O medo

TENHA MEDO DO QUE O GOVERNO PODE FAZER COM VOCÊ. NO BRASIL GOVERNAR É SATISFAZER NECESSIDADES FISIOLÓGICAS.

30 de jul. de 2009

OS PATOS

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Renan vinha com um pacto cantando alegremente, até saber que era mesmo verdade a impertinente informação de que os tucanos entrariam com representações contra o Marimbondo Sarney no Conselho de Ética que podem culminar com a cassação do velho e carcomido proprietário do Senado e de quase todas as coisas públicas que emanam da Praça dos Três Poderes. Renan Calheiros telefonou para o presidente dos tucanos, Sérgio Guerra e para o líder da mesma grei, Arthur Virgílio. A voz macia de sempre não conseguia esconder o tom roufenho da intimidação que Virgílio jogou ontem na pá do ventilador:

- Se o PSDB fizer as representações, vamos ter de representar contra o PSDB.
- Renan, vamos ser francos - canta Virgílio ter retrucado - é contra mim, pois então represente, vá em frente.

E esse é o padrão das relações congressuais brasileiras, abaixo do nível do lago Paranoá. Um senador telefona para chantagear o outro. Chantagem é crime previsto no Código Penal. Dá cadeia. Dá pra você. Para as pessoas não-comuns, não tira nem pena. Não adianta você nadar contra a correnteza.

No mesmo diapasão, o tucano abre o bico para a imprensa e revela que Renan teria cutucado Sérgio Guerra com a velha e mofada tática da reciprocidade: pau que dá em Chico, dá em Francisco. Coisa mais ou menos assim: "não me denuncia que eu não te denuncio".

E o tucano ainda se pavoneia no cara a cara com a imprensa: - Tudo bem. Vamos ver quem é quem. Minha vida está aí para examinarem. A deles eu tenho na mão...

Como assim, senhor tucano?!? Tem a vida deles na mão e não diz nada pra ninguém. Quer dizer, tinha e nunca disse. Isso é jeito de se comportar em sociedade?!? No fundo, no fundo, isso tudo é uma pataquada. (Foto: ABr)

É, com certeza, uma guerra de dossiês, de papéis e provas que um guarda contra o outro para usar na primeira oportunidade em que se sintam ameaçados. Nesse tempo todo, um vai permitindo que o outro faça o que bem entende com o outro e o outro faça com o um.

Diz Virgílio que o pacto proposto por Renan Calheiros não foi aceito e que pela ousadia do vaqueiro mais bem-sucedido da vaquilhada fantasma do Brasil, ele e Sérgio Guerra vão apresentar na segunda-feira contra Renan uma representação por quebra de decoro pela tentativa de intimidação. Bobagem. É quéim-quéim-quéim pra cá; quéim-quéim-quéim pra lá. O grasnar de um contra o grasnar dos outros.

É o molhado caindo n'água: a representação vai para o Conselho de Ética, onde mais de 70% dos integrantes tem o rabo mergulhado nas mesmas ondas em que surfam Sarney e Renan. Jogo de cena é mato. Está ensaiado o vocal. E nós pagamos o pato. No maior tico-tico no fubá.