O medo

TENHA MEDO DO QUE O GOVERNO PODE FAZER COM VOCÊ. NO BRASIL GOVERNAR É SATISFAZER NECESSIDADES FISIOLÓGICAS.

1 de dez. de 2009

O LAGO DOS MONSTROS

O Distrito Federal é Brasília e suas circunstâncias. O governador é o mercador que compra lordes e plebeus, deputados distritais - verdadeiros vereadores de luxo e de lixo da República da Esperteza.

O governador é quem manda nos seus circunstantes e suas circunstâncias que atendem pelo codinome de cidades-satélites - todas sem prefeito e sem edís. Desse jeito assim é que elas se espalham aos borbotões pelas margens plácidas do lago Paranoá, tão artificial quanto a quebrada e portentosa Dubai.

Brasília e suas circunstâncias formam a grande Ilha da Fantasia que nem os falecidos canastrões Ricardo Montalban e o nanico Tatoo conseguiriam imaginar.

É muito poder nas mãos de um governante só. Venha esse tipóide de onde quer que venha; tenha o caráter que seu passado recomende, ou condene; seja lá do partido que for...

O Escândalo Arruda bem que poderia servir agora como ponto de partida para lavar e enxagüar Brasília. Mas quê nada. Esse é um sonho que nem mesmo JK e Niemeyer, juntos e sem qualquer licitação, conseguiriam sonhar um dia.

A canalha política é muito real e mais poderosa do que qualquer prodígio da natureza. Em Brasília toda quimera morre no lodo que escorre dos gabinetes para as beiradas do Paranoá - o lago dos piores monstros da fantástica história que vem sendo construída tristemente por esse Brasil Da Silva que nasceu com o Palácio do Planalto.

