Ele não só me contou muitos casos, como pelas suas atitudes e reações me deu aulas de como ver e viver a vida, sem alardes, sem sobressaltos, com serenidade e muito senso de humor.
Lembro de uma vez que, encantado pelo surgimento meteórico do malabarista Robinho no Santos, me atrevi a perguntar-lhe:
- E esse menino Robinho, chega aonde chegou Pelé?
- Ele é muito bom. Mas Pelé é Pelé - disse com respeito e entrou em casa.
Ele, gentil e objetivo, como era de seu feitio, me deixou falando sozinho. Nunca mais perguntei a Nilton Santos sobre qualquer outro jogador. Nem lhe perguntaria hoje sobre Messi ou Neymar.
COLEGA?!?
Em outra ocasião, eu, Zé Cruz e o jornalista Jorge Martins, acompanhamos Nilton Santos até ao Congresso Nacional. Ele receberia naquela tarde uma homenagem da Câmara dos Deputados.
Acomodado nas poltronas da Casa, Nilton era continuamente procurado, abraçado e elogiado por parlamentares de todos os partidos e das mais variadas bancadas.
Pouco antes que ele se dirigisse à mesa-diretora para receber as honrarias, um deputado, ex-jogador do Vasco da Gama - logo depois que um outro que jogara pelo Fluminense já abraçara Nilton Santos - aproximou-se e, com uma solene reverência, cumprimentou-o com profunda admiração e lhe disse com a voz embargada, cheia de sincera emoção:
- Grande Nilton Santos, você não sabe o quanto me orgulho de ser seu colega.
Nilton, abraçou-o carinhosamente e agradeceu as palavras do deputado mineiro, fã daquele monstro sagrado do mundo da bola. Nem bem o parlamentar se afastou, Nilton Santos virou-se para mim que estava na poltrona a sua esquerda e sussurrou-me com ar de enorme ingenuidade:
- Ué, eu não sabia que era deputado.
Era mais que isso. Muito mais. Era Nilton Santos, a Enciclopédia do Futebol. O deputado é que não sabia o quanto lhe faltava de jogo de cintura para ser colega dele.