O dedo e a mão
No mundo inteiro oferece-se um dedo e pegam a mão. No Brasil, quem dá o dedo perde a mão. E quem mete o dedo mete a mão. Taí a farra dos cartões corporativos que não nos deixa mentir. É a consagração oficial do abuso de confiança.
O art. 5º, inciso XXXIII da Constitução-Cidadã de 1988 assegura a todos o direito de receber dos órgãos públicos informações de interesse particular ou geral, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado.
Entào, agarrados a esse preceitinho final, a pandilha de sempre resolveu para seu próprio bem e alegria desmedida que o princípio da publicidade não é absoluto, porque o art. 23 da Lei Federal 12.527/2012 regulamenta o acesso, discriminando as informações cujo acesso é restrito e limitando a atuação do administrador ao classificar um dado como sigiloso.
Vai daí que para eles, todo dado é sigiloso. O cartão corporativo tem carcaça pra aguentar o tirão e estamos conversados.
Na verdade, no tal país sério - que ninguém sabe direito onde fica - quem é dono mesmo de todo o dinheiro gasto pelo poder público não são os agentes do governo, somos nós, os cidadãos pagadores de impostos, em nome de quem a gandaia é realizada. Bolas, como o dinheiro é todinho nosso, não há motivo nem explicação para que nos deixem sem saber como, quando e nem por que ele é jogado pro ar.
Os cartões corporativos do governo devem servir apenas para acelerar despesas correntes de pequeno valor, como compra de material de escritório, combustível e coisinhas parecidas. É só para esse tipo de exceções que os cartões deveriam servir.
Mas, que nada... Os portadores dos mais de 13 mil cartões de pagamento do governo espalhados pelo País gastaram no ano que se foi, de forma secreta, R$ 21,3 milhões pagos pelo que se conhece como suprimento de fundos.
A maioria dessa grana preta foi empregada em compras e saques da Presidência da República, da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e da Polícia Federal. Só na Presidência, 95% das despesas com cartões corporativas foram sigilosas. O que era para ser exceção virou regra.
Quer dizer, no Brasil é assim, basta oferecer o dedo que a pandilha mete a mão.