Lula é hoje um homem temeroso e feliz. Temeroso porque sabe que a saída de Sarney pode representar a tomada da cadeira presidencial da Câmara Alta pela oposição. Mas isso é só temor. No fundo, no fundo, no fundo, Lula está feliz porque já vive a gostosa expectativa de usar o afastamento de Sarney como uma espécie de remédio que cura todas as gripes.
Besuntado por esse ungüento milagroso, Sarney já erradicaria todos os seus males com a simples perda do status presidencial. Não teria mais nada a pagar pelo que usou e abusou do Senado e da coisa pública esse tempo todo. Tirado do alto da mesa e colocado na reles condição de ocupante da fila do gargarejo, Sarney deixaria o campo livre para a tão esperada e excitante retaliiação da tropa governista contra os opositores.
É assim que Lula vai deixar a sensação de uma fragorosa derrota ser substituída pelo inimitável prazer de meter o dedo na ferida de seus adversários. Nessa luta, entre mortos e feridos, se salvarão todos eles - guerreiros da mesma espécie. As grandes baixas como sempre estarão nas fileiras da vergonha e da democracia.