DEMOCRACIA DE GABINETE
Agora quem está decidindo se o brasileiro pode ou não pode andar com maconha no bolso, ou na boca; na rua, na escola, na fazenda ou numa casinha de sapê é o Supremo Tribunal Federal. Mais uma vez são 11 homens e uma sentença.
São 11 luminares que decidem o que é bom pra cuca ou para os pulmões de 200 milhões de pessoas nesse país. A isso é que se chama democracia de gabinete.
Ah, mas é isso que diz e manda a Constituição - dirão os puristas nacionais.
Dirão e nos convencerão que devemos sim, nos curvar diante do notório saber e do pleno poder desses 11 doutos prolixos encapados de togas intocáveis e de punhos rendados. Só que não. A mim, não. Eles não me representam.
É que, pelos descaminhos dessa tal democracia de gabinete, eles chegaram lá por que foram ungidos, escolhidos a dedo por uma presidente ou uma president@ a quem, amanhã ou depois estarão julgando por malfeitos e coisas e loisas que não deveriam ter feito.
Chegaram lá, sem concurso público. Chegaram lá por um tal de notório saber jurídico, parâmetro estabelecido ao gosto e ao prazer de quem os escolheu para definir destinos nessa democracia bandalha e cheia de arte, de manha, de artimanha.
Isso de decidir sobre o porte de maconha ou pequenas porções de pó para "uso e consumo próprio" é só um gancho que aproveito para mostrar que é a isso que se chama de democracia de gabinete.
Amanhã ou depois, eles decidirão que Lula - malgrado 200 milhões de brasileiros discordem - não sabe de nada, não viu nada, não fez nada; que Dilma Vana - malgrado 200 milhões de brasileiros achem que não - deve continuar presidindo o país do jeito que não preside o Brasil desde que subiu a rampa em janeiro de 2003 e pegou a faixa que nunca mais devolveu ao próprio Lula, seu criador.
Isso é que é democracia de gabinete. Quer dizer, um pequeno bocado dessa democracia para "uso e consumo próprio".
Isso é só uma amostra grátis do que é ditado ao povo intramuros, ou dentro de um gabinete mais amplo como o plenário constituído por 513 deputados, ou 81 senadores, escolhidos em pleitos patrocinados por propinas colhidas pelos partidos políticos em gabinetes de deslavada promiscuidade com gangsteres que se disfarçam de doadores de campanha.
Não há doador que não cobre com juros e correção monetária a recompensa pela sua porca e descarada cumplicidade. Isso é democracia de gabinete. Mas pode chamar de democracia prostituída que ninguém se ofende. Não se ofende, mas continua dizendo que nos representa.