O medo

TENHA MEDO DO QUE O GOVERNO PODE FAZER COM VOCÊ. NO BRASIL GOVERNAR É SATISFAZER NECESSIDADES FISIOLÓGICAS.

31 de dez. de 2009

A Casta dos Supostos

Notável esse conceito de "amplo direito de defesa" que corre frouxo e desgarrado pelo Brasil. Serve para de tudo um pouco: livrar a cara de corruptos, corruptores, pedófilos, seguranças, ladrões, políticos, lavadores de dinheiro, loteadores do céu, sanguessugas, vampiros, ministros, governantes, presidentes...

Só não vale para quem vende passarinho: é crime hediondo. Nem serve para quem furta pasta de dente nas gôndolas de supermercados: é coisa de pobre que "tá na merda" - como diz Mestre Lula aos seus apóstolos.

Dói ver a imprensa tratar assassinos frios, criminosos cruéis e quase tão desalmados quanto a absoluta maioria de deputados, senadores e seus padrinhos, como "supostos" criminosos.

Daniel Dantas é "suposto"; Cesare Battisti é "suposto"; Agaciel Maia é "suposto"; Zé Dirceu e seus 40 mensaleiros, são "supostos"; Orlando Silva é "suposto" comprador de tapioca; Renan já foi "suposto", não é mais; Sarney e sua famiglia, são "supostos"; Beira-Collor é - como diria Aracy de Almeida - um suposto aquele que não resta menor dúvida; Jader Barbalho, de quem Lula beijou a mão, nunca foi "suposto"...

Então, esse segurança que matou o jovem diretor do grupo empresarial Europa na porta da padaria, tem todo o direito de ser chamado como "suposto" matador. E é assim que as manchetes o têm tratado.

Veja só o que esse conceito errôneo que serve, inclusive, para permitir que políticos com "ficha suja" sejam candidatos, faz com a consciência da nossa sociedade; veja o que esse "suposto" - parente consangüinolento da salvaguarda "salvo honrosas excessões" - faz com o nosso suposto inconsciente coletivo.

Leia parte da matéria, justamente onde o caso é contado, no texto do repórter Ricardo Pieralini - iG São Paulo:

Na madrugada de domingo passado, o empresário chegou à padaria Dona Deôla, em Higienópolis, acompanhado pela irmã. Ela teria discutido com o funcionário na semana passada. O empresário procurou a gerência da padaria para saber quais providências haviam sido tomadas após o ocorrido e, em seguida, começou a discutir com o funcionário.

Estudante de 20 anos, Natália se preparava para ir embora da padaria quando soube, segundo versão de testemunhas, por uma funcionária, que o homem com quem o empresário brigava portava uma faca. Ao perguntar para este homem onde estava seu irmão, ele apontou para o empresário, que estava caído e sangrando.

Levado ao Hospital Samaritano, ele não resistiu. O funcionário fugiu do local e se entregou à polícia na noite de quarta-feira. Dácio Múcio de Souza Júnior era filho do empresário Dácio Múcio de Souza, fundador e presidente do grupo Europa, empresa fabricante de purificadores de água.

RODAPÉ - Somos todos reféns burros e amordaçados; algemados pelo jogo de cintura dos que sabem burlar a lei. Dói na alma ter que chamar de "supostos" os membros virís e erectos dessa pandilha de sevandijas. Mas assim é e assim será, enquanto os Poderes constituídos estiverem a serviço dessa laia. Laia, não; casta imune e impune. E ai de você que não se proteja covardemente sob a capa do vocábulo "suposto". Será imediatamente processado por injúria, calúnia, difamação. Com direito a ressarcimento por danos materiais. Que é o que eles mais gostam. E é disso também que eles vivem.