E aí, vai encarar, ô cabeça de gado?!?
A "estratégia da coalizão" destrói qualquer ideia do que seja ética
Sem a menor preocupação de que a indiferença diante dos problemas morais seja a doença que os maus políticos transmitem à sociedade, ontem Renan Calheiros foi cínico e nada convincente, como sempre: "Ética é meio, não é fim; a ética e obrigação de todos nós". Nada pior que uma frase de efeito na boca cheia de dentes de quem só dá maus exemplos.
Quem tem o direito de observar, como simples cidadão que paga a conta como refém dos maiores impostos do mundo, sabe que a volta de Renan Calheiros à presidência do Senado não é apenas a causa da imoralidade e do arrepio à ética; sabe que Renan Calheiros é o efeito.
Com ele agora - e até ontem com Zé Sarney que se esvai no seu último mandato - está cinica e definitivamente estabelecido no Congresso Nacional o sistema das exceções às regras em nome da política de resultados que fere de morte toda e qualquer idéia de moral e ética. E que se exploda aquela hipocrisia da Lei da Ficha-Limpa!Ele é a alma em carne e osso da filosofia de fazer, comprar e vender política perniciosa que Lula implantou assim que subiu a rampa do Palácio do Planalto, lá no distante 2002 com o epíteto de "estratégia de coalizão pela governabilidade". Governabilidade e outras coisinhas mais. Tradução literal e completa: - Quanto você quer pra ser meu aliado?
Então, viva os que sempre se dizem honrados e defensores da ética! Eles acabam nos parecendo menos canalhas do que imorais. E assim e até por isso mesmo, acabam chegando aos mais altos pontos de referência de uma República que banaliza escândalos e democratiza com maioria esmagadora os feitos de seus malfeitores.
Para um Renan Calheiros ser paladino do bem e da ética, basta lidar com o direito formal para reduzir o direito moral à mais reles expressão do que deveria ser justiça. Justiça mesmo seria Renan estar há mais de cinco anos fora da disputa de ontem pelas mesmas razões que hoje o procurador-geral da República representa contra ele: peculato, tráfico de influência com enorme lucro, notas frias, falsidade ideológica e tudo de malfeitorias que os homens de boa vontade nem sequer imaginam.
A volta de Renan Calheiros à presidência do Senado, além de mostrar quem são os seus pares bons e batutas e eleitores ímpares, revela com nitidez a triste verdade que naquela casa de tolerância nacional o que menos se leva em conta, o que menos importa são a retidão de conduta e a reputação geral de honradez.
Reprodução/Gazeta do Povo.com
Para chegar ao lugar de Zé Sarney naquele imenso balcão negocial que é o Senado Federal, valeu mais para Renan o seu poder de barganha que o crédito moral.
A dar crédito aos deputados e senadores que habitam o Congresso Nacional, a nação brasileira teria por lá pelo menos 300 honestos. Os demais seriam picaretas malhando sem dó nem piedade a ética, a moral, a honradez, forjando a consciência de uma nação tão impotente quanto submissa.
E aí, você está de novo diante de Renan Calheiros como dono do cargo mais importante do Poder Legislativo dessa democracia presidencialista que atende pelo pomposo nome de República Federativa do Brasil... Vai encarar, ou vai continuar sendo apenas mais uma cabeça de gado fantasma que Renan gosta de embretar?!?