JÁ PASSOU AQUI NO BRASIL
Não me sai da cabeça aquele desaforo da Dilma Sapiens, com a boca cheia de dois dentes enormes, dizendo para o povo brasileiro que "ninguém me tira a legitimidade que o voto me deu". Eu sabia que já tinha ouvido qualquer coisa parecida; que já tinha visto esse filme. E então me dei conta de que foi há 23 anos, no Brasil dos tempos de Collor.
Fernandinho Beira-Collor disse a mesma coisa sobre os votos que o tinham feito presidente da República: "Meu mandato tem a legitimidade do voto". Pois é, tinha. Mas não tinha mais popularidade, credibilidade, autoridade e nem condições de governabilidade. E deu-se então que, em dezembro de 1992, elle saiu pela porta dos fundos do Palácio do Planalto.
Atingido por denúncias de corrupção, Fernandinho Beira-Collor caiu do galho por pegar carona numa propina com o feitio de uma Fiat Elba.
ERA UMA VEZ...
Deixem que eu lhes conte outra vez:
Era uma vez... Na cidade de Pelotas - a minha pátria pequena que deixei lá no Sul, bem nos tempos que começaram com Sarney e chegaram ao primeiro e segundo governos de FHC.
Eu tinha um projeto instigantemente chamado de "O 4° Poder", um pacote jornalístico que consistia em ter, por onde quer que eu vivesse ou andasse, um programa de rádio, uma página de jornal e um programa de entrevistas na TV. Todos eles eram editados diariamente. De segundas a sextas-feiras que ninguém é de ferro.
No rádio, o programa começou com o título de "Companhia da Notícia" e logo adotou o nome do projeto - 4° Poder; no jornal, a página se chamava Zoón Politikon - o Animal Social; na TV, atendia pelo chamamento de "Estado de Praça". Isso foi de 1985 a 1997, quando me aposentei com o equivalente a dez salários mínimos e voltei para Brasília.
Naquele tempo - 12 anos de 4° Poder - eu era acusado pela chamada direita, pelos tucanos, de ser petista, esquerdista e outros epítetos. Hoje, luláticos e dilmáticos; esquerdistas e golpistas se esganiçam me acusando de ser tucano.
É o preço que pago por não ter o cacoete do jornalismo factual. Não sou repórter. Até gostaria, mas não me contenho diante do fato, da notícia pura e simplesmente notícia.
Eu trato da natureza da notícia. Eu vivo sempre a versão que está nas entrelinhas. Isso incomoda sempre, aqui e em Caixa-Prego, aqueles que praticam e executam o poder dominante. Grande coisa. Estou pouco me lixando.
Vinícius de Morais cantava que "a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida". Eu até acho que sim, mas penso e canto também que a vida é a arte da escolha. Escolhi a liberdade de pensamento e de expressão.
Meu jornalismo não tem patrão. É um jornalismo que diante de regimes que dizem que "não roubam nem deixam roubar", não se vende e nem se deixa comprar.