O medo

TENHA MEDO DO QUE O GOVERNO PODE FAZER COM VOCÊ. NO BRASIL GOVERNAR É SATISFAZER NECESSIDADES FISIOLÓGICAS.

26 de fev. de 2013

Oruro não fica no Paraguai

Nem todo lugar no mundo usa a lei como veículo blindado do jeito que o brasileiro esperto vem usando para chegar incólume e altaneiro aos lugares mais escusos da sociedade em que vive, deita e rola. Lá na Bolívia, na famosa vila de Oruro, a delegada Abigail Saba já deixou bem claro que por lá o andar da carruagem é outro. E que não tenham a falsa ideia de que seja o Paraguai.

Não colou e nem grudou em nada, lá pelas paredes da sua delegacia, a confissão cuspida na Vara da Infância e da Juventude de Guarulhos pelo menor H.A.M. uma "sigla" que não diz nada e nem mostra a cara de um matador eventual e confesso.

Para a lúcida e atenta delegada Abigail, o fato de o garoto brasileiro, corintiano, estudioso, e trabalhador ter assumido a autoria do disparo que matou o jovem boliviano Kevin Douglas Beltrán, na semana passada, não significa que aqueles 12 torcedores do Corinthians engaiolados  vão responder ao processo em liberdade, ou retornar ao Brasil.

Abigail Saba que cuida da investigação pelo Ministério Público em Oruro já disse que vai usar o depoimento do laranjão para reformar o inquérito e colocá-lo com o 13.º indiciado no processo.

Pronto, o advogado e os patrocinadores do desastrado corintiano acaba de entrar no padrão internacional da leitura dos direitos de qualquer cidadão: "tudo que você disser poderá ser usado contra você!".

Para a delegada Abigail a coisa é simples: "Todos são cúmplices, pois trouxeram o menino e o deixaram sair de Oruro. Por que fizeram isso? Esperamos que o tragam para responder às acusações na Bolívia, de acordo com as leis bolivianas, e assim será indiciado como todos os outros".

E agora, só você e a torcida do Corinthians e do Flamengo juntas sabem que pelas leis bolivianas, a maioridade começa as 16 anos. Sabe quando o H.A.M. vai voltar a Oruro? Pois é.

Abigail agora está esperando apenas a confirmação da confissão e os documentos que lhe chegarão do Brasil para definir o rito das investigações.

De qualquer maneira, a coisa tá feia para aquela dúzia de fiéis prisioneiros corintianos. Abigail quer mantê-los "ao menos" como cúmplices, se a genial e proverbial versão brasileira for confirmada.

Ela pergunta com simplicidade: "Como o jovem saiu da Bolívia? Há várias interrogações que têm de ser esclarecidas em Oruro. As autoridades daqui não têm de levar em conta provas produzidas em outro lugar. Quem garante que este garoto não foi pressionado?", quer saber a delegada boliviana.

Esse renha-renha deve durar pelo menos cinco ou seis meses de desconfortável cadeia para os bravos e destemidos fanáticos que, acostumados a agitar a massa e balançar estádios, vai ter que se adaptar a sempre unidos jamais serem vencidos pela falta do radiante sol da liberdade, ou pelo aconchego grupal de noites mal dormidas na penitenciária do vizinho país amigo. Muy amigo, como siempre; o para siempre, hermanos - como já teria dito há bom tempo Evo Morales para Lula, ambos enrodilhados em vistosos colares de folha de coca.

O advogado das torcidas organizadas do Timão já prepara um mebrulho de jornais, uma dúzia de radinhos de pilha e pacotes de cigarros legítimos para levar a sua clientela na Bolívia. Alguém, por favor, avise ao nobre causídico de que lá não é o Paraguai.

RODAPÉ - Nada como um dia depois do outro. Taí ó, com medo do seu pé-frio não convidaram Lula para ir ao Japão e nem sequer lhe ofereceram um camarote nos últimos jogos do Coringão, agora não têm cara para nomeá-lo embaixador emérito a fim de mediar mais esse conflito internacional.