Depois, foi aquele barraco lá na Casa Civil, transformada num grande escritório de consultorias mágicas por Antonio Palocci.
Em seguida, deu-se o rolo grosso no Ministério dos Transportes de Valores do PR que acabou com o pedido de demissão de Alfredo Nascimento que padeceu do medo infundado de levar uma vassourada.
Veio depois, o escândalo dos negócios agropeculiares da Agricultura de Michel Temer e Wagner Rossi foi para o espaço. Na sequência, Pedro Novais saiu aos trancos e barrancos da Pasta do Tunguismo.
Agora foi a vez de Orlando Silva, o herdeiro de Agnelo, perder a boquinha, jurando inocência. Afora Nelson Jobim que debochou das "fraquinhas" Ideli e Gleisi, os outros pediram para sair do governo sob suspeita de corrupção. Todos se mandaram antes de sofrer uma humilhante e merecida varredura. Pontos. De reticências.
Vem aí Carlos Lupi, aquele que conversava com Brizola no tempo em que o Caudilho falava e ia alimentar sua azia comprando jornais na banca de revistas do agora ainda titular da Pasta do Trabalho. Seu tempo está contado e periga não ultrapassar sequer o último desses três reticentes pontinhos.
Lupi está enrolado em denúncias de boas e promíscuas ligações com ONGs, como todos os outros cinco que não esperaram pelo espanador de Dilma e saíram antes que a presidenta virasse faxineira e os varresse da face do governo. Pontos.
Pontos de reticência, porque outros tantos só não foram para os cafundós do Judas para ver aonde foi que o diabo perdeu as botas, porque Lula da Silva, Michel Temer, aloprados genéricos, guerrilheiros majoritários e similares não deixaram que a primeira-mulher-presidenta se transformasse mesmo em faxineira e varresse também muitos ilustres amancebados com ONGs, empreiteiras, gente que entende de licitações, terceirizadores, lobistas, consultores e doadores de campanha.
Tivesse Dilma mandado as heranças de Lula para as cucuias e Paulo Bernardo das Comunicações já teria saído da vida pública e ido parar na privada; sua Gleisi Hoffmann já teria devolvido o que ganhou a mais quando desenfurnou e se abrigou na Casa Civil.
A indestrutível Ideli Salvatti não teria salvo nem mesmo a própria pele nas suas relações institucionais e profícuas com as ONGs de barriga-verde; Aninha de Hollanda, já teria zarpado da nau sem rumo da Cultura; Negromonte, o Mário aquele que fica atrás do armário, já teria ido ver o gado pastar no campo e não teria mais nada a ver com as coisas das Cidades...
Tivesse ela mandado as heranças luláticas às favas e outros, muitos outros, não por corrupção, propina e alternativas quetais, mas por absoluta inépcia e profunda inércia, já estariam na melhor das hipóteses embaixo do tapete, à espera de alguém que soubesse de fato e de direito compulsório usar devidamente uma vassoura.
Nem precisaria ser uma bruxa para voar a esse ponto, a essas alturas. Agora, pode ser tarde. Afinal, muito mais que heranças malditas ou benditas, um tumor na laringe tem força de convencimento e poder de chantagem.
Agora, sob o signo de câncer que ronda o Palácio, pode ser tarde para Dilma consolidar a imagem de mulher-dinamite que conquistara na capa da revista Newsweek e de 22ª criatura mais poderosa do mundo Forbes.
Como se vê, Dilma não demitiu do seu governo nem mesmo ao Lula da Silva que jamais desencarnou. Ele está saindo - nem é por sua livre e espontânea vontade - sai por motivo de força maior.
Se fosse portador de uma carteira de trabalho, tal alegação poderia até redundar numa boa indenização.
Não é nada, não é nada, são mais de 40 anos de labuta incessante às portas de fábricas, palanques, salas de conferências, rampas e gabinetes palacianos. Afora 31 dias de porão da ditadura, porque estes já foram indenizados.
Isso tudo pode ser, no entanto, para Dilma apenas o começo de uma reforma ministerial light em janeiro.
Um remelexo no qual, em razão do silêncio obrigatório de Lula e até das mal traçadas linhas de seu criador em dias de palanque e programas de rádio e TV, que Dilma possa consagrar sua imagem como a única e grande candidata do PT à reeleição em 2014.
Não porque tenha sido uma dama de ferro, uma primeira-mulher poderosa por natureza, mas porque se fez, pela ironia do Destino, uma presidenta forte pelo inusitado e pelo doloroso enfraquecimento e inevitável redução do voo das moscas que a rodeiam.
RODAPÉ - Trocar Jobim por Amorim, não é mais que uma rima; Palocci por Gleisi, Nascimento por Passos, Wagner Rossi por Mendes Ribeiro, Novais por Gastão, é contar seis por meia dúzia. Já o mexe-mexe de Orlando por Aldo no Esporte é apenas mudar de PCdoB para o PCdoB. Se você não espera nada da anunciada reforma ministerial de janeiro, você está redondamente certo. É dessa reforma que não vai sair nada mesmo.