Escândalo em lupanares só acontecem quando um dos cônjuges descobre o que o outro anda fazendo com outras mulheres e, até não raro, com namorados firmes - tão firmes quanto rijos. Já na grande casa de tolerância nacional os escândalos vêm em cachos, banalizados. Já que todos estão mortos e sepultados, antes que rezem a missa de sétimo dia, aprenda a tolerar também, ajoelhe-se e persigne-se in memorian:
DECRETOS SECRETOS
Os chamados atos administrativos secretos serviram para nomear parentes, amigos, poetas, seresteiros, namorados, criar e distribuir cargos, aumentar e redobrar salários. Sabe-se agora que mais de 600 decisões não foram publicadas. Nesse rol de roupa suja, aparecem as manchas indeléveis da nomeações de parentes, afilhados e agregados do presidente da Casa Grande e Senzala, Zé Sarney. Os atos secretos pagaram também o salário de um mordomo que só prestava serviços caseiros de quando em vez à ex-senadora Roseana Sarney. No rabo de foguete os atos tornaram em fatos reformas luxuosas e cirurgias estéticas.
Aí, com a corda no pescoço, Sarney mandou - quem pode manda, não pede - a anulação de 663 atos secretos da enorme casa de tolerância. De cara, de cara, só dois foram anulados. Pela drástica e espalhafatosa providência funcionários contratados por esses decretos deveriam ser automaticamente desligados do quadro administrativo dessa espécie de bordel de luxo político. Gargalhe, tenha frouxos de riso: está previsto o ressarcimento integral aos cofres públicos de recursos que tenham sido pagos de forma indevida. Na esteira ddo holofotismo, o diretor-geral do Senado, Alexandre Gazineo, e o diretor de Recursos Humanos, Ralph Siqueira, foram exonerados. Bem feito para eles que não fizeram o que fez o ex-diretor-geral da Casa Agaciel Maia que pediu afastamento do Senado por 90 dias. Sarney anunciou a criação de uma comissão de sindicância acompanhada pelo Ministério Público (MP) e pelo Tribunal de Contas da União (TCU) para investigar as denúncias.
CONTAS NO EXTERIOR
A revista Veja viu e garante que Sarney era titular absoluto de uma conta bancária não declarada que, em 1999, oestentava um saldo de US$ 870 mil. Ao preço de hoje, R$ 1 milhão e 740 mil.
Zé Sarney subiu nas tamancas com as revelações da revista. Aí, fazendo ouvidos moucos às denúncias que o ligam a fraudes e outras distrações na Fundação que vilipendia seu honorável nome, Sarney autorizou a Procuradoria Geral da República a requisitar junto a instituições financeiras internacionais informações sobre contas bancárias que tenha, ou tenha tido, no exterior. Não fez o mesmo com relação à Fundação Sarney. Como se constata a seguir. Sarney ainda está furioso: - Estão pensando que eu me chamo Duda Mendonça?!?
FUNDAÇÃO JOSÉ SARNEY
Para não se dizer que Sarney não fez nada, ele fez pior: divulgou nota jurando de pés juntos que não participa da administração da fundação que leva seu nome nem tem responsabilidade sobre ela. Pelos estatutos da entidade, quando Sarney bater as botas, sua mulher assume a presidência; quando chegar a sua vez, o cargo vai para o filho mais velho e assim por diante. Nenhum deles, com certeza, terá qualquer responsabilidade pelo que fizerem e acontecerem na fundação.
CASA SECRETA DE SARNEY
Zé Sarney não registrou na declaração de bens encaminhada ao TSE em 2006, uma casa em ponto nobre de Brasília no valor de R$ 4 milhões. Al Capone também fez uma dessas. Morreu na prisão.
Aí, do alto de sua multiplicidade, só para dar satisfação à plebe ignara, Sarney acabou emitindo duas notas, uma dizendo que o que dizia na outra não era bem assim e coisa quetal. Na primeira nota falsa, alegou que o contador repetiu em 2006 a declaração de 1998 - período de vacas magras em que a casa ainda não estava em seu nome. Logo que a imprensa descobriu que as declarações eram diferentes, Zé Sarney mandou cunhar nova nota garantindo que - à moda Lula - "no fundo, no fundo, no fundo" houve esquecimento do contador, que na hora de preparar a declaração de bens de 2006 esqueceu de incluir a casa. Na nota, Sarney informou ainda que o imóvel consta de suas declarações anuais do Imposto de Renda, entregues também ao TCU com frequência anual. Orra meu! Um contador que não enxerga uma casa daquele tamanho mais do que ser demitido, deveria ser mandando para o xadrez!
AUXÍLIO-MORADIA
Zé Sarney vinha recebendo, como manda a liturgia e ele próprio gosta de assim dizer, a mixaria de R$ 3.800 de auxílio-moradia desde 2008. A bondade em demasia não causou estranheza a Sarney que tem moradia em Brasília, ainda que não tenha dito isso à Receita.
Como sinal de que é home de paz e de boa vontade, Sarney pediu desculpas por ter dito que nunca recebera o benefício. Fez questão de anunciar que mandou cortar o recebimento do auxílio. Não falou que vai fazer como outros senadores flagrados no mesmo saco de gatos que estão devolvendo o dinheiro mal-havido em módicas prestações mensais.
ZOGHBI E A FÁBULA DA LARANJA
Desaba nas costas do ex-diretor de Recursos Humanos do Senado João Carlos Zoghbi a acusação de levar propina para favorecer empresas que têm interesse em contratos com a maior casa de tolerância nacional. Zoghbi teria usado (epa!) a ex-babá como laranja para sugar R$ 2,3 milhões do Banco Cruzeiro do Sul, encarregado de operações de empréstimos consignados a funcionários da Casa.
