Num dos sopés do Complexo do Alemão, o repórter com seu colete de correspondente de guerra, quis saber do oficial sobre os riscos e resultados da operação recém realizada. O combatente das forças aliadas foi deveras esclarecedor:
- Positivo. Os meliantes tinham idéias belicosas. Adentramos o recinto-alvo. Ocupamos o território. No decurso do enfrentamento, alguns meliantes empreenderam fuga; outros entraram em óbito.
CALMA! CALMA!
Em pleno fragor da Guerra do Rio, ao fim da tarde de domingo, ouviu-se o espoucar do que parecia tiros. E uma voz rouca das ruas que gritava:
- Calma, calma! Até aqui, a gente não ganhou nada.
Não, não era um morador das favelas. Era só um torcedor fanático do Fluminense, bebemorando com amigos, a penúltima vitória do tricolor carioca, antes que o Brasileirão termine.
PÓS-GUERRA
Nuncanahistoriadessepaís se viu tanto cientista político entendido em guerra. Mais do que esses profetas do acontecido, só mesmo repórteres com colete à prova de bala.
INSALUBRIDADE
Um dos maiores riscos do trabalho dos repórteres que cobrem a Guerra do Rio, é dizer que estão falando ao vivo para os programas noticiosos de suas emissoras.
AUTOR
Desde o aconhego de seu gabinete, todo se achando, acobertado pelos microfones, o audaz governador Sérgio Cabral, estufou o peito :
- Estamos virando essa página da História.
Não disse que ele foi um dos que fizeram a tal história e nem mesmo informou se teve coragem de pelo menos ler algum capítulo.
Lula disse hoje, no seu "Café com ele mesmo", que vai visitar o Complexo do Alemão. Não disse novidade nenhuma. Ele já foi aplaudido por lá, como em maio do ano passado. Só não foi capaz de perceber quem é que o ovacionava. Lula esteve no Alemão acompanhado da sua então ministra-chefe da Minha Casa Civil, Minha Vida - Dilma Rousseff. Naquela data solene, entre um almoço no Palácio Laranjeiras e a inauguração de mais uma pedra fundamental de alguma obra do PAC, achou tempo para bater uma bolinha com o goleiro frangueiro, Sérgio Cabral.
ERRO DE IMPRENSA
A repórter de TV, linda dentro de seu coletinho fashion, abriu seu boletim já na quase calma manhã de segunda-feira:
- Estamos falando, ao vivo, aqui da entrada do Complexo do Alemão, na Avenida Itararé..
Avenida, ou... Batalha de Itararé?!?
LIMPEZA
LIMPEZA
O soldado das forças aliadas de combate ao narcoterrorismo foi muito claro:
- Nossa missão está apenas começando. Agora vamos começar a varredura das favelas.
Que não seja pra baixo do tapete.
GÃO, O ESCORREGADIO
E então, as forças aliadas descobriram um verdadeiro palácio do crime. Pertencia a um dos seus mais perigosos e cruéis chefões do narcotráfico, o bandido Gão. Assim que invadiram o bunker superbacana, Gão se mandou às carreiras. Um dos combatentes coalizados ainda o desafiou no momento em que o traficante pulava a janela:
- Não fuja, covarde... Venha cá, Gão! Venha cá, Gão!
De nada adiantou. O soldado ainda tentou correr atrás do meliante, mas escorregou... Adivinhe em quê? Nisso mesmo que você está pensando. Nunca Gão fez tanto jus ao nome.
TOP ERÓTICO
O DIÁRIO
É como dizia um carioca da gema, à beira de uma quase calma e serena Copacabana:
- Mermão, se a coisa continuar assim, não demora nada a Garota de Ipanema vai ser a Anne Frank da Guerra do Rio.
ZEU
As forças aliadas conseguiram recapturar o matador do jornalista global Tim Lopes. Conhecido como Zeu, vai pro museu de Bangu, o presídio de segurança máxima para ele e seus comparsas. Fosse na Grécia esse bandido seria intocável. Seria mais que um chefe do crime, o maior de todos os deuses, um deus singular: ao invés de Zeus, simplesmente Zeu.
TIM MAIA
Cerca de 600 chefões do narcotráfico fugiram do Complexo do Alemão. O governo vai descobrir que os 21 mil soldados aliados que estão concentrados nos morros cariocas, logo estarão viajando para as outras capitais brasileiras. Ou será que o governo vai dizer que São Paulo, Belo Horizonte, Brasília e outros grandes centros não cheiram, não fumam, não bebem, não se picam?!? Só se o governo for Tim Maia... De vez em quando, ele mentia.
GUERRA É GUERRA
Devagar com o andor. Não dá para fazer tudo de uma vez só. Não é porque, enfim, o governo descobriu que poderia acabar com o narcotráfico que agora vai mandar 21 mil soldados das forças aliadas para cada uma das capitais brasileiras. Se operasse assim em todos os estados da Federação, o Brasil estaria hoje no meio de uma guerra civil maior que a da Secessão, nos Estados Unidos. Enquanto isso, vamos apenas curtir a idéia de que onde há fumaça, há fogo... E quem sabe, uma maconhazinha maneira.