A maldição do Lago Paranoá desce pela rampa e inunda a Praça dos Três Poderes. O melhor período presidencial que esta nação já teve foi o mandato de Tancredo Neves - O Breve. Durou o suficiente para não ser engolido pelos monstros do Lago Paranoá.
O ESCÂNDALO ARRUDA
Não se iluda, aloprado do DEM é igual a aloprado do PT e todo e qualquer partido, seja aliado ou não, governista ou não. Não é e jamais será punido. Logo o escândalo será substituido por outro e os jornais falarão de futebol.
Agora está faltando no Brasil Da Silva um pastor alcagüete com delação premiada. Vai chover bispo com as mãos cheias de dinheiro caído do céu.
Governabilidade por coalizão é isso aí. Mais que moda, uma culktura da política nacional. A segunda pele dos poderosos e seus partidos.
Leonardo, o presidente Prudente estava apenas fazendo jús ao seu próprio nome. Se aprecesse naquele vídeo metendo grana nas cuecas, poderia ser processado como ator de filme pornô.
O terço da propina: Durval Barbosa - o Dedo Duro; Júnior Brunelli - o corregedor distrital; Leonardo - o presidente POrudente da Cãmara do DF. Rezaram dando gfraças ao dinheiro caído do céu. É por essas e outras que tem gente botando Jesus Cristo no saco de Judas.
A mala branca do Brasileirão nem se compara com a mala-preta de Paulo Otávio em Brasília.
Agora é que a gente entende o que Lula quer dizer quando fala em "negociação política". É negociação mesmo!
A Polícia Federal inovou: ao invés de botar um pé de Arruda atrás da orelha, quer botar Arruda atrás das grades.
Está mais que provado, o PT não inventou a corrupção. Dizem que apenas a organizou. Mas já está precisando se reciclar.
Antes, três políticos reunidos era um comício; agora é missa de ação de graças pelo dinheiro que cai do céu.
Naquela brincadeirinha de mau-gosto, quando um moleque soltava um pum dentro de aula, o outro na classe de trás encarava o desafio: - Ah é, você quer guerra?!? Pois, a política está bem assim: um corrupto se suja todo, de cima abaixo e diante do primeiro flagrante ameaça seus colegas: - Ah é, vou "radicalizar"!
Os assessores de marketing do governo Lula que se cuidem. Esse escândalo no governo Arruda só favorece o DEM. Agora sim, o partido de oposição tem as mesmas condições de simpatia popular que os governistas para as eleições de 2010.
Por esta o governo Lula não esperava. O Escândalo Arruda acaba de equilibrar as eleições de 2010.
Que propina nas cuecas, quê nada. A moda agora está nas meias.
Nem Zé Dirceu e seus 40 mensaleiros seriam capazes de superar Zé Arruda nessa jogada de marketing.
Dilma Roucheffe está mais perplexa do que a CNBB com a oração da propina. Nuncanessepaís a perplexidade contoiu tantos votos entre os católicos.
Nos restaurantes de Brasília aquele cliente solitário naquela mesa lá do fundo é um cara honesto, isolado pelos demais frequentadores da casa. Até o dono do estabelecimento já se sente constrangido com sua presença incômoda. Esses caras sérios não se tocam.
Toda vez que um honesto se aproxima de uma roda de políticos, acaba estragando o ambiente.
O PT já não sabe mais o que fazer com esse Escândalo Arruda. A primeira medida vai ser demitir o departamento de marketing do partido.
Arruda reage e adota estratégia de choque. Mandou sondar dona Dilma para o cargo de porta-voz do governo do DF. Arruda precisa de alguém que minta melhor do que ele.
Nada no Brasil dá mais voto que um bom escândalo. Zé Arruda disse ao povo que fica. E vai ganhar a eleição de 2010.
Esse conceito de moral pelo avesso pega: os gremistas exigem que o Grêmio perca nesse domingo para o Flamengo.
Até que enfim a oposição resolveu reagir. Esse Escândalo Arruda colocou tudo no mesmo nível para 2010.
Não, não é o troco do bezerro de ouro pelo panetone envenenado. Roriz não tem nada a ver com isso. Ele só não gosta é de perder eleição.
Sai o governador por suspeita de corrupção e entra o vice... Não, o vice está envolvido. Então entra o presidente da Câmara; não, o cara tem as meias sujas. Então tá tudo dominado: entra o Judiciário em cena... A menos que pinte por lá uma pornochanchada com o mesmo enredo. Do jeito que a coisa vai, diante da implosão do castelo de cartas, deve sobrar uma vaguinha de interventor. E o valete vem lá do Palácio. Aí sim, a capital do país volta de uma vez por todas para o Rio de Janeiro. A não ser que... a Guanabara se candidate. Tudo pode acontecer nessa República da Esperteza... Se Fernandinho Beira-Mar permitir.
L'OSSERVATTORE PIANÍSSIMO
Carlos Eduardo Behrensdorf
De Roma
Piração geral dentro e fora do Sanatório

Fase Um: Tudo começou no dia 27 de novembro deste ano sem graça de 2009 com a publicação do artigo que transcrevemos a seguir, dentro do lema desta casa de saúde (?): “Eu vou mas não vou sozinho”. Vamos lá tan-tan, com ou sem Lexotan!

Os filhos do Brasil
CÉSAR BENJAMIN
ESPECIAL PARA A FOLHA

A PRISÃO na Polícia do Exército da Vila Militar, em setembro de 1971, era especialmente ruim: eu ficava nu em uma cela tão pequena que só conseguia me recostar no chão de ladrilhos usando a diagonal. A cela era nua também, sem nada, a menos de um buraco no chão que os militares chamavam de "boi"; a única água disponível era a da descarga do "boi". Permanecia em pé durante as noites, em inúteis tentativas de espantar o frio. Comia com as mãos. Tinha 17 anos de idade.

Um dia a equipe de plantão abriu a porta de bom humor. Conduziram-me por dois corredores e colocaram-me em uma cela maior onde estavam três criminosos comuns, Caveirinha, Português e Nelson, incentivados ali mesmo a me usar como bem entendessem. Os três, porém, foram gentis e solidários comigo. Ofereceram-me logo um lençol, com o qual me cobri, passando a usá-lo nos dias seguintes como uma toga troncha de senador romano.

