Quando o PT se reúne, o Brasil sempre sai perdendo. E se o presidente de honra estiver a perigo, então, aí mesmo é que estremecem os alicerces da nação. Neste meio de semana, depois de um concorrido encontro de mensaleiros, aloprados, cuequeiros, escandalosos, fichas-sujas, cassados e outras espécies da mesma fauna e flora, saiu um texto tipo carta aberta, fixando limites para a "faxina" da primeira-presidenta Dilma.
A grande facção que vem balançando a pança e comandando a massa brasileira diz em tom mais de ameaça do que de puxão de orelha que vai "repelir com firmeza as manobras da mídia conservadora e da oposição" na “criminalização generalizada da conduta da base".
Com isso, o ínclito PT dos companheiros bons e batutas que o País conhece, também aproveita a ocasião - como é do seu feitio, sempre que vê uma vitrine por perto - e bota a culpa dos escândalos, da roubalheira, das maracutaias, da sem-vergonhice toda, na "mídia conservadora".
E, de imediato e prontamente, ao invés de processar a mídia, prender e arrebentar, como já determina a Constituição brasileira, resolveu - em desagravo velado ao seu grande guerrilheiro de festim, Zé Dirceu - reviver o sonho dourado de Lula, Franklin Martins, do próprio Dirceu e outros abjetos, que não descansam enquanto não implantarem a censura que chamam de "marco regulatório das comunicações".
Ora, se um repórter da revista Veja, como proclama Zé Dirceu, cometeu o crime de invasão de domicilio e privacidade, basta denunciá-lo na Justiça e aguardar que ele seja condenado e preso com o mesmo senso e agilidade de punição que tem sido dispensado ao processo dos mensaleiros, por exemplo.
Mas, não. O PT quer é mandar na liberdade de crença, de pensamento e de expressão de todos aqueles que não pensam, não falam, não agem e não são e nem querem ser como ele.
E agora faz requebros, usa, abusa e chantageia a própria velha brizolista Dilma - que nunca lhe passou pela garganta - para rabiscar o que está chamando de "resolução política" para colocá-la sob avaliação - com aprovação já garantida - do 4º Congresso Nacional do PT.
No papelucho, o partido defende o que diz serem "medidas moralizadoras" tomadas pela presidenta Dilma Rousseff, mas aproveita para demarcar diferenças e botar a boca no trombone em tom de paranóia.
Lança mais uma terrível teoria de conspiração contra o notável PT: a tentativa de aproximação de setores do PSDB e da “mídia conservadora” em torno da “faxina” ética que, para os mandarins dessa verdade que não tem nada de chinesa, não passa de "um golpe para solapar a base de apoio no Congresso e paralisar o governo".
O documento vai mais longe: tenta igualar Dilma e Lula da Silva no combate aos malfeitos. “Nunca na história deste país a corrupção foi combatida com tanta profundidade e sem protecionismos partidários como nos governos Lula e Dilma”, debocha o texto. Não diz, no entanto, que esse combate não foi travado pelos governos Lula e Dilma, mas apenas suportado por eles.
A tarefa de Lula e Dilma nessa batalha tem sido apenas banalizar os escandalos produzidos pelos malfeitores que têm sido nomeados por eles, pelo próprio PT e suas al-Qaedas aliadas. Melhor, "coalizadas".
Quando o PT se reúne, a coisa vai longe. E não foi diferente desta vez. O PT - sem medo de ser feliz e sem qualquer temor de chantagear a própria primeira-presidenta da República - fixa limites ao proclamar que o combate à corrupção “há de ser honrado sem desconstruir o Estado de Direito ou sonegar as garantias individuais. Sem esvaziar a política ou demonizar os partidos, sem transferir acriticamente para setores da mídia que se erigem em juízes da moralidade cívica”.
O documento-desabafo-ameaça é desaforado e revela ciúme doentio pelas relações de afeto e amizade explícitas de FHC e Alckmin com Dilma. Diante dessa recente troca de afagos o partido se revela uma espécie de corno brabo e diz o que pensa a respeito desse affair. E manda ver:
“A oposição, apoiada – ou dirigida - pela conspiração midiática que tentou sem êxito derrubar o presidente Lula apresenta-se agora liderando uma campanha de ‘apoio’ à presidenta Dilma, para que esta faça uma ‘faxina’ no governo. Mesmo sem credibilidade, omissos que são no combate à corrupção nos seus próprios Estados e muitas vezes coniventes que foram nos governos federais dos quais participaram, esses políticos intentam, dissimuladamente, dissolver a base parlamentar do governo Dilma, a fim de bloquear suas iniciativas e neutralizar seus avanços”.
O PT só é mole na hora de arregaçar as mangas para trabalhar. Na hora da discurseira e das elucubrações de planosde poder e elaboração de dossiês, ele é imbatível: o texto deixa mais do que evidente que vai assumir a defesa de integrantes da base aliada denunciados pela imprensa. E bota pra fora a sua mania de perseguição:
“O PT deve repelir com firmeza as manobras da mídia conservadora e da oposição de promover uma espécie de criminalização generalizada da conduta da base de sustentação”. É assim que fica muito clara a mudança estratégica de posição do partido em relação ao controle da mídia. E a tudo quanto Dilma recomenda a respeito da matéria.
Se você não está lembrado, Dilma mandou arquivar o projeto do ex-ministro da Comunicação Institucional Franklin Martins sobre o tema, mas agora - esquecido disso, por amnésia inoculada por Lula e Zé Dirceu - o PT decidiu que a saída será o Congresso. É lá, na grande casa de tolerância nacional, que o partido vai tentar aprovaro tal de “marco regulatório” para os meios de comunicação e regulamentar artigos da Constituição ainda pendentes sobre o tema.
A expressão “controle social” da mídia foi abandonada e as manifestações sempre são acompanhadas do repúdio total à censura. Falam do jeito que falam Lula e Zé Dirceu com a boca e o tom azedo de Franklin Martins que, enquanto não conseguir emprego numa redação de jornal ou TV, não sossega o pito.
Em suma, o PT se reuniu para tirar a vassoura da mão da Dilma. A idéia é deixá-la pendurada no cabo do espanador de pó que mal e porcamente serviria para empurrar o lixo para debaixo do tapete.
No fundo, no fundo, mais que isso tudo, o PT está deixando bem claro - mas sempre às escondidas, como de hábito - que prefere Lula como candidato à presidência em 2014.
Não demora nada, Dilma não vai ter nem tapete para esconder a sujeira que lhe foi deixada de herança pelos dois governos anteriores a este mandato que ainda nem começou e já está terminando, cutucado ferozmente não pelas bicadas dos tucanos e do resto da pífia oposição, mas pelas repetidas e dolorosas punhaladas nas costas desferida pelo PT honradamente presidido por Lula, o que não desencarna do poder.