Da indignação à digna ação
Tome uma atitude, há razões de sobra no Brasil
Recebi, ainda ontem, uma mensagem que me cutucou os sentimento de indignação que esse regime de democracia dominada e vilipendiada me acomete há muito tempo e que agora me dá leves sinais de que o poder ainda tem alguma chance de emanar do povo e ser exercido, não assim enganadoramente em seu nome, mas pelo povo e para o povo.
A mensagem falava dos "colibris" que pressenti a voar pela tragédia de Santa Maria da Boca do Monte. Eu a repasso a vocês como um cutucão que lhes quero dar no seu sentimento de indignação, com a esperança de que, nem que seja aos poucos, em conta-gotas, bico a bico, seja ele, o cutucão, uma espécie de impulso que transforme sua perplexidade em atitude, em uma real e progressiva digna ação. Eis o texto do autor que não identifico, porque a ele não pedi permissão para tanto:
“Parabéns pelos colibris... E para não dizer que
não falei de flores, sento-me à beira de sua sombra e acrescento às tuas
reflexões, certo que menos poeticamente e mais pateticamente: a nossa sociedade
civil precisa se organizar pacífica, mas ativamente, em cada canto deste nosso
querido Brasil, para não só REAGIR, mas AGIR ante as omissões intencionais (?!)
permanentes de nossos governos; reagir ante suas INTERVENÇÕES de engodo fácil para se
garantirem no poder, sempre mais uma vez e mais uma vez... Entrementes, pratica-se
às escâncaras, sinistras formas de governar, de aparência light – como, por
exemplo, divulgação de baixo custo de energia sem divulgação de aumento de custo
da gasolina. Por quê? Será a plateia de imbecis? Até quando? Fico por aqui, o
de mais é contigo mesmo, caríssimo. Segue em frente, sem olhar para trás”.
Sei que o autor da mensagem tinha e tem muito mais para me dizer. Dizer e fazer. A correria que consome o tempo, no entanto, nos permite pouca dedicação às coisas e aos fatos que fogem a nossa ordem cotidiana. E esta tem sido a enorme, a incomensurável vantagem dessa pandilha que se apropriou da democracia que inventaram para seu próprio uso e abuso e, para ser bem atual, com pleno domínio do fato.
Esses republicanos de balcão chegaram a tal ponto de dominação do país e de seu povo que estão nos dando, mesmo para uma nação que está se acostumando a andar de joelhos, todas as razões para o revide, para lhes dar o troco, virar a mesa.
Para um povo que se respeite, não é possível que seja preciso mais que a banalização do escândalo; mais que o deboche de corruptos e quadrilheiros condenados reunirem bandos que pretendem tornar em hordas para desqualificar o Judiciário até dominá-lo, como acabam de fazer com o Senado e com a Câmara, colocando o Legislativo de bruços na rampa do Palácio do Planalto que representa o Executivo. Se isso não é ditadura - por branda que pareça - a sua mãe é rapadura!
Sem violência, sem arroubos de palanques viciados, sem armas, sem votos - que o voto é a arma da democratura deles - está chegando a hora da atitude, firme, correta, movida pela indignação que passa a ser mostrada por uma digna ação; uma digna ação permanente, forte, séria, sem a ira desastrosa do nojo, do asco, da repulsa. Tome atitudes, você vai ver que o poder de combater a mentira não vem do ódio, vem da paixão pela verdade.
A hora do povo está chegando. Esses malfeitores que se adonaram do poder Executivo e subjugaram o Legislativo, se sentem tão senhores dos anéis que, pelo desleixo e pela sensação de que "tá tudo dominado" estão abrindo o flanco. E o povo começa a ter, afinal, a chance de mostrar quem é que manda numa democracia. A chance está aí, nunca esteve tão a nossa disposição. Basta atitude. Basta cada um ser colibri no incêndio dessa mata. É assim que se formam as revoadas.
Custa a você perguntar ao dono, ou até ao segurança da boate, se o extintor está funcionando, ou onde ficam as saídas de emergência? Se custa, então não vá à boate: procure o cinema que tenha portas laterais, ou uma casa de cultura com fundo musical e ar puro pra respirar.
Já não basta sentar-se à frente da TV, ou viajar pelo Facebook, por que é perigoso sair à noite para tomar um sorvete na esquina, ou comer um doce de confeitaria?
Você já não viaja de ônibus, pelo medo de assalto; bota grade no seu jardim; tem carro, mas vai de táxi porque o flanelaço custa mais caro que o teatro, o show, o futebol...
Os mensaleiros roubaram em 2005 e só agora, sete anos depois, foram condenados e ainda reclamam direitos políticos perdidos, ou são enjambrados deputados, senadores, ministros... E você se conforma, em nome da lei e da democratura.
Você se conforma com o câncer na sua garganta porque o SUS é pro seu bico e não para eles que têm planos de saúde e suas casas, suas vidas em hospitais tipo Sírio-Libanês e grifes similares.
Você se conforma com o câncer na sua garganta porque o SUS é pro seu bico e não para eles que têm planos de saúde e suas casas, suas vidas em hospitais tipo Sírio-Libanês e grifes similares.
Isso é inversão de papéis. Você se conforma em tirar o bode da casa e acha que tudo volta a cheirar bem. Sabendo-se traído na própria sala, o cara prefere vender o sofá como solução para um casamento falido. Corno!
Os motivos para o povo sair da letargia em que se encontra estão todos aí; todos os dias esfregados na cara da população que se conforma em promover umas passeatas aqui, outras ali; pintar a cara, enfiar um nariz de palhaço e fazer estardalhaço.
Mude de atitude. Tome uma atitude. Se cadeia não pega para esses malfeitores da coisa pública; não mete medo em comerciante desonesto; nem atemoriza o empregador desalmado, então fira-os onde mais lhe dói: o bolso. Faça com que eles sejam pobres e tenham que sustentar-se e às suas famílias de fachada e as que têm por baixo dos panos, com um salário mínimo mensal.
É fácil: não vá às boates; não compre o pão na padaria usurária; não pague propina ao guarda da esquina; não dê mole para os flanelinhas; contrate um jardineiro parrudo que ele sai mais barato que a grade que prende os brasileiros de boa vontade em suas próprias casas.
Simples assim. Faça isso e espalhe. É desse jeito que as pequenas atitudes se transforemam num movimento social. E mudam a nossa casa, a nossa calçada, a nossa cidade, o nosso povo, o nosso país e essa caterva de cínicos e mentirosos tiranos que nos cercam.
Comece agora. Ande de bicileta, ou vá a pé, ao invés de pagar a gasolina mais cara do mundo. Você vai ver que andando sempre em frente dá tempo pra você chegar no horário ao colégio, ao trabalho, aonde quer que você precise.
Além de voltar a exercitar-se e sair do marasmo em que se encontra. Tome uma atitude. Sempre, nas pequenas e nas grandes coisas da vida. Você vai ver que a sua mãe não é rapadura. E que ela não merece acordar e ver a ditadura. E, melhor ainda, que picadura de colibri não dói.