Oriundos de São Paulo, Caveirinha e Português disseram-me que "estavam pedidos" pelo delegado Sérgio Fleury, que provavelmente iria matá-los. Nelson, um mulato escuro, passava o tempo cantando Beatles, fingindo que sabia inglês e pedindo nossa opinião sobre suas caprichadas interpretações. Repetia uma ideia, pensando alto: "O Brasil não dá mais. Aqui só tem gente esperta. Quando sair dessa, vou para o Senegal. Vou ser rei do Senegal".

Voltei para a solitária alguns dias depois. Ainda não sabia que começava então um longo período que me levou ao limite.

Vegetei em silêncio, sem contato humano, vendo só quatro paredes -"sobrevivendo a mim mesmo como um fósforo frio", para lembrar Fernando Pessoa- durante três anos e meio, em diferentes quartéis, sem saber o que acontecia fora das celas. Até que, num fim de tarde, abriram a porta e colocaram-me em um camburão. Eu estava sendo transferido para fora da Vila Militar.
A caçamba do carro era dividida ao meio por uma chapa de ferro, de modo que duas pessoas podiam ser conduzidas sem que conseguissem se ver. A vedação, porém, não era completa. Por uma fresta de alguns centímetros, no canto inferior à minha direita, apareceram dedos que, pelo tato, percebi serem femininos.
Fiquei muito perturbado (preso vive de coisas pequenas). Há anos eu não via, muito menos tocava, uma mulher. Fui desembarcado em um dos presídios do complexo penitenciário de Bangu, para presos comuns, e colocado na galeria F, "de alta periculosia", como se dizia por lá. Havia 30 a 40 homens, sem superlotação, e três eram travestis, a Monique, a Neguinha e a Eva. Revivi o pesadelo de sofrer uma curra, mas, mais uma vez, nada ocorreu. Era Carnaval, e a direção do presídio, excepcionalmente, permitira a entrada de uma televisão para que os detentos pudessem assistir ao desfile.

Estavam todos ocupados, torcendo por suas escolas. Pude então, nessa noite, ter uma longa conversa com as lideranças do novo lugar: Sapo Lee, Sabichão, Neguinho Dois, Formigão, Ari dos Macacos (ou Ari Navalhada, por causa de uma imensa cicatriz que trazia no rosto) e Chinês. Quando o dia amanheceu éramos quase amigos, o que não impediu que, durante algum tempo, eu fosse submetido à tradicional série de "provas de fogo", situações armadas para testar a firmeza de cada novato.

Quando fui rebatizado, estava aceito. Passei a ser o Devagar. Aos poucos, aprendi a "língua de congo", o dialeto que os presos usam entre si para não serem entendidos pelos estranhos ao grupo.

Com a entrada de um novo diretor, mais liberal, consegui reativar as salas de aula do presídio para turmas de primeiro e de segundo grau. Além de dezenas de presos, de todas as galerias, guardas penitenciários e até o chefe de segurança se inscreveram para tentar um diploma do supletivo. Era o que eu faria, também: clandestino desde os 14 anos, preso desde os 17, já estava com 22 e não tinha o segundo grau. Tornei-me o professor de todas as matérias, mas faria as provas junto com eles.

Passei assim a maior parte dos quase dois anos que fiquei em Bangu. Nos intervalos das aulas, traduzia livros para mim mesmo, para aprender línguas, e escrevia petições para advogados dos presos ou cartas de amor que eles enviavam para namoradas reais, supostas ou apenas desejadas, algumas das quais presas no Talavera Bruce, ali ao lado. Quanto mais melosas, melhor.
Como não havia sido levado a julgamento, por causa da menoridade na época da prisão, não cumpria nenhuma pena específica. Por isso era mantido nesse confinamento semiclandestino, segregado dos demais presos políticos. Ignorava quanto tempo ainda permaneceria nessa situação.

