O medo

TENHA MEDO DO QUE O GOVERNO PODE FAZER COM VOCÊ. NO BRASIL GOVERNAR É SATISFAZER NECESSIDADES FISIOLÓGICAS.

19 de fev. de 2012

As eleições serão um grande Carnaval

E então caiu o último bastião da pura expressão popular brasileira de alegria de folia e emoção. A Gaviões da Fiel transformou a passarela num enorme e ensandecido palanque.
Reprodução/iG
Nunca antes na história desse país o samba se requebrou tanto para parecer Carnaval. O desfile da Gaviões  não teve jogo de cintura para esconder que o seu desfile foi apenas mais um culto à personalidade de um escorpião.

O carro Abre Alas já confessava tudo: águia, carcará e escorpiões pegavam carona num travessia de vida e morte Severina. O grande risco nesse enredo é que o escorpião acabe agradecendo ao feitio de como é da sua natureza. Uma ferroada.

Aí veio a Ala da Ditadura e nunca antes na história desse país se viu tanta euforia, tanta alegria em presos enjaulados. Os Lulas mascarados que se multiplicavam perigosamente na bateria da escola não apareceram atrás das grades.

E as bruxas, o que faziam as bruxas no sambódromo, a quem seria mesmo que elas estavam representando? E a Sabrina Sato, cercada de Lulas, a quem representava naqueles folguedos no Anhembi?!?

Teve ala de tudo quanto feitio para tudo que é gosto: Ala Prato Cheio, vazia de gingado por natureza; Ala Carteira Assinada, com cara de bloco Indenizados da Avenida; Ala Quem Casa, Quer Casa - pura fantasia de papel; Ala da Energia e Progresso, uma fraca representante do pré-carnaval-sem sal, ; Ala Carnaval, Futebol e Cerveja - que não tinha nem sequer uma boa ideia...

Reprodução/AE
A Ala das Baianas, parecia um cardume fora d'água. Faltaram alguns grandes blocos relegados a um proposital ostracismo: a Ala do Quem Não Chora Não Mama; a Ala do Quem Não Paga Não Bufa e a maior injustiçada de todas, a Ala do Mensalão e Seus Mensaleiros.
Esta última entrou no ritmo de sempre: sambou sem entrar na avenida, pois ninguém viu nada, ninguém fez nada, porque de Carnaval não sabe de nada.

Quanto aos blocos de verdade mesmo, as ausências mais sentidas, foram dos blocos concretos da Polícia Pacificadora e da Força Nacional que, agora sempre tão presentes nos movimentos de paralisação, não apareceram na Ala do Bloco das Greves.

No quesito cordão carnavalesco, a Gaviões da Fiel matou a pau: a escola toda foi um grande Cordão dos Puxassacos.

Foi inútil, pura perda de tempo, aguardar pelo desfile dos 11 carros alegóricos da mudança do Palácio em Brasília para o cafôfo em São Bernardo.

E foi chegando ao fim o desfile da Gaviões sem medo de ser infeliz. Para encerrar, apareceu com a calada da noite o carro com o presidente licenciado Andres Sanches vestindo a caráter (?) a fantasia de destaque O Vassalo, e/ternamente agradecido pelo Itaquerão.

Reprodução
No medalhão às suas costas largas, aparecia a figura do homenageado. Nunca antes na história desse país uma imagem foi tão parecida com a de Clóvis Bornay. Os carnavais são assim, se repetem em si mesmos. Nada do que se viu nesse Carnaval foi coisa que já não se venha vendo, desde que as redes de TV foram inventadas no Brasil.

E então, ao fim e ao cabo, o medalhão final trazia um Lula careca e falante - uma justa e derradeira homenagem, quem sabe, a Ulysses Guimarães que nunca fez carnaval com a democracia.

RODAPÉ - Nunca mais na história desse país o Carnaval será o mesmo. Cada escola vai desfilar com o candidato que bem lhe aprouver e patrocinar. As eleições é que serão, de hoje em diante, um grande e interminável Carnaval.