veio da equipe da presidente eleita. Christiane é um dos 20 nomes oficializados até ontem. Dilma pode indicar até 50 pessoas para sua equipe. A assessoria da transição informou que a advogada, que receberá salário mensal de R$ 2.600, exercerá a função de secretária, com a atribuição de “atender telefonemas e anotar recados”. Localizada pela Folha ontem à tarde, Christiane disse não saber qual será sua função na equipe. Ela disse que tomou conhecimento da nomeação pela reportagem.
EM NOME DO PAI
“Eu nem sei ainda [sua função], estou falando sério. Eu estava aguardando, esperando [a nomeação]“, disse. Christiane afirmou que provavelmente sua nomeação se deveu ao apoio que seu pai, um pastor evangélico cujo nome ela não citou, prestou à campanha de Dilma. A advogada disse que tem “a consciência tranquila” sobre o processo e que não cometeu irregularidades. “Não fui condenada em nada.” Christiane é ré na Justiça Federal em Arapiraca (AL), desde 2008, em processo que apura supostos crimes de formação de quadrilha, corrupção passiva e fraude em licitações no caso sanguessuga.
Na época, Christiane era assessora do então deputado federal João Caldas (AL), do antigo PL (hoje PR). A denúncia, assinada pelo procurador da República Daniel Ricken, cita trecho de depoimento do empresário Darci Vedoin, pivô do esquema. O procurador justificou a denúncia dizendo que Christiane era quem fazia contato com os prefeitos no interior de Alagoas “para acertar os detalhes sobre o direcionamento de licitações”.