MAIS QUE UMA HORA A MENOS DE VIDA
A obrigação de mentir é como um direito que os donos do poder exercem com indisfarçável prazer.
Digo apenas que Aécio Neves perdeu a primeira grande oportunidade de não fazer nenhuma pergunta para Dilma Vana Coração Valente. Deveria tê-la deixado falar sozinha.
Ele, como a gente, já sabia todas as promessas de feitos que não foram feitos nesses últimos quatro anos de uma administração sem programa de governo, mas com um duro e decidido plano de poder.
E, em assim desperdiçando a chance de ficar calado, Aécio Neves foi até mais longe: não disse para a sua ripostora que lhe cobrou o fim da CPMF, o famigerado achaque do cheque, que dos bilhões arrecadados dos brasileiros, que nem um único centavo foi destinado pelo governo Lula aos cofres da saúde pública nesse Brasil da Silva.
Aécio Neves perdeu a chance de deixar Dilma Vana ficar falando sozinha até quando o assunto foi corrupção. Deixou que ela assumisse o papel de xerif@ do Brasil que nem sequer prendeu a faxineira que não varreu os corruptos das salas do seu governo, deixando-os à vontade em cima do tapete.
Plasticamente o visual do embate estava bonito.
Parecia que o futuro do Brasil estava ali, dentro daquele estúdio ampliado com um palco iluminado.
Uma espécie de mini-arena tipo essas quase descartáveis deixadas como legado pela Dama da Copa das Copas, com luas e estrelas furando aquele telhado de vidro e salpicando de mesmice aquele chão.
E foi nesse conto água-com-açúcar que caíram as claques engravatadas dos dois candidatos. Os caciques e morubixabas estavam todos lá na seleta plateia. Lotaram o recinto preparado pela TV especialmente para os que fazem as diferenças entre nós e eles.
E quem não apareceu por lá e por quem também ninguém perguntou nem quis saber foi ele mesmo, o cabo eleitoral primus inter pares da reeleitorável Dilma Vana: ele, o Lula da Silva. Foi a ausência menos reclamada da noite.
Quanto ao programa televisivo, Dilma Vana surpreendeu pela performance do papel que vem representando esse tempo todo, nos palanques, no Palácio, nas inaugurações de pedras fundamentais, nos estúdios de TV.
Não chegou a ser protagonista e nem coadjuvante, eis que Aécio Neves, no papel de bom mocinho, resolveu indagar coisas para Dilma Vana que a candidata já tinha no script tipo assim gabarito que trazia na bolsa tamanho família e repassou para o teleprompter. Dilma Vana mostrou que lê e decora muito bem. Não conseguiu demonstrar que governa bem.
Falou o tempo todo como se ela mesma nunca antes na história tivesse governado esse País.
Pareceu, minuto a minuto, momento a momento que era apenas mais uma postulante - quem postula, poste é - ao cargo de president@ da República pela primeira vez na vida.
Tudo que, com ares de presidentona, prometeu que vai fazer a partir de janeiro de 2015 é, exatamente, tudo quanto seu governo não fez de 2010 até aqui e que, todavia, está deixando de herança para quem for mais rápido e subir primeiro a rampa do Planalto.
Dilma não conseguiu me convencer sequer que lhe devo qualquer simpatia. Não me agrada o seu jeitão, não gosto da sua voz, dos seus olhares ferinos, dos seus esgares, nem da sua empáfia irrefreável. Nada pessoal, posto que ela nem me conhece e nem conhece vocês, tanto que, jamais, sequer tossiu pra mim. Mas pode até que, num desses últimos dias, ela tenha sorrido e acenado para vocês. Nesse caso, me perdoem, vocês podem ter sido cativados. Dilma, quando pode, cativa.
Não adianta, nessa Dilma Vana para a qual há quatro anos contribuo para pagar seu salário de president@, tudo em tudo e por tudo, me parece sempre politicamente incorreto. É dessa president@ que não gosto. A outra Dilma, dita guerrilheira e militante, nunca vi mais gorda.
Tá bom, ninguém me perguntou nada disso. Também, ninguém aí é o Aécio Neves para ficar fazendo perguntas mal feitas para alguém que sempre lhe dará respostas mal enjambradas que todo mundo já está farto de saber.
Que droga! Foi triste ver que no mundo da política a obrigação de mentir é como um direito que os donos do poder exercem com indisfarçável prazer.
Perdi, pois, nesta terça-feira, mais que uma hora da minha existência diante da TV Bandeirantes, na antevéspera da meia-noite deste sábado para domingo, quando sob a dissimulação do enganoso horário de verão, sem mais o que me tirar, esse governo vai me roubar mais uma hora de vida.