Reprodução/Justiça sentada e bem acomodada
O brasileiro sofre hoje da Síndrome do Aproveitador: "Se eles passam todo mundo pra trás, por que a gente também não vai passar". E é assim que, atingidos pelo que vem de cima, todos agora tiram a sua lasquinha. Se não vai com jeito, se sacar a carteirinha do partido não assusta, então é só puxar o revólver a assaltar mais um supermercado, um terminal de banco, uma dona de casa indefesa...
Há alguns roubos mais requintados. O fator previdenciário, por exemplo, é um dos mais violentos assaltos ao bolso e aos direitos adquiridos dos inativos, aqueles que trabalharam a vida inteira, contribuindo para a saúde pública e a previdência social... Em menos de dez anos de aposentadoria, o que era um ganho mensal equivalente a 10 salários mínimos, hoje não alcança o valor de quatro salários e meio.
Não é um sequestro-relâmpago; trata-se do que os americanos, que adoram filmes policiais, chamam de string of robberies - uma espécie de roubalheira orquestrada. Na verdade, em qualquer idioma, o Estado brasileiro é tido e havido pelo mundo inteiro como um Serial Burglar - um assaltante continuado.
Isso de estar previsto na Constituição que salários não podem ser recalculados para baixo é o de menos. Mais que o de menos, não quer dizer nada, absolutamente nada. Os senhores dos anéis arrepiam a lei e fazem o que bem entendem, inclusive na hora de pagarem e aumentarem seus próprios superproventos -juízes, ministros, assessores de aproveitadores federais da Câmara e do Senado e cabos eleitorais de plantão permanente.
Al Capone, logotipo do espírito nacional
Esse espírito de ladroagem, de esperteza, de levar vantagem em tudo foi inoculado nas artérias da população que agora já não tem mais medo de roubar, porque sabe que pode carregar. É puro espírito de corpo e de porco correndo nas veias dos três poderes constituídos.
A violência das ruas, o assalto à mão armada nas calçadas, os arrastões nos bares e restaurantes, são só uma extensão natural do que é praticado sem armas aparentes pelo Crime Organizado Estatal. Estamos todos comidos e mal pagos.