O NOIVO DEU O BOLO
Eu nem queria falar sobre isso. É só mais do mesmo. Ademais que nesse Brasil da Silva, nessa República dos Calamares tudo cabe sem que nada mais surpreenda pela capacidade de gozo que a largueza do buraco sem fundo dessa nação possa suportar.
Esse pedido feito pelo delegado Josélio de Souza ao STF para ouvir Lula da Silva, só surpreende porque Lula é um brasileiro tão lheguelhé quanto qualquer um de nós que não temos foro especial.
Pior do que muitos de nós outros brasileiros comuns, Lula não tem direito sequer a cadeia especial, posto que seus títulos de doutor honóris causa não vêm ao caso, se acaso ele for em cana por justa, justíssima causa.
Mas logo a gente canta para o mal que nos espanta: é que o inquérito em que Lula está enrolado e agora quase arrolado investiga parlamentares e políticos em pleno gozo de seus mandatos. Isso lhes dá direito a foro privilegiado pela chamada prerrogativa de função.
Não é que Lula não pudesse, ou não devesse, ser ouvido na instância da Vara do juiz Sérgio Moro, mas é que o zeloso delegado Josélio não quis bancar o anjo perseguidor e encontrou alguns sintomas de contaminação entre os malfeitores com vantagens especiais e o até agora inocente Luiz Inácio Lula da Silva.
O delegado Josélio não precisava ser tão desvelado e melindroso a ponto de jogar esse arremedo de zoón politikon, esse safo e escorredio animal social, no colo dos doutos julgadores da Corte de Lewandowski. Josélio foi melífluo: quase que confia em Lula desconfiando de Lula.
O delegado diz no pedido que não há evidência do envolvimento direto de Lula no escândalo do Petrolão, mas julga necessário saber se, afinal, ele acabou ou não "obtendo vantagens para si, para seu partido, o PT, ou até mesmo para o seu governo, com uma base de apoio partidário sustentada por negócios ilícitos".
Bolas, desse jeito, o delegado perdeu uma boa chance de ser poeta como o Pelé, quando se cala. Jogou Lula numa corte que pode, muito bem, dizer que não tem nada com isso; que a barra daquele tribunal não é a praia de um desprivilegiado.
Isso então ficou parecendo um bolo de casamento. O noivo deu o bolo. A noiva ficou esperando no altar e o casamento não saiu. Vai ser preciso editar novos proclamas para que as núpcias se realizem numa outra igreja, com um outro juiz de boa paz e numa outra paróquia.