UM ÁRBITRO PARA PRESIDENTE DO PAÍS DO FUTEBOL
Para quem gosta de usar o jogo de bola como metáfora diga-se, só para provocar azia que o Brasil é sim, o País do Futebol. É por isso mesmo que, a exemplo do que acontece em campo, quem manda no jogo é um só: o juíz.
Juíz, sim. Nada de árbitro. A toga não é carimbo de marca registrada para quem julga. Toga é alegoria, adereço, fantasia. Árbitro não usa capinha, usa apito e, no entanto, age como se fosse também um Super-Homem. Quem julga é julgador, juíz. No tribunal, ou nas quatro linhas.
É um só contra tudo e contra todos; determina o que acha certo e errado; usa a regra como um contra-regra que segue e que modifica o script como acha por bem ou por mal fazê-lo; segue a lei e faz as leis.
É um pequeno ditador ao amparo da convenção do futebol, paixão das multidões que se dobram submissas ao poder de um único dono da verdade que rola na grama.
Esse mini tirano é apenas um atleta medíocre que deu certo no esporte que não sabia praticar direito. É um astro cercado de estrelas que ao primeiro silvo mais forte são cadentes diante de sua onipotência.
Juíz de futebol é juíz porque não soube ser jogador, porque nunca jogou nada. Encontrou no livro de regras a solução para transformar a sua incompetência para jogar bola em status de craque, dono da modalidade que move o mundo e paralisa guerras.
Alçado à condição de condutor ofricial do espetáculo, o juíz faz o que bem entende no uso e abuso do script, do roteiro legal. As consequências de seus enganos causam mal e provocam dor nas costas dos outros e quase nunca na sua própria pele. A súmula é sempre mais forte que o protesto na barra dos tribunais esportivos.
Ruim no gol, na zaga, na lateral; um desastre como meia armador e bem pior como atacante, o cara como juiz se consagra como autoridade respeitada no exercício de suas funções. Os maiores timnes, os melhores craques, todas as torcidas ficam a sua mercê. Ele é o pai de todos, o fura-bolo e o mata-piolho.
Se até aqui você não deu conta do que é mesmo que faz do Brasil o País do Futebol, então você já está prontinho para ser mais que um árbitro, um notório presidente da República.
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Se você nunca foi um bom operário, um companheiro bom e batuta, se nunca foi leal de verdade; se foi - sabe-se lá a troco de quê - um dos 300 picaretas e, como eles, ausente e relapso;
se fez da política um balcão de compra e venda de pensamentos, palavras e obras; se já teve encontros com os homens da mala preta, se negociou pessoas e lugares; se vendeu a alma pro diabo que o carregue; se nunca viu, ouviu ou fez nada, então você tem tudo para pegar o Brasil e fazer com ele o que bem entender, o que lhe der na telha.
A galera acatará silente e conformada tudo isso e muito mais.
Basta inventar leis, segui-las nos grampos dos autos e criar uma democracia que não lhe dê azia. Você será então o Cara que não era bom em nada e que por isso mesmo resolveu ser presidente do País do Futebol. É o cabeça-de-bagre, o perna de pau que por não saber fazer o que gostaria de saber e de fazer virou juíz para mandar no jogo. Ganhou no apito.