O medo

TENHA MEDO DO QUE O GOVERNO PODE FAZER COM VOCÊ. NO BRASIL GOVERNAR É SATISFAZER NECESSIDADES FISIOLÓGICAS.

27 de nov. de 2010

O Exército da Salvação

O povo brasileiro há muito tempo que precisa de um governo forte. Ele quer ser mandado. Gosta de obedecer e, mais ainda, de ser desobediente. É da sua natureza. O grande perigo é quando os governos se metem a governar demais.

Lá pelo meio dos Anos-80, Zé Sarney inventou que cada contribuinte deveria ser um fiscal a serviço do seu governo.

Foi o que bastou para, no dia seguinte, em Curitiba, o já falecido Omar Marczinski, então um bem-intencionado contribuinte paranaense fechar as portas de um supermercado, porque os preços estavam fora da tabela do Plano Cruzado.

Interpelado pelos diretores do estabelecimento, antes de trancar a porta, ele bradou retumbante e patrioticamente:

- O supermercado está fechado. Eu sou fiscal do Sarney!

A euforia virou decepção profunda assim que se descobriu que a guerra deflagrada contra a inflação era apenas um blefe do homem dos Marimbondos de Fogo que subiu a rampa no lugar de Tancredo, o melhor presidente que o Brasil não teve.

Agora, na Guerra do Rio, cercados de tanques, caveirões, tropas de elite em nome da elite, os moradores dos morros e das favelas soltam brados retumbantes de saudação à presença das polícias e das Forças Armadas coalizadas que operam a seu favor.

A operação é necessária; é de emergência; é tratamento de choque; é de guerra contra os narcotraficantes que - vejam só! - já foram promovidos a narcoterroristas. A invasão é providencial. Já o brado retumbante é apenas um grito de alívio; um ingenuo berro pela paz perdida. Uma manifestação que vem da alma do povo, do coração dessa gente humilde, da voz rouca das ruas, certa de que afinal a liberdade que se anuncia é a libertação definitiva do jugo maldito dos traficantes canalhas que vendem drogas para os consumidores cretinos. Vendedores e compradores são, na mesma medida, pústulas humanas, escarros da sociedade.

A ocupação desse conjunto de forças armadas, por mais que se demore, será temporária. Nuvem passageira. Mais adiante os senhores do tráfico se refortalecerão pela volta paulatina dos robustos negócios de compra e venda da droga que satisfaz aos estúpidos viciados.

E assim, gradativamente, a fumaça voltará a encobrir morros, favelas e as melhores casas do ramo no centro da cidade - ponto referencial dos grandes e rentáveis negócios entre traficantes e ususários. Os morros são apenas o melhor refúgio para os melhores estoques. Não tem a exclusividade do mercado.

O pior disso tudo é que - diante do descaso oficial permanente que levou o país é essa lamentável penúria moral - só a ação dos coturnos, das metralhas, dos tanques, camburões e caveirões é capaz de provocar no cidadão comum, nos homens de bem, o desejo de saudar a plenos pulmões que o Exército com todas as suas armas é a salvação.

E aqui estamos nós, eufóricos e cheios de esperança de que vem aí bom tempo, vem aí a boa brisa de paz e felicidade, graças ao regime democrata-militaresco que o governo Lula está deixando como uma de suas "heranças benditas" para o governo Dilma.

RODAPÉ - O empresário Omar Marczynski, a convite do presidente Collor de Mello, atuou em Brasília como Superintendente Nacional da extinta Sunab, exatamente o órgão da administração federal responsável pelo abastecimento e controle de preços. Ele faleceu na cidade de Manaus, em 2007, onde morava há cinco anos. Marczynski sofria de câncer no pulmão e tinha 64 anos.