NÃO FIQUE PARADO, MEXA-SE!
Mas com essa gente, nunca se sabe.
Não, não é que a gente não acredite mais nos mecanismos oficiais de defesa da cidadania. Não, não é que não se possa confiar mais nos organismos governamentais de garantia da democracia... É que eles não nos permitem acreditar. É que eles fizeram de tudo e mais um pouco para perder a própria credibilidade.
Com os instrumentos de poder enquadrados na letra fria da Constituição de 88, desde as Diretas-Já que eles se deixaram aparelhar e se transformaram em ferramentas de tortura e de distorções cotidianas de todos os princípios democráticos.
Não, não se espante. Tortura não é só puxão de orelha; não é só cortar dedo mindinho, ou ter um fuzil na cara... Isso é tortura explícita e emburrecida.
Tortura é também a mentira, a dissimulação, a sonegação, a manipulação, o uso embrutecido da corrupção, a sonegação, a omissão de informações, a propaganda enganosa, as interpretações distorcidas e oportunistas; tortura é o uso e abuso da lei ao amparo da lei.
Esses instrumentos nas mãos dos senhores de gabinete são ferramentas de tortura, de dominação; são armas tão macabras quanto poderosas de ditadores disfarçados de autoridades que, enfurnadas em suas salas, decidem intramuros qual é a democracia que nos serve como carapuça.
Esses senhores de aneis, fechados em em suas salas de tribunais, de conselhos administrativos, de diretorias de estatais, de sindicatos pelegos, de ONGs de fachada, de institutos de palestras e agenciamentos, de plenários legislativos, de quintais de partidos políticos, de salas de ministérios e corredores de palácios, torturam, alienam, não matam nem mandam matar - mas de vez em quando eles mentem.
São eles que, em nome da democracia de grupo, nos roubam - muito mais que arrombam e deixam arrombar as burras públicas - nos roubam a esperança e a alegria de viver.
Diante disso, o brasileiro cumpridor da lei e da ordem, as pessoas de boa índole, se permitem o direito de indignar-se. E, graças às redes sociais, até saem às ruas e apitam e batem panela...
E, de repente, se sentem como o cachorro que corre atrás da bicicleta. E estanca atônito e sem saber o que fazer, quando a bicicleta para. Já usei esta imagem antes, mas é o que é; é nisso que esses donos dos podres poderes nos transformaram. Cão que ladra não morde. Uma lástima, pois deveria morder os que ladram como gente grande.
Fico assim, diante dessa democracia de grupelhos, como se tivesse raiva. E até me vejo capaz de morder uns que outros desses ladralhões da democracia que desejamos ter, desde 1985, quando Zé Sarney foi feito presidente e deu início à redemocratização do nosso país.
Foi aí que começou o grande desfalque, o grande golpe da ditabranda que nos transforma em guaipecas lá no Sul e em vira-latas pelo Brasil afora. Tá bom pra eles que sejam os ciclistas e nós os cães que latem e se calam e se petrificam quando eles param e nos encaram.
Cansei de falar de flores. A gente agora tem que ir além do horizonte limitado àquela bicicleta parada logo ali adiante...
Já saímos às ruas, já apitamos, buzinamos, panelamos e agora estamos aqui, parados, prontos para apenas ver o que acontece.
Sei lá, tenho ideias quase boas se não fossem logicamente malucas. Então, inda que mal pergunte: o Movimento dos Sem Teto, não invade propriedades alhures quando lhes dá na telha?
O Exército de Stédile, não invade terras e fazendas e até ministérios, quando acha que precisa ajudar o governo, ou ao candidato a ser governo?
Os pelegos das centrais sindicais domesticadas não fazem greve, quando bem resolvem? Qualquer 50 ou 60 grevistas não interrompem estradas, não param o trânsito nos maiores centros urbanos?
Os 11 ministros do Supremo não se reúnem e decidem tudo por nós, como eles acham que deve ser? Os deputados e senadores não usam à toda hora o nosso santo nome em vão? O Lula não manda a Dilma baixar medidas provisórias que ficam para sempre?
Então, você aí meu indignado paradão, pense nisso... Ou será que está bem pra você o aumento da luz, da gasolina, do pedágio na estrada, do pão, do leite, do feijão e do arroz, da prestação do carro, dos juros bancários? Tá bom pra você eles roubarem e deixarem roubar?
Não tá, não?... Forme o grupo aí do seu condomínio, da sua rua e vá até o balcão da agência bancária e diga o que você está pensando. Faça o mesmo dentro dos gabinetes de secretários municipais, de prefeituras, de palácios de governo, de barras de tribunais...
Abra com sua turma de amigos descontentes e indignados, as portas dos ministérios; visitem a Casa Civil, subam a rampa do Congresso, do Palácio do Planalto... E depois, sem dispender um desforço físico sequer, na mais santa paz dos que têm direitos e obrigações, voltem para casa com a sensação do dever cumprido.
Você vai ver que a bicicleta já se mandou dali há muito tempo. Mas, não se dê por satisfeito e nem se julgue só por isso um vencedor: pode ser que ela tenha sido roubada. Com essa pandilha de sevandijas, nunca se sabe. Eles sempre aproveitam a ocasião.
RODAPÉ - Toda vez que falo com minha irmã mais velha é nisso que dá. Não adianta eu lhe dizer que no créo en brujas... Ela me faz ver que las hay, hay!