UM INSTITUTO NA CADEIA
Eu tive uma vizinha que o subconsciente falava por ela. Falava em voz alta. Nos momentos mais inusitados e inoportunos. Se não gostava da maquiagem de uma vizinha, dizia em voz alta: - Quanto mais se pinta, mais feia a Margarida fica.
Se discordava da opinião de um amiga a respeito do filme que ambas assistiram, ela murmurava em tom mais do que audível: - Como é burra, essa criatura.
E ia falando sozinha, com as paredes, com a cômoda, com a chave de luz; falava sozinha assim pelos corredores da casa, pelas calçadas, na padaria, onde quer que fosse. Ganhou a fama de pancadona, ao invés de ser tida como honesta e franca.
Mas uma coisa eu lhes digo, ela nunca falou com um instituto, na vida. É que, naquele tempo, não havia o Instituto Lula. Se existisse, decerto ela teria pelo menos respondido às invocações e provocações que essa entidade se acostumou a espalhar por aí. E a minha vizinha seria, como sempre, honesta e franca:
- Esse instituto tá pancadão da cabeça. É um baita mentiroso. Não merece confiança nenhuma. Já tinha que ter uma sala na Papuda há muito tempo.