Democracia-Macunaíma
Pergunta perigosa: Para que serve o Legislativo?
Até o fim desta sexta-feira trágica para a democracia brasileira, Renan Calheiros será eleito pelos seus mais semelhantes senadores, presidente do Senado Federal. Assim, o deboche ao regime político do país continua o mesmo, afinal ele entra no lugar de, ninguém mais nem menos, do que o imortal e incomum Zé Sarney.
Isso já não quer dizer mais nada para o poovo brasileiro que anda de joelhos agradecido por já não ser mais pobre porque tem bolsa-família e carrega na boca do estômago a enganosa impressão de que a sua fome é zero.
Isso quer dizer tudo para o Palácio do Planalto que garante assim a ascendência despudorada do Poder Executivo sobre um Legislativo submisso e rastejante.
Isso quer dizer, na verdade, que a democracia-macunaíma inventada por Lulas, Zés Dirceus, Zés Genoínos foi para seu próprio uso e abuso. E assim é que hoje tá tudo dominado: consolida-se com a eleição de Renan Calheiros esse tipo de democracia-patife, uma democracia-mau caráter feita por uma minoria corrompida e consagrada por uma maioria abobalhada.
Para que você tenha uma idéia do que os senadores estão fazendo com o Brasil rememore aqui, o currículo de Renan apenas de 2007 para cá. São só cinco longos anos de desmemória. Vale a pena ver de novo. Vale a pena, mas dá engulho, provoca náuseas. O Brasil está grávido de semvergonhice e vai parir isso aí:
Então presidente do Senado Federal, Renan Calheiros ocupou as manchetes da imprensa brasileira em 2007 com o Renangate. Tudo que deu em quase nada começou em 25 de maio, com a notícia do pagamento da empresa Mendes Júnior à ex-amante de Renan, um político que gosta de comer jornalista e se estendeu até 11 de novembro, quando ele renunciou à Presidência do Senado, lugar para onde está voltando nesta sexta-feira, glorioso dia 1° de fevereiro de 2013.
As denúncias mostravam que a empreiteira Mendes Júnior pagava R$ 12 mil por mês à jornalista Mônica Veloso, então amante de Renan, com quem teve um filho.
Daí pra frente, a mídia detonou uma série quase interminável de denúncias: compra de rádios em Alagoas, em sociedade com João Lyra, em nome de laranjas; tráfico de influência junto à Schincariol, na consecução da compra de uma fábrica de refrigerantes, com uma borbulhante e milionária recompensa; uso de notas fiscais frias, em nome de empresas fantasmas, para comprovar seus gordos rendimentos; montagem de um esquema de desvio de dinheiro público - tipo mnensalão - em ministérios comandados pelo PMDB, partido que o vice-presidente Michel Temer disse então que não precisava de investigação, "porque não tinha nada a ser investigado"; montagem de um esquema de espionagem contra senadores da oposição ainda hoje ativo e paralelo governo Lula.
Estas acusações chegaram em forma de representações ao Conselho de Ética do Senado do Brasil, pedindo a cassação de Renan. Antes que o pior acontecesse, ele deu no pé, pela porta dos fundos do lugar para onde hoje está voltando.
Não tinha naquela época moral para ser presidente da Casa, mas teve cara dura bastante para continuar senador esse tempo todo. Volta hoje como súdito fiel e submisso ao Palácio do Planalto.
E assim é que, com a volta de Renan Calheiros, está se consagrando hoje, na cara dos brasileiros, que o Senado Federal é mais uma vassalo do Poder Executivo e, é mais do que sabido que a um vassalo o que menos dói e pelo que ele menos sofre é ser mandado.
O pior é que na segunda-feira se dará o mesmo na Câmara dos Deputados. O Palácio do Planalto desce a rampa para tomar de assalto a Casa do Povo.
Sobra, à trilogia dos Poderes da Constituição de 1988, apenas o Poder Judiciário. Mas isso pode por pouco tempo. É tempo de renovação compulsória de boa parte do Supremo Tribunal Federal, cujos ministros são sempre indicados pela Presidência da República. O mau cheiro do que desce pela rampa já se espalha pela Esplanada. É só uma questão de tempo para saber-se que, no Brasil Dilma da Silva, Justiça é apenas uma estátua de olhos vendados, uma balança e uma espada apontada para os próprios pés.
E assim é que ao povo de quem todo o poder deveria emanar, restará somente fazer uma pergunta que seria perigosa não estivesse a nação em adormecida e conformada genuflexão: Para que serve o Poder Legislativo nessa democracia capenga e zarolha?