Zoghbi foi indiciado pela Polícia Legislativa da casa de tolerância por corrupção passiva e formação de quadrilha, com base em indícios de práticas ilegais na concessão de empréstimos. O Ministério Público decidiu encaminhar os autos do processo à Polícia Federal. Sua babá tem mais de 80 anos. Zoghbi, pelo menos, não foi acusado de pedofilia. Ele hoje dá de ombros e se afasta: - A laranja está podre; não presta.
AGACIEL, O MAIA
Agaciel Maia, ainda cacique-geral da Casa de Tolerância foi acusado de omitir de seu patrimônio uma mansão de R$ 5 milhões e de fazer contratos irregulares a três por quatro. Fez do Senado uma Taba. Como é Maia desconfia que seus acusadores são da civilização dos Incas.
Maia perdeu a boca-rica depois de 14 anos no ronca-e-fuça. Ele, no entanto, continua fuçando nos bastidores. Deixando-se ouvir pelos duros membros da Mesa, responsabilizou, pelos tais contratos escusos, os senadores que ocuparam o cargo de 1º secretário durante sua longa gestão. Ele jogou pra cima dos presidentes da Casa, ao correr dessa farra toda, a criação de tantas diretorias quantas fossem suficientes para chegar ao espantoso número de 181 delas. Por causa do escândalo dos atos secretos, ele pediu afastamento da Casa por 90 dias. Parece que não foi acometido pela síndrome Sarney de amor ao cargo, embora a ocultação de uma mansão à Receita, seja um razoável sintoma de contágio.
HORAS EXTRAS
Outro escândalo banal: o pagamento de R$ 6,2 milhões de horas extras a 3.383 servidores em janeiro, no recesso parlamentar. Ninguém trabalhou, todo mundo levou.
Aí, o que foi que fizeram? Sugeriram a devolução do dinheiro recebido indevidamente. Dos 81, apenas 24 senadores determinaram isso a seus servidores. Não se tem notícia de quantos obedeceram. Afinal, trata-se apenas de uma sugestão.
NEPOTISMO
Outra: diretores arrepíavam a lei antinepotismo empregando empresas terceirizadas para empregar parentes; Há boas dezenas de parentes que - coitados - estão nessa aflitiva situação.
Dessa parentada toda, apenas sete deles foram pro olho da rua, mas ninguém moveu uma palha para abrir rocesso administrativo contra os tais diretores.
Dessa parentada toda, apenas sete deles foram pro olho da rua, mas ninguém moveu uma palha para abrir rocesso administrativo contra os tais diretores.
DIRETORES PELO LADRÃO
De repente - que surpresa desgaradável! - o Senado descobriu que tinha 181 "diretores". Logo céus e mares foram movidos. Anunciaram a demissão de 50 desses notáveis. Com um pequeno
detalhe: sem redução de salários. Sete já não é mais conta de mentiroso.
CELULAR
O ínclito senador Tião Viana emprestou um celular do Senado para a sua filha, que viajou de férias para o México. O artefato era da Casa. Ele diz que pagou a conta de R$ 14.758,07. O empréstimo ficou por isso mesmo.
DIRETORA MILITANTE
Elga Maria Teixeira Lopes, participou de cinco campanhas eleitorais sem pedir licença do cargo de direção do Senado. Ela era, nesse meio tempo, a diretora de Comunicação Social da grande casa de tolerância nacional. Elga Maria tirou férias e a Diretoria Geral não apurou o caso. Em fins de abril, Elga pediu demissão. Logo - rapidinho como quem rouba - ela foi recontratada e hoje é nada mais, nada menos do que assessora especial de Sarney. O que, Não é nada, não é nada, não quer dizer nada mesmo.
FANTASMINHA CAMARADA
Luciana Cardoso, filha do ex-presidente Fernando Henrique também Cardoso, foi reconhecida como alma penada que às vezes vagueia pelos corredores da Casa. Fantasminha camarada, ela juraou que "trabalhava" em casa porque o "Senado é uma bagunça". Ela tem lotação no gabinete do 1º secretário, Heráclito Fortes. Até FHC fez cara de paisagem. No resumo da ópera bufa, Luciana tirou férias. Antes que maio chegasse, ela pediu demissão do pesado en/cargo.
JATINHOS
O tucano Tasso Jereissati usou parte de sua verba de passagens para fretar jatinhos.
Sabe no que foi que deu? Bulhufas. Alexandre Gazineo, o Breve que fazia as vezes de diretor-geral, antes de ser defenestrado, disse que a operação é legal. Abriu jurisprudência.
Sabe no que foi que deu? Bulhufas. Alexandre Gazineo, o Breve que fazia as vezes de diretor-geral, antes de ser defenestrado, disse que a operação é legal. Abriu jurisprudência.
VÔOS LIVRES
Deputados e senadores andaram de cima para baixo levando à tiracolo parentes e assessores em viagens pelo Brasil e pelo mundo afora usando e abusando da cota de passagens aéreas do Congresso - a mistura nacional que leva do nada a lugar nenhum. Como satisfação para inglês ver, as duas tolerantes casas restringiram o uso de passagens. Todo mundo sabe que voar na Casa do Polvo agora é só uma questão de tempo. Depende só de birutas.
MORAL DA HISTÓRIA - Esta história não tem moral. Fica um irônico toque de saudade: bons tempos aqueles em que, no Congresso Nacional, só o voto dos parlamentares era secreto.