Se a Guerra do Rio não acabar com a riqueza do narcotráfico, essa mobilização toda das forças aliadas - surgidas por honra e glória da "estratégia de coalizão pela governabilidade" autorizada pelo comandante supremo da nação, vai dar em absolutamente nada. Um retumbante nada.
A opulência dos cofres desses agora ditos narcoterroristas que habitam os morros e aprisionam favelas é a sua fortaleza. Eles são tão ricos ou tão mais ricos do que a elite que hoje habita os poderes constituídos e aprisiona os organismos estatais.
Pegar um menino de nove anos de idade com 30 mil dólares na mochila escolar é, senão um lance de loteria, apenas mais um exercício de mera pirotecnia. Só serve para que se faça as contas do que ele teria na cueca se chegasse à idade dos nossos governantes.
Essa Guerra do Rio - por enquanto só do Rio - é o crime organizado de gravata contra o crime organizado de chinelo de dedo. De dedo, mas Havaianas. O disfarce de uns é botinão; o de outros, é sandália. Ambos usam colete à prova de bala.
Quem está de peito aberto e com o buzanfan que é uma rosa, no meio dessse fogo cruzado, desse bala com bala, é a população de homens de bem, mulheres de boa vontade, crianças nem bem-criadas que jamais desfrutaram da mesma segurança que gozam as autoridades, porque não são "pessoas não comuns".
Pergunta aí, se Sarney, Collor, Renan, Lula, genéricos e similares já estiveram sob alça de mira, alguma vez na vida. Afora Zé Serra - vitima eventual de uma bem bolada fita durex e de Dilma que se esquivou de um saco daquele líquido misterioso corriqueiro em arquibancadas de futebol, só mesmo Zé Dirceu teria do que se queixar: levou uma bengalada pelas ventas em pleno corredor da maior casa de tolerância nacional. O indignado agressor até já bateu as botas.
Enfim, essa Guerra do Rio é briga de cachorro grande. Uma elite oficial contra uma elite de governo paralelo. Bronca de rico. Quem leva bala perdida é o pobre.
But, I have a dream... Um dia, mesmo que seja em sonho, todos seremos iguais. Pobres como eles, bem protegidos, habitantes de condomínios de segurança máxima, com boa saúde pública, educação, aposentadorias justas, merecidas pensões e fanáticos praticantes do sagrado direito de ir e vir.
E quem sabe até haverá casa, vida e luz para todos.
RODAPÉ - Assim que deixar o cargo de presidente da República, Lula da Silva terá direito a quatro seguranças, dois motoristas, dois assessores, dois carros oficiais. Nada demais, o Brasil já concede a mesma coisa para os ex-presidentes que ainda estão aí, vivinhos da Silva: Sarney, Collor, Itamar e FHC.