Lembro-me com emoção -toda essa trajetória me emociona, a ponto de eu nunca tê-la compartilhado- do dia em que circulou a notícia de que eu seria transferido. Recebi dezenas de catataus, de todas as galerias, trazidos pelos próprios guardas. Catatau, em língua de congo, é uma espécie de bilhete de apresentação em que o signatário afiança a seus conhecidos que o portador é "sujeito-homem" e deve ser ajudado nos outros presídios por onde passar.

Alguns presos propuseram-se a organizar uma rebelião, temendo que a transferência fosse parte de um plano contra a minha vida. A essa altura, já haviam compreendido há muito quem eu era e o que era uma ditadura.

Eu os tranquilizei: na Frei Caneca, para onde iria, estavam os meus antigos companheiros de militância, que reencontraria tantos anos depois. Descumprindo o regulamento, os guardas permitiram que eu entrasse em todas as galerias para me despedir afetuosamente de alunos e amigos. O Devagar ia embora.

São Paulo, 1994. Eu estava na casa que servia para a produção dos programas de televisão da campanha de Lula. Com o Plano Real, Fernando Henrique passara à frente, dificultando e confundindo a nossa campanha.

Nesse contexto, deixei trabalho e família no Rio e me instalei na produtora de TV, dormindo em um sofá, para tentar ajudar. Lá pelas tantas, recebi um presente de grego: um grupo de apoiadores trouxe dos Estados Unidos um renomado marqueteiro, cujo nome esqueci. Lula gravava os programas, mais ou menos, duas vezes por semana, de modo que convivi com o americano durante alguns dias sem que ele houvesse ainda visto o candidato.

Dizia-me da importância do primeiro encontro, em que tentaria formatar a psicologia de Lula, saber o que lhe passava na alma, quem era ele, conhecer suas opiniões sobre o Brasil e o momento da campanha, para então propor uma estratégia. Para mim, nada disso fazia sentido, mas eu não queria tratá-lo mal. O primeiro encontro foi no refeitório, durante um almoço.

Na mesa, estávamos eu, o americano ao meu lado, Lula e o publicitário Paulo de Tarso em frente e, nas cabeceiras, Espinoza (segurança de Lula) e outro publicitário brasileiro que trabalhava conosco, cujo nome também esqueci. Lula puxou conversa: "Você esteve preso, não é Cesinha?" "Estive." "Quanto tempo?" "Alguns anos...", desconversei (raramente falo nesse assunto). Lula continuou: "Eu não aguentaria. Não vivo sem boceta".

Para comprovar essa afirmação, passou a narrar com fluência como havia tentado subjugar outro preso nos 30 dias em que ficara detido. Chamava-o de "menino do MEP", em referência a uma organização de esquerda que já deixou de existir. Ficara surpreso com a resistência do "menino", que frustrara a investida com cotoveladas e socos.

Foi um dos momentos mais kafkianos que vivi. Enquanto ouvia a narrativa do nosso candidato, eu relembrava as vezes em que poderia ter sido, digamos assim, o "menino do MEP" nas mãos de criminosos comuns considerados perigosos, condenados a penas longas, que, não obstante essas condições, sempre me respeitaram.

O marqueteiro americano me cutucava, impaciente, para que eu traduzisse o que Lula falava, dada a importância do primeiro encontro. Eu não sabia o que fazer. Não podia lhe dizer o que estava ouvindo. Depois do almoço, desconversei: Lula só havia dito generalidades sem importância. O americano achou que eu estava boicotando o seu trabalho. Ficou bravo e, felizmente, desapareceu.

Dias depois de ter retornado para a solitária, ainda na PE da Vila Militar, alguém empurrou por baixo da porta um exemplar do jornal "O Dia". A matéria da primeira página, com direito a manchete principal, anunciava que Caveirinha e Português haviam sido localizados no bairro do Rio Comprido por uma equipe do delegado Fleury e mortos depois de intensa perseguição e tiroteio. Consumara-se o assassinato que eles haviam antevisto.

Nelson, que amava os Beatles, não conseguiu ser o rei do Senegal: transferido para o presídio de Água Santa, liderou uma greve de fome contra os espancamentos de presos e perseverou nela até morrer de inanição, cerca de 60 dias depois. Seu pai, guarda penitenciário, servia naquela unidade.

