O CRIME ORGANIZADO É
O ESTADO
E O ESTADO SOMOS NÓS
Vamos combinar que fica tudo a combinar, mas antes de
tudo e de mais nada, a gente precisa reconhecer que já se acostumou com o fato
de que o crime organizado está protegido nas gavetas dessa Democracia de Gabinetes
que nasceu no Brasil em 1985.
Tudo se organizou e sistematizou a partir daí, quando Zé
Sarney assumiu a Presidência da República, no lugar de Tancredo Neves, eleito e
sepultado pelas Diretas-já.
Nesse Brasil da Silva descoberto em 15 de março daquele
ano sarneyziano, o crime organizado começou a ser infiltrado pelo poder
dominante até que passou a ser o próprio Estado.
DESVIRTUAMENTO ÉTICO
Porque você não tinha se dado conta disso, não quer dizer
que não seja isso mesmo a realidade que corre nas artérias do país de ponta a
ponta e nas veias desprotegidas e distraídas da população.
O crime organizado aqui é coisa natural. A gente tá nem
aí para uma realidade tão trivial e tão banalizada. É futilidade corriqueira na
vida desse país tomado de assalto pelos tidos e havidos como salvadores da
pátria.
Nesse Brasil da Silva, o desvirtuamento ético já nem é mais
chamado pejorativamente de “jeitinho brasileiro”; hoje é como se fosse um
benéfico e louvável desvio de conduta.
VEM DE CIMA E NOS ATINGE
Assim é que movidos pelo mau exemplo que vem de cima, os
brasileiros levam a vidinha numa boa, sem perceber que têm a corrupção no
sangue contaminado pelo vírus do Estado bandido. E para nós, democratas de
gaveta, já não há nada demais quando...
Peraí, só um pouquinho que eu vou repassar uma lista de
dez velhacarias que observadores atentos listaram, quanto a comportamentos que já
não consideramos mais como corrupção. Vamos lá, venha comigo:
1) Não dar nota
fiscal; 2) Não declarar Imposto de Renda; 3) Subornar o guarda da esquina; 4) Dar ou
aceitar troco errado; 5) Usar carteirinha falsa de estudante; 6) Furar a fila; 7) Fazer gambiarra de TV a cabo; 8) Comprar produtos piratas; 9) Falsificar assinaturas; 10) Bater ponto pelo colega.
Feito
isso, bem do jeitinho que todo mundo faz, a gente põe a culpa nos maiorais dessa
República dos Calamares, põe a culpa nas chamadas “forças-vivas” desse Brasil
da Silva, hoje refém do crime organizado que governa o país com pompa e
circunstância, sem medo de ser feliz.
E
eles, por sua vez, nos usam como desculpa para continuarem agindo como agem, ao
arrepio da lei e sob o manto da dita cuja.
O
VIZINHO OU NÓS MESMOS
Eles
dissimulam a origem de seus recursos, de suas incomensuráveis fortunas ilegais
à custa de licitações fraudadas, tráfico de influência, obras públicas hiperfaturadas,
falsidade ideológica, chantagem, propinagem, corrupção ativa e passiva, consultorias, operação, receptação, laranjais, palestras milionárias, lavagem de dinheiro.
Eles
colocam – e já nem nos escandalizamos mais com isso – a vida pública na privada;
botam seus ganhos e arreganhos em paraísos fiscais. Puxam a descarga de um
escândalo atrás do outro como a mais regular e fútil necessidade fisiológica.
E,
como já nos conformamos em carregar conosco a distorção do caráter ético que
chamamos de “jeitinho brasileiro”, amortecemos na consciência o doloroso fato
de que já nos conformamos: Bolas, se o governo
rouba e deixa roubar, por que eu também não posso furar a fila, ou comer a
mulher do vizinho se o vizinho não está vendo?
Só
vamos chutar o pau da barraca se a mulher da gente for comer o vizinho quando a
gente não estiver vendo; ou se o vizinho fizer com a mulher da gente o mesmo que a gente fez com a mulher dele.
“ISSO
AQUI NÃO É A ROMA ANTIGA”
E,
no entanto, parece até que essa pandilha de sevandijas que botou o crime
organizado no lugar do Estado não está furando a fila bem na nossa frente. Ah, é que está
chegando a hora de comer a mulher...
Peralá,
vamos dar tempo ao tempo. O cara recém está chegando no Palácio do Planalto. Só
não podemos agora é relaxar e permitir que ele traia a primeira-dama em
exercício.
Afinal,
como disse já faz tempo a hoje afastada Dilma Sapiens: “Isso aqui não é a Roma
antiga!”. Não basta ser honesto, tem que parecer honesto.