DO CONE SUL DO MUNDO
Quando, em 2002, assim que subiu a rampa do Palácio do Planalto e iniciou o Ciclo do PT no Poder, Lula prometeu implantar a "estratégia de coalizão pela governabilidade", ele não estava brincando.
Estava então deixando de ruminar uma das mais sórdidas transformações morais que uma sociedade dos tempos modernos poderia sofrer.
O Brasil foi gradativamente se transformando num imenso "segundo templo", num enorme Templo de Herodes do Cone Sul do Mundo. E, pelo talento maléfico e obstinado de seu mentor, os políticos brasileiros se transfiguraram - salvo raríssimas exceções - em animais sociais, cambistas de consciências, mercadores de almas, chantagistas, corruptos passivos e ativos.
O Brasil se transformou numa "cova de ladrões" e o crime, mais que sistemático e organizado, se fez governo, se fez Estado.
Em nome da democracia de gabinete - aquela que pertence a grupos de dominação que tudo podem e tudo resolvem em nome de uma nação de mais de 200 milhões de pessoas de boa fé - instalaram o regime da Grande Desordem.
Agora mesmo, um de seus gabinetes mais poderosos e intocáveis, o Supremo Tribunal do Governo Federal, tirou o caso Gleisi Hoffmann da Vara de Sérgio Moro e colocou a Barbie do Senado no colo republicano de Dias Toffoli - o que não precisou de notório saber jurídico para ser o Poncio Pilatos dessa corte aparelhada e dominada por neo-fariseus.
Os que tudo podem e tudo decidem, sem que antes consultem o povo, acabam de cortar, em nome da justiça desse mesmo povo, um bom pedaço da carne da força-tarefa da Operação Lava Jato.
Foi a estocada inicial que pode desencadear a morte da fase que trata dos políticos e de todos os malfeitores que arrombaram os cofres dessa nação, em outras fontes e artérias que não sejam da Petrobras.
Com os sinais metastáticos de jurisprudência, agora os arrombadores de cofres de outras minas de ouro nacionais que não sejam a dadivosa Petrobras, podem estar se livrando das malhas da Operação Lava Jato, o maior patrimônio de moral e justiça que o Brasil tem hoje.
A Operação Lava Jato é boa demais para tratar de ladrões e arrombadores que não tenham deixado nenhuma pista de que roubaram ou deixaram roubar na Petrobras. Outros tribunais cuidarão dos que arrombaram outros cofres desse país.
O corte de precisão cirúrgica na pele da Lava Jato, no entanto, não atinge as veias por onde corre e sangra o Petrolão, paraíso que hoje é, mais que purgatório, a porta do inferno de uma das maiores quadrilhas que um país gigantesco, de dimensões continentais como o Brasil já pôde suportar. Os que roubaram da Petrobras e seus organismos derivados, continuarão sob os cuidados da Lava Jato.
Tenho para mim, com as forças que a esperança me contempla nas horas mais agudas da existência que, golpeada e agredida em suas entranhas, a Operação Lava Jato vai agora encurtar o tempo e o caminho que deixa à mostra as digitais, os vestígios, as cicatrizes do grande mentor desse desregro, desse descalabro moral que transformou o Brasil nesse triste e incomensurável templo de vendilhões.
RODAPÉ - O mal que esses focos de dominação democrática causam a um povo, a um país, a uma nação é roubar e matar sua esperança. Esses blocos de poder cego e supremo não representam a Justiça. São justiceiros da esperança; são milícias do desencanto.
RODAPÉ - O mal que esses focos de dominação democrática causam a um povo, a um país, a uma nação é roubar e matar sua esperança. Esses blocos de poder cego e supremo não representam a Justiça. São justiceiros da esperança; são milícias do desencanto.