Neguinho Dois também morreu na prisão. Sapo Lee foi transferido para a Ilha Grande; perdi sua pista quando o presídio de lá foi desativado. Chinês foi solto e conseguiu ser contratado por uma empreiteira que o enviaria para trabalhar em uma obra na Arábia, mas a empresa mudou os planos e o mandou para o Alasca. Na última vez que falei com ele, há mais de 20 anos, estava animado com a perspectiva do embarque: "Arábia ou Alasca, Devagar, é tudo as mesmas Alemanhas!" Ele quis ir embora para escapar do destino de seu melhor amigo, o Sabichão, que também havia sido solto, novamente preso e dessa vez assassinado. Não sei o que aconteceu com o Formigão e o Ari Navalhada.

A todos, autênticos filhos do Brasil, tão castigados, presto homenagem, estejam onde estiverem, mortos ou vivos, pela maneira como trataram um jovem branco de classe média, na casa dos 20 anos, que lhes esteve ao alcance das mãos. Eu nunca soube quem é o "menino do MEP". Suponho que esteja vivo, pois a organização era formada por gente com o meu perfil. Nossa sobrevida, em geral, é bem maior do que a dos pobres e pretos.

O homem que me disse que o atacou é hoje presidente da República. É conciliador e, dizem, faz um bom governo. Ganhou projeção internacional. Afastei-me dele depois daquela conversa na produtora de televisão, mas desejo-lhe sorte, pelo bem do nosso país. Espero que tenha melhorado com o passar dos anos.

Mesmo assim, não pretendo assistir a "O Filho do Brasil", que exala o mau cheiro das mistificações. Li nos jornais que o filme mostra cenas dos 30 dias em que Lula esteve detido e lembrei das passagens que registrei neste texto, que está além da política. Não pretende acusar, rotular ou julgar, mas refletir sobre a complexidade da condição humana, justamente o que um filme assim, a serviço do culto à personalidade, tenta esconder.

CÉSAR BENJAMIN, 55, militou no movimento estudantil secundarista em 1968 e passou para a clandestinidade depois da decretação do Ato Institucional nº 5, em 13 de dezembro desse ano, juntando-se à resistência armada ao regime militar. Foi preso em meados de 1971, com 17 anos, e expulso do país no final de 1976. Retornou em 1978. Ajudou a fundar o PT, do qual se desfiliou em 1995.
Em 2006 foi candidato a vice-presidente na chapa liderada pela senadora Heloísa Helena, do PSOL, do qual também se desfiliou. Trabalhou na Fundação Getulio Vargas, na Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, na Prefeitura do Rio de Janeiro e na Editora Nova Fronteira. É editor da Editora Contraponto e colunista da Folha.

Fase Dois: Ombudsman da Folha critica artigo do "menino do MEP"
Da Redação

O ombudsman da Folha de S. Paulo, Carlos Eduardo Lins da Silva, em sua coluna dominical (29/11), criticou o artigo “Os filhos do Brasil”, do colunista César Benjamin. “O ideal seria a apuração factual dos eventos relatados e os argumentos contraditórios saírem com o artigo”, afirmou.

O artigo, publicado na última sexta-feira (27/11), diz que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em conversa durante uma reunião de campanha em 1994, teria dito que “havia tentado subjugar outro preso nos 30 dias em que ficara detido. Chamava-o de ‘menino do MEP’, em referência a uma organização de esquerda que já deixou de existir”.

A publicação do artigo causou repercussão entre os leitores. Alguns consideraram absurda a suposta atitude do presidente, outros, a atitude da Folha. "Emocionante o artigo de César Benjamin. Desnudou outro lado do presidente Lula, desconhecido para muitos", escreveu um leitor. "Sou leitor e assinante da Folha desde 1973. Será difícil modificar um hábito prazeroso de 36 anos, mas esse jornal não mais entrará em minha casa enquanto não se desculpar por ter publicado o artigo ignóbil de César Benjamin", escreveu outro.

