O medo

TENHA MEDO DO QUE O GOVERNO PODE FAZER COM VOCÊ. NO BRASIL GOVERNAR É SATISFAZER NECESSIDADES FISIOLÓGICAS.

11 de jan. de 2013

Mesa de bar numa noite de Araraquara

Nesta sexta-feira, numa das mesinhas da calçada do Restaurante Gauchop, na Via Expressa, em Araraquara, um parceiro me perguntou, assim como quem não quer nada mais que um bom bolinho de bacalhau e uma torre de 10 litros de chope, por que é mesmo que a turma federal da operação Porto Seguro tinha se desinteressado pelos 122 telefonemas trocados entre Lula e Rose, a primeira -dama do governo Série-B da Dilma, em São Paulo.

Um bom gole depois não tive dúvida nenhuma em lhe passar a minha versão. E ele então ficou sabendo por mim - entre um bolinho e outro de bacalhau norueguês - que as ligações eram tão íntimas que não interessavam a mais ninguém e, muito menos à polícia.

Ele já ia tomando a coisa como verdadeira e definitiva - não há beócio neste mundo que se anime a duvidar da natureza alcoviteira dos segredos de liquidificador entre o Espinho e a Rose - quando lhe inquietei a alma boa com o meu espírito de porco:

- Pare. Pare, pense e se avive!
- Hã?
- Seguinte, cara: esses arrulhos até podem ter mesmo acontecido entre os dois pombinhos... Mas e daí, vai cair o seu cotovelo no chão só por causa disso?
- Não, claro que não.
- Pois os cotovelos dos policiais também não. Por isso eles jogaram os grampos no lixo da história. Mas só os grampos, porque as linhas trocadas estão guardadas, elas são apenas a ponta do fio da meada desse rolo todo... Na hora certa, aquele cara parecido com o Jô Soares vai querer o carretel.
- Hã?
- Hã, uma privica, véi... Te liga. Eu tô te dizendo é que a sacanagem do par de vasos é uma coisa, mas o
resto é uma suruba nacional feita por baixo dos panos.
- Hã, peralá...
- Que peralá nem cá, te liga véi: o que tá interessando agora é o governo submerso que traficava influência, desviava dinheiro, comprava e vendia sentenças, mandava e desmandava no país, mexia e remexia na máquina pública, aparelhava o Estado terceirizando companheiros de fidelidade supervalorizada, que apunhalava a primeira-presidenta pelas costas... 
- Hã? Ô loco! Aquele escritório em SãoPaulo não era só uma alcova?
- Que nada, cara. Foi por isso que, a primeira-dama de verdade chamosu os clones do Intocáveis e mandou a turma brasileira do Eliot Ness prender e arrebentar o mafuá paulistano do governo paralelo.
- Então foi ela que...
- Que detonou o bordel avançado da República? - me antecipei, só pra levar um trancaço pelas ventas:

- Não, véi. Te liga! Então foi ela, a presidenta Dilma que acabou com a campanha "Volta Lula"!!!
- Hãã?!? Cara, sabe que eu não tinha pensado nisso?!? Ôôô loooco!

Minha cara caiu no chão. Eu, cheio de informações de cocheiras brasilienses, não tinha me antenado que a criatura enfim tinha se voltado contra o criador. Dilma Vana voltou às lides de faxineira. Varreu mais um do seu caminho rumo ao replay no Palácio. 

Daí pra frente só se falou de futebol. E até fiquei sabendo que o time da Ferroviária, de Araraquara vai disputar a Serie A2 do campeonato paulista deste ano. E tem chance de subir para a Divisão Especial.

Ah sim... Mais dois amigos se juntaram à nossa mesa e se tratou muito também de bolinhos de bacalhau com mais duas ou três torres de chope gelado. Só percebemos que o restaurante estava cheio de moçoilas quando o couvert artístico do tocador de música sertaneja veio na nota quando pedimos pra fechar a conta. Eita noite paulista, sô. Ô loco!