O medo

TENHA MEDO DO QUE O GOVERNO PODE FAZER COM VOCÊ. NO BRASIL GOVERNAR É SATISFAZER NECESSIDADES FISIOLÓGICAS.

31 de ago. de 2015

O QUE FAZER AGORA? 
MULTIPLICAR A REDE

Depois de sair às ruas cheio de indignação, de sofrer a safadeza de uma perdulária Copa do Mundo, de engolir uma eleição suspeita na hora da apuração, de atravessar o Mensalão, assistir ao Petrolão, pressentir que, antes dos estrabulegas Jogos Olímpicos mais duzentos escândalos ainda estão por vir, o brasileiro está atônito diante de uma democracia de gabinete.

Atônito e ainda indignado diante dessa democracia enjambrada que só lhe permite mesmo é torcer pelo prosseguimento da Operação lava Jato, temeroso de que nada mais lhe reste da esperança de viver num Brasil honesto e sem desigualdades sociais.

VIRA-LATA

O brasileiro nunca teve tão aguçado nem tão flagrante complexo de vira-lata como agora. Ele se parece com o cão que corre e ladra atrás da bicicleta e que, quando o ciclista para, o cachorro fica estático e mudo, sem saber o que fazer.

Pois, o brasileiro saiu às ruas, gritou, panelou, apitou, buzinou, virou e mexeu, cutucou e foi cutucado... E assim como chamou a atenção, agora está paralisado; atônito, desorientado, sem saber direito e nem bem o que fazer depois de tanto agito.

Então, inda que mal pergunte, o que fazer daqui pra frente: esperar pelos líderes das redes sociais que já estão querendo virar políticos profissionais também; que já estão querendo "nos representar" lá nos mesmo lugares onde se encontram aqueles que queremos tirar de lá?

Ora, eles vão acabar ocupando os lugares daqueles que hoje lá se encontram. E qual é a garantia que temos de que não estaremos trocando seis por meia dúzia; alhos por bugalhos?

Deixem que eu me atreva um pouco a lhes dizer que essas saídas retumbantes e entusiasmadas às ruas, nos mostraram que a nossa democracia é uma falácia.

Que o poder não emana do povo, coisa nenhuma; que o poder não é exercido em nome do povo, mas é feito usando o nome do povo e que, muito menos, esse poder não é devolvido ao povo.

Essas saídas às ruas foram ótimas e não podem parar, como se a gente fosse o cão que ladra e não morde, porque não sabe que pode morder pois não se dá conta de que o ciclista parou pela incomodação que seu ladrido lhe provocava e também pelo medo de ser mordido.

MEU CORAÇÃO PALPITA

O que fazer então agora, diante dessa democracia de gabinete paralisada e acuada? Ah, meu coração palpita. Então vou palpitar: sigamos o boneco pixuleco. Sejamos, cada um de nós, a encarnação e a síntese do que desejamos que aconteça com esses democratas que se apropriaram dos gabinetes que mandam nos poderes constituídos.

Antes de abandonar as redes sociais, multipliquemo-nos em dezenas, centenas, milhares de comitês de desfiles não pelas ruas, mas por dentro dos gabinetes que eles ocupam e que nossos impostos garantem o habite-se.

Por que as manifestações de desagrado, de indignação, de reivindicação têm que ser sempre e só nas ruas? Por que não desfilar, protestar, cutucar direto diante das mesas daqueles que nos enganam, que enganam o povo com a autoridade de que representam o povo e em nome do povo exercem o poder de moldar essa democracia de gabinetes, um dos mais duros regimes de dominação de um país.

Essa democracia que se gaba de "deixar" o povo exercer o direito de protestar e de se expressar; essa democracia que se dá por satisfeita e se acha magnânima porque nos dá o direito-obrigação de votar, é uma das mais cretinas formas de ditadura sem violência aparente, um dos mais cínicos e duros regimes de tirania simpática e pacifista.

E assim ela será, enquanto estivermos atônitos, sem saber porque paramos; assim ela será enquanto eles se sentirem seguros porque o jeitinho brasileiro é bom para eles, os que se apropriaram dessa República de pura e escrachada hipocrisia.

Vejam que, quando algo não serve aos seus desígnios, eles prendem e arrebentam; apunhalam-se uns aos outros pelas costas; esfaqueiam até o Boneco Pixuleco, a síntese mais forte que apareceu nos últimos dias daquilo que o país espera que aconteça com o dono desse plano de poder e com todos os seus asseclas.

COMITÊS DE GABINETES

Pensem nisso: sem abandonar as redes sociais em que acreditam, sem deixar de sair em bloco às ruas, multipliquem-se em comitês pacíficos de manifestações nos gabinetes dessa democratura.

Comecem avaliando cuidadosamente cada gabinete que esteja ocupado por um desses reconhecidos rufiões da coisa pública. A tarefa inicial não é difícil. Eu mesmo poderia sugerir algumas dezenas de nomes de proa. São tão manjados...

Seguidamente estão nas páginas políticas como se estivessem nos cadernos policiais. Uns corrompem, outros são corrompidos, e tem outros tantos que são gilete - cortam dos dois lados. Comecem por eles.

O JOIO DO TRIGO

A gente dá de cara com eles o tempo todo: nos balcões da Previdência Social; nos hospitais e postos do Sistema Único de Saúde; nos corredores do transporte urbano; nas salas de comando das forças de segurança. Eles estão nos prédios monumentais do Executivo, do Legislativo, do Judiciário.

Eles estão nas empresas estatais, nos gabinetões que decidem o aumento do gás, da água, da luz, do telefone, do combustível.

São eles que ditam o custo de vida, os impostos que devemos pagar; são eles que fazem as leis que devemos cumprir; são eles que decidem sobre o nosso direito de ir e vir; que terceirizam estradas e implantam pedágios... É só começarmos a separar o joio do trigo.

Mas todo cuidado é pouco, a gente vai estar desfilando com essa rede social polivalente, ainda que com os espíritos desarmados, dentro, afinal, bem dentro dessa democracia de gabinetes: é bom saber que vamos estar diante dos agentes da maior malha do crime organizado que já se infiltrou na estrutura estatal de uma nação que se diz democrática nessa redonda face do planeta Terra.