O golpe em Honduras foi perpetrado pelos militares, com o apoio do Congresso e o respaldo da Corte Suprema que tinha ordenado a prisão de Zelaya. Isso aconteceu porque, seguindo a cartilha das democracias latino-americanas, Zelaya decretou a realização de um referendo popular só para saber da possibilidade de convocar uma Assembléia Constituinte. A consulta tinha sido considerada ilegal pela Justiça, pelo Congresso e pelo Ministério Público.
Zelaya - colocando-se acima da lei e da ordem, como de hábito acontece por baixo dos panos americanos - bateu pé, reclamou e bramiu que a pesquisa não teria força de lei e que a única coisa que ele desejava era "abrir caminho para uma Constituição que desse voz aos pobres" -nada menos de 70% da população de Honduras.
Zelaya revelou sua laia teimosa e autoritária: descumpriu a ordem judicial. Aí, deu no que deu: foi preso. Na verdade - lá como em outras paragens continentais - a intenção de Zelaya com a consulta era impor uma nova Carta que permitisse a sua reeleição.
Como os trancos e barrancos foram executados pelo Exército, todos os países das Américas - que andam de pires na mão e com os cofres cheios de papagaios piratas para serem descontados às segundas-feiras - tiveram uma boa desculpa para condenar o golpe e estão querendo o contragolpe: a volta de Manuel Zelaya.
Hoje, o Congresso e a Justiça de Honduras mandam dizer que haverá governo interino até que se realizem as eleições gerais de novembro.
E, então, é assim que, sobressaltados pelo grito lancinante de Abel, Eva joga longe a maçã, Adão sai de sua sensual modorra e corre atrás de Caim que, com uma pedra na mão, disparava aos berros: - Ele queria me comer! Abel queria me comer!..