Grêêêmiô!... Apesar de você
Com um repertório enorme de jogos de futebol para assistir na TV, peguei minhas pipocas e meu guaraná do Amazonas e me acomodei na poltrona, armado de controle remoto e a da firme decisão de ver o Neymar F. C. contra o maior time do mundo, o Ituano, da Cidade do Exagero. Que baita time!
A coisa começou com uma dupla sertaneja querendo dar um show maior que o espetáculo que todos esperavam de Neymar: interpretou o Hino Nacional como se estivesse na abertura de um rodeio. Olhavam o tempo todo para os cavalões da zaga do Ituano. Nunca antes na história desse país o Hino foi tão afetado, nem tão demorado. Coisas de Itu.
Começou o jogo. Aos cinco minutos, Neymar driblou dois afoitos defensores inimigos como se fosse o Falcão do futsal fazendo aquele gol incrível que cometeu há uns vinte dias com um extraordinário pas de deux, como se futebol fosse uma aula de balé. A torcida do Ituano aplaudiu como se tivesse um enorme coração santista.
Levantei, fui ao lavado e voltei, na única encenação possível para quem está em casa e se sente no estádio achando justo sair e pagar um novo ingresso para voltar correndo e não perder outros lances iguais. Um exagero, claro. Mas o jogo era em Itu.
Aí, bisolhei o Grêmio que jogava na Arena Tricolor contra a tal LDU do Chile no outro canal, num gramado mais empipocado que o meu micro-ondas. A primeira imagem que me deu na cara foi Vanderlei Luxemburgo de camisa azul profundo. O controle remoto me devolveu ao futebol.
Fui para Itu, onde Neymar continuava escapando de bala perdida. Ele agora é assim, humilha todo zagueiro e asseclas associados que lhe enchem de pontapés; a cada nova apresentação faz de idiota todo comentarista que tenta derubá-lo.
A verdade verdadeira é que quando Neymar pega a bola o jogo é outro; é outro jogo. O torcedor louco por futebol fica no lucro: assiste a uma minissérie esportiva cheia de atrações e paga apenas um ingresso. Assim, até minha pipoca com guaraná sai de graça.
Sinto muito, mas apesar das besteiras de um cara chamado Neto, não saio da transmissão da Bandeirantes. Com Neymar a fim de jogo, o confronto decisivo Grêmio x LDU é uma opção remota para mim que só me arrisco a concretizar quando em Itu é bola fora, ou tiro de meta.
Foi-se o primeiro tempo em Itu. Dei uma olhadinha rápida na Arena lotada. Deu para ver que o Grêmio tem um André que lembra Neymar. É que, em Itu, os zagueiros podem atacar Neymar em bloco porque não adianta nada: quem consegue mesmo anular seus melhores lances é o centroavante bom e batuta André, do próprio Santos. A similitude me devolve obrigatoriamente ao show de bola.
Voltei bem a tempo. Aos 3 minutos Cícero bochou de fora da área, como o fabuloso Luiz Fabiano do Sampa e da seleção de Felipão gostaria de bochar. Gol do Santos. Goleada de 1 x 0. E o jogo foi todo assim. Uma caçada permanente e exagerada a Neymar, como a fama de Itu bem recomenda.
A coisa redundou como sempre, numa coleção de cartões amarelos que Neymar provoca em todos os times que enfrenta e, de quebra, o tradicional cartão vermelho para o diligente zagueiro que, em cada jogo e em cada time, tem a missão de grudar em Neymar.
Pronto, mais um acachapante 1 x 0 de Neymar Futebol Clube. O Santos sai de Itu como líder do Paulistão 2013. Fui ao lavabo. Com o que me resta ainda de alma de gaúcho, deixei os outros jogos todos de lado e me concentrei nas emoções da metade mais requintada do Rio Grande do Sul.
Voltei para a sala a tempo de assistir a fé desmesurada, do tamanho de uma Itu pampeira, revelada na cara da fantástica torcida gremista. Agora, a grande atração do retumbante 1 x 0 aplicado pelo Grêmio com um golaço de Elano que vi no replay, era a cobrança alternada de pênaltis.
Foi um show de péssimas cobranças. O péssimo do Grêmio era pior que o péssimo da LDU. E vice versa. Mas a bola insistia em entrar. Sempre no meio do gol e seguida por gestos que imitavam as vibrações de Dunga numa longínqua Copa do Mundo.
O goleiro tricolor era tão assim e assado quanto o goleiro do Chile. Tanto é que a série de cinco para cada lado acabou em 4 x 4. A bem da verdade, só Willian José bateu como manda o figurino: forte, no ângulo superior, bem na costura da rede. Deixou a nítida impressão de que ainda não está bem entrosado com a turma.
Ufa! O fim estava próximo. Confesso que torci desesperadamente pelos chilenos. Não deu: mal arremessada por um cabeça-de-bagre do Chile, a bola deu nas pernas do goleiro gremista decretando a classificação para a próxima fase da Libertadores da América. A classificação de... Luxemburgo, pô! Prointo, tô convencido que sou muito mais gremista que qualquer um. Mais que o Moisés Pereira; mais que a Laura; muito mais que o Paulo Odone ou o Fábio Koff!
RODÁPÉ - Quem, vê futebol não vê mais nada. Aquela parte que desabou na estréia da Arena, faz parte do descaso natural com que a segurança pública é tratada no Brasil. A inauguração tinha que ser completa. Poderia ter alcançado proporções muito maiores, muito mais exageradas. Menos mal que foi em Porto Alegre e não em Itu.