O Príncipe Didi, inventor da Folha Seca era uma espécie de Neném Prancha de chuteiras. Didi era um personagem real, um filósofo de vestiário e campo. Tinha algumas tiradas que ficaram para sempre. Acusado de não dedicar-se aos ensaios preparativos, sentenciou um dia para sempre: - Treino é treino; jogo é jogo.
Em um jogo daqueles de arbitragem desastrosa. O time adversário desperdiçou um pênalti que não existira e, na recarga ele mesmo meteu de folha de seca um golaço no ângulo de Castilhos, goleiro do Fluminense. Em meio aos abraços e festejos do gol, segredou para Nilton Santos: - Deus não joga, mas fiscaliza.
Mestre Didi veio à baila, só porque Lula toda vez que lhe deu na telha, inventou metáforas futebolísticas para explicar as falhas de atuação dos seus governos.
Num rápido replay, vamos ver o que vale a pena ver de novo, nessa fase decisiva do grande craque da política nacional nesses últimos nove anos de poder:
Em 1971, Lula perdeu a primeira mulher e um filho em decorrência do habitual atendimento recebido na rede pública de saúde. Em 1998, Lula virou candidato à Presidência da República e entrou de sola nas canelas de FHC: "Eu não sei se o Fernando Henrique ou algum governador confiaria na saúde pública para se tratar".
Nesse meio tempo, Lula apitava que os governantes botavam o SUS para escanteio, estimulando a escalação dos brasileiros para os planos privados. Em 2002 Lula chegou ao Planalto. Havia então 31,2 milhões de brasileiros no lance de planos particulares.
Quando foi para o banco de reservas, substituído por Dilma em 31 de dezembro do ano passado, essa seleção nacional tinha dobrado pela metade - se não deu pra entender, explica-se em números: era um contingente de 45,6 milhões. Uma goleada. Talvez por premonição, a garganta de Lula não emitia um som sequer a respeito do assunto.
No glorioso ano de 2010, Lula inaugurou uma Unidade de Pronto Atendimento do SUS no Recife. Mentindo para si mesmo e para os pernambucanos regorogou que "Ela está tão bem localizada, tão bem estruturada, que dá até vontade de ficar doente para ser atendido". Como "treino é treino e jogo é jogo", poucos momentos depois Lula teve uma crise de hipertensão e internou-se num hospital... Privado.
Hoje, 11 meses depois de deixar a saúde pública "à beira da perfeição" como uma de suas heranças benditas para Dilma, Lula descobre que precisa calar a sua voz rouca que reverberava nas ruas, mas que já não é delas há muito tempo. Foi tratar-se... No Sírio-Libanês. Porque "tem plano de saúde e além disso tem dinheiro" - como justificou outro dia seu porta-recados predileto, Gilberto Carvalho.
Não disse, nem precisa dizer que "Deus não joga, mas fiscaliza"!