E então, Lula descarta o malandro metalúrgico que o habitava, para tratar de um tumor na garganta no hospital Sírio-Libanês que não tem culpa nenhuma.
Dirceu, o Zé rico e milionário, deita falação contra as elites oposicionistas tão imaginárias quanto a sua audaz carreira de guerrilheiro de balas perdidas.
O marqueteiro Duda Mendonça, troca as rinhas de galo por rodeios de vaquilhonas no Pará, estado da Federação por onde Lulinha, filho bom e batuta toca gado na estrada.
O Delúvio Soares, ri a mais não poder dos realities shows protagonizados pelos supremos julgadores na TV Justiça, como se fossem a maior piada de salão.
Zé Genoíno, o boquirroto do Araguaia, fazendo papagaiadas no Ministério da Defesa da República do Brasil da Silva.
Antonio Palocci monta consultorias que tiram milhões da coisa pública para colocá-los na privada, onde se sente muito à vontade fazendo força pela vida boa.
ONGnelo Queiroz, sucessor do Roriz das bezerras de ouro e de Arruda dos panetones, obra e anda pela Copa do Mundo como se, no Segundo Tempo, ela fosse ser jogada em Brasília.
ONGlando da Silva, farta-se de tapioca, enquanto - a exemplo de Lula que ia provar que "o mensalão é uma farsa" - tenta provar que não perde na prorrogação.
A gente vê essa pandilha de sevandijas comendo do bom e do melhor - de tapioca a baião-de dois; de cartões corporativos a secretárias executáveis; de centrais sindicais a uniões de estudantes e fundações e institutos - fingindo-se de povo, disfarçando que não são a própria elite dominante.
Essa banda podre de rica e de caráter, depois de esperar quase 30 anos para tomar o poder e apropriar-se do Brasil, implantou há pouco mais de oito anos uma forma de governo exercida por uma única classe política, a oligarquia.
Para eles só há duas classes: os governantes - entenda as elites - donos e man/dões do poder, e o resto da sua sociedade: os governados.
Com esse jeitão e essa roupagem a elite se organizou de tal modo que mantém, a longo prazo, a própria posição, tutelando seus próprios interesses, comendo e lambuzando-se nos banquetes em que o prato principal é a coisa pública e todas as suas circunstâncias, todas as sua iguarias.
Essa elite que nos manda sabe que a democracia é apenas uma utopia, uma teoria construída para legitimar e manter um poder que sempre está em mãos de poucos homens. Nem tão homens assim; mais mequetrefes despreparados para a labuta, mais uma banda larga de sequiosos pelo poder e pela gandaia.
Essa elite mascarada de corrente majoritária ou de movimentos de bons slogans, não diz mas sustenta que o poder só se reproduz por via democrática quando a oligarquia permite que os integrantes de qualquer classe social desfrutem do que ironicamente chamam de democracia. E então esse homem comum é um oligarca.
Essa elite que aí está só permite que isso aconteça porque no fundo, no fundo tudo parece indicar que existe uma reprodução do poder pela via aristocrática... Apenas essa substituição acontece sempre e invariavelmente no interior da própria elite.
Tratar Lula, Dirceu, Delúbio, Genoíno, Marcos Valério, Duda Mendonça de elite é forte. Forte e lamentável. Lamentável e humilhante. Humilhante e aterrador.
O vocábulo elite, no caso deles, infesta o ar que se respira com o cheiro da falsa idéia de que são todos cavaleiros de fina estampa, "pessoas não-comuns" que pelo simples fato de estarem no poder, de serem o poder, são o que há de melhor na sociedade. Isso é aterrador.
Procure, procure. Traga as provas. Mostre que os governantes desse Brasil da governanta Dilma do terceiro mandato de Lula, o Presidente Submerso, tenham, além da esperteza e da voracidade, alguma qualidade que os diferencie, alguma superioridade intelectual ou moral que os torne melhores e superiores à massa dos embasbacados que se deixam governar.
Esses autocratas, no entanto, são reféns deles mesmos. Chantageiam-se entre si. Não sabem e não podem viver sem isso. É por isso que Dilma trocou a vassoura por um ridículo espanador de pó.
Nesse regime de máfias, quem está no comando do governo não pode ir contra a classe política. A "estratégia da coalizão pela governabilidade" não deixa. O grande chefe é o maior escravo.
O diabo é que estamos à beira do precipício. Se dermos um passo à frente, podemos fazer como no Egito - espernear, gritar, esbravejar, lutar - mas vamos destituir definitivamente uma elite, para parir de novo uma outra restrita classