O Sinalizador Naval Corintiano
O direito formal aniquila o direito moral
Apareceu um corintiano roxo, de 17 anos, que se confessa apaixonado pelo Timão e por comemorações pirotécnicas. Casualmente ele foi ao jogo contra o San José, na Bolívia e, eufórico e apaixonado pelo Coringão disparou um singelo sinalizador na direção da torcida adversária. Um sinalizador que teria adquirido numa banca de camelôs no centro de São Paulo e que passou despercebido pelos fiscais de aeroportos que ligam o Brasil à Bolívia.
Por acaso, esse jovenzinho tão frágil e inocente quanto fanático pelo Corinthians matou um garoto de 14 anos no outro lado da arquibancada. O advogado da Gaviões da Fiel, contador da comovente história, diz que o garoto inimputável vai se apresentar hoje à polícia. Orra, meu, um delegado que se preze prenderia esse advogado.
No fundo, no fundo essa farsa é apenas mais uma demonstração debochada do que os patifes andam fazendo com a lei e a justiça no Brasil. Nunca antes nos 10 anos de poder escrachado nesse país se revelou de forma tão indecente e explícita o quanto as leis ruins podem ser uma das piores formas de tirania.
Os brasileiros são submetidos a um verdadeiro império de aproveitadores das leis que aprenderam a legalizar seus malfeitos sem que falcatruas, engodos, fraudes precisem ser legitimados. O direito formal aniquila, arrasa, esmaga o direito moral.
O Brasil é um país fora de controle. As leis se tornaram inúteis para os homens de boa vontade que há 10 anos delas não dependiam. Hoje as pessoas de bem precisam se prevenir das leis antes até de obedecê-las As leis se tornaram uma arma com silenciador na mãos dos ruins; com as leis como munição, os maus se fazem melhores em sua crueldade, em seus instintos ruins.
O crime organizado oficial que se instituiu na estrutura dos três Poderes constituídos consagra, a cada dia, a cada momento, a cada ocasião - até num jogo de futebol - o uso e o abuso das leis como o agente mais eficaz de desmoralização da sociedade.
Hoje o Brasil é refém dos sequestradores da Constituição e das leis que são criadas para sua própria blindagem. As leis são o escudo protetor das piores figuras republicanas que transformam em aberração o espírito da lei que um dia foi a alma do Estado e o digno caráter dos governos. No Brasil de hoje, a lei permite o que a honra proíbe.
Esse pobre menino que o advogado apresenta como comprador de um sinalizador naval na rua de comércio popular 25 de Março estava apenas comemorando um gol. Ele sozinho vai livrar a cara da torcida corintiana em peso. É só mais uma edição do jeitinho brasileiro de usar a lei para debochar de um crime. Cá pra nós, se na política é assim, porque nop futebol não poderia ser? Isso é só uma coisa à-toa, uma história banal na História do Brasil que já perdeu a graça.