O medo

TENHA MEDO DO QUE O GOVERNO PODE FAZER COM VOCÊ. NO BRASIL GOVERNAR É SATISFAZER NECESSIDADES FISIOLÓGICAS.

16 de nov. de 2010

Os Tres Porquinhos

Desde ontem, a fada-madrinha da versão brasileira da popular história dos Tres Porquinhos já tem onde morar: a Granja do Torto. O Torto foi quem lhe entregou as chaves da casa nessa transição da ficção para a realidade.

Como a vida imita a arte, os personagens desse conto já são conhecidos como três porquinhos - Prático, Heitor e Cícero - e um lobo torto, cuja função na fábula nacional é devorar os porquinhos. Na narrativa nacional, os nomes dos atores são abrasileirados, há um Antonio - vulgo Totonho - e dois Zés, ambos Eduardos, os Dudus. O Lobo é o lobo, torto sim, todo mundo conhece.

Quando decidiram acompanhar a fada-madrinha que, na historieta, se desdobra em mãe e até avó de todos os brasileiros e de alguns programas sociais, ou até de obras que não saem do papel, eles receberam o saldo de campanha como herança. Com isso, eles resolveram - cada um a seu modo - construir uma casa que não fosse do Torto, nem Civil para acomodar a fada, madrinha, mãe e avó dos PACs e dos pacas contribuintes.

Zé Dudu Cícero, o mais preguiçoso - porque trabalhar muito não é a sua praia - construiu uma cabana de palha. Já o Zé Dudu Heitor - nem tão malandro, nem tão objetivo - optou por fazer uma cabana de madeira. Foi então que aflorou o gênio de Totonho Prático: ele resolveu construir uma casa melhor estruturada, mais reforçada, com cimento e tijolos.

Claro que a sua casa demorou mais tempo para ser construída. Assim é que, Totonho Prático enquanto se matava de tanto trabalhar - dentro do que isso pode significar para o clã dos trabalhadores brasileiros -  ele tinha que aturar os irmãozinhos de fé, companheirinhos bons e batutas, se divertindo em horário de expediente.

Aí, até que um dia, o lobo torto mostrou as garras: surgiu assim de repente, como dono do pedaço, e bateu na porta da casa de Zé Dudu Cícero que se escondeu. Deu-se mal: o lobo que não é bobo, com um assoprão, desmanchou a casa de palha num bafo só. Zé Cícero se mandou, deu no pé, escafedeu-se.

Insistente como ele só, o lobo torto foi bater na porta de Zé Dudu Heitor e, com duas bafejadas, destruiu também a cabana de madeira. Não é nada, não é nada, usando e abusando do seu bafo, o lobo tinha demolido duas edições de suas casas, suas vidas.

Zé Dudu Heitor fugiu para a casa de Totonho Prático, onde já se encontrava Zé Dudu Cícero. O lobo então foi à casa do Prático e tentou derrubá-la. Deu com os burros nágua. Após muitas tentativas, sem o sucesso que os institutos de pesquisa sempre lhe atribuíram, o lobo decidiu esperar a chegada da noite.

Com as sombras dominando o minifúndio, o lobo fez de tudo um pouco e apelou para a ignorância: resolveu entrar na casa descendo na marra pela chaminé. Foi quando começou a sentir cheiro a queimado. Era Totonho Prático que, mais forte e mais esperto do que o lobo esperava, queimava o rabo do invasor com uma caldeirada fervente de frutos do mar.

Aí, não deu outra, o lobo fugiu assustado para nunca mais voltar. A morada provisória foi transformada numa espécie de quartel general, símbolo oficial do grande projeto Minha Casa Civil, Minha Vida. Mesmo que as casas fossem de papel, eles viveram felizes para sempre.

RODAPÉ - Foi bom, enquanto durou. Mas, nem tudo é o que parece no fantasioso reino da fada-madrinha, o  lobo torto voltou. Já estavam todos chegando, miraculosamente, ao intimorato ano de 2014.