Assim como recomendou o ombudsman, a equipe da Folha apurou e publicou, no sábado (28/11), as versões de outras pessoas que, de acordo com Benjamin, também estavam presentes na reunião.

Envolvidos negam teor de conversa

O publicitário Paulo de Tarso da Cunha Santos, citado pelo articulista, afirma que a reunião realmente aconteceu, mas não se recorda da presença de Benjamin no almoço, assim como nega qualquer menção sobre os temas tratados no artigo.

“Não compreendo qual a intenção do articulista em narrar os fatos como narrou (como disse, sequer me lembro de sua presença na mesa)”, afirmou Tarso, em nota divulgada para a imprensa.

A reportagem da Folha também procurou o ex-chefe do Gabinete Regional da Presidência da República em São Paulo José Carlos Espinoza, outro citado no artigo e que também negou o episódio.

“Nunca ouvi nada disso. Estou completamente perplexo, não me lembro desse americano, quanto mais da conversa com Lula", afirmou Espinoza.

Colegas de cela negam história

A Veja localizou João Batista dos Santos, que seria o “menino do MEP”. Ele foi identificado após a reportagem da revista entrevistar cinco pessoas que dividiram cela com Lula. Todos negaram a história contada por Benjamin e indicaram Santos como sendo um militante do MEP que estava preso. Procurado, Santos também negou.

“Isso tudo é um mar de lama. Não vou falar com a imprensa. Quem fez a acusação que a comprove”, disse Santos.

Governo critica a Folha

O governo tratou o artigo como uma “loucura” e atacou a Folha. De acordo com o chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho, o artigo é “coisa de psicopata”.
“Nos estranha muito a Folha ter publicado isso. É coisa de psicopata, para nós, é uma coisa que só pode ser explicada como psicopatia”, afirmou.
O ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, também criticou o jornal. “(O artigo é) um lixo, um nojo, de quem escreveu e de quem publicou”.

Para o ministro da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, a “Folha passou completamente do limite”.

“Não tem o menor sentido fazer uma matéria desta. É um negócio que não tem a menor veracidade. Usar uma palavra ou outra de baixo calão, vá lá, agora uma história de, ‘ah, um menino do MEP’, é uma coisa nojenta”, afirmou.

Fase Três: O Jornalismo irresponsável, Luis Nassif (*)

Watergate tinha dois repórteres espertos – Bob Woodward e Carl Bernstein – e um editor memorável – Ben Bradlee – que filtrava todas as informações e só permitia a publicação daquelas confirmadas por pelo menos três fontes.
Até hoje Bradlee é um dos símbolos do bom jornalismo e exemplo para jornalistas de todas as partes do mundo. O caso Watergate foi citado pelo comentarista Ronaldo Bicalho e ressalta a importância da apuração jornalística.

O escândalo divulgado pela Folha na sexta-feira – um artigo de um dissidente do PT, César Benjamin – acusando Lula de ter currado um militante do MEP no período em que esteve preso no DOPS, é um dos mais deploráveis episódios da história da imprensa brasileira. E mostra a falta que fazem pessoas da envergadura de Bradlee.

Qualquer acusação, contra qualquer pessoa, exige discernimento, apuração. Quando o jornal publica uma acusação está avalizando-a.

Quando a acusação é gravíssima e atinge o Presidente da República – seja ele Sarney, Itamar, FHC ou Lula – o cuidado deve ser triplicado, porque aí não se trata apenas da pessoa mas da instituição. Qualquer acusação grave contra um Presidente repercute internacionalmente, afeta a imagem do país como um todo. Se for verdadeira, pau na máquina. Se for falsa, não há o que conserte os estragos produzidos pela falsificação.
A acusação é inverossímil.
Na sexta conversei com o delegado Armando Panichi Filho, um dos dois incumbidos de vigiar Lula na cadeia. Ele foi taxativo: não só não aconteceu como seria impossível que tivesse acontecido.

Lula estava na cela com duas ou três presos. A cela ficava em um corredor, com as demais celas. O que acontecesse em uma era facilmente percebida nas outras.

Havia plantão de carcereiros 24 horas por dia. E jornalistas acompanhando diariamente a prisão.
Não havia condições de nenhum fato estranho ter passado despercebido. Panichi jamais ouviu algo dos carcereiros, dos presos, dos jornalistas e do delegado Romeu Tuma, seu chefe.

Benjamin não diz que Lula cometeu o ato. Diz que ouviu o relato de Lula em 1994, em um encontro que manteve em Brasília com um marqueteiro americano, contratado pela campanha, mais o publicitário Paulo de Tarso Santos e outras testemunhas.

Conversei com Paulo de Tarso – que já fez campanha para FHC, Lula – que lembra do episódio do americano mas nega que qualquer assunto semelhante tivesse sido ventilado, mesmo a título de piada. E nem se recorda da presença de Benjamin no almoço.

E aí se chega à questão central: com tais dados, jamais Ben Bradlee teria permitido que semelhante acusação saísse no Washington Post.

Antes disso, colocaria repórteres para ouvir as tais testemunhas, checaria as informações com outras fontes, conversaria com testemunhas da prisão de Lula na época. Praticaria, enfim, o exercício do jornalismo com responsabilidade.

A Folha não seguiu cuidados comezinhos de bom jornalismo. Não apenas ela perde com o episódio, mas o jornalismo como um todo.

É importante que leitores entendam: isso não é jornalismo. É uma modalidade especial de deturpação da notícia que os verdadeiros jornalistas não endossam.
(*) Colunista do iG

Fase Quatro: A opinião febril de um interno

Luis Nassif é um jornalista. Bom jornalista e bom de bandolim. Por isso faço aqui uma das minhas populares microsínteses e desta vez o alvo é a coluna do Nassif do Portal IG. Assim sendo vamos ao que interessa.
Nassif diz que Watergate tinha dois repórteres espertos – Bob Woodward e Carl Bernstein – e um editor memorável – Ben Bradlee – que filtrava todas as informações e só permitia a publicação daquelas confirmadas por pelo menos três fontes.

E diz mais: Até hoje Bradlee é um dos símbolos do bom jornalismo e exemplo para jornalistas de todas as partes do mundo. Qualquer acusação, contra qualquer pessoa, exige discernimento, apuração. Quando o jornal publica uma acusação está avalizando-a.

O dissidente do PT César Benjamim escreve em artigo publicado pela Folha de S.Paulo na sexta-feira, 27/11, que em 1994 Lula relatou em conversa a “ tentativa de subjugar outro preso nos 30 dias em que ficara detido. Chamava-o de ‘menino do MEP”. Eu li.

A organização de esquerda MEP não existe mais. Nassif escreveu que César Benjamin acusou Lula “...de ter currado um militante do MEP no período em que esteve preso no DOPS”. Isto eu não li. Lá pelo meio de seu comentário Nassif escreve que Benjamin não diz que Lula cometeu o ato. Se não disse então por que está escrito que disse? Eu hein!....

Concordo com Nassif quando ele diz que quando se acusa um Presidente da República a instituição País é atingida internacionalmente, como um todo. Se a acusação for mentirosa é pior a emenda do que o soneto. Eu sei, tu sabes, ele sabe... Nós sabemos.

Como repórter que eventualmente usa gravata e interno bem comportado da Ala dos Marcha Lenta tento manter-me consciente da importância e a força dos meios de comunicação quando disparo meus foguetes. Nem sempre o que é assinado tem a força da verdade. Opinião até anônimo tem. E como tem.

Como notícia ruim viaja com velocidade supersônica cá estou eu sob interrogatório com os poucos italianos com que converso, brasileiros que aqui vivem há anos, garçons e garçonetes do restaurante onde almoço quase diariamente.

Como se não bastasse, enfrento a repercussão das inúmeras entrevistas dos “viados brasilianos” amigos de Brenda – “China”, “Natali”, “Michele” – nas TVs e nas páginas policiais dos principais jornais italianos, sem falar nos tablóides. Eu não mereço... (Carlos Eduardo Behrensdorf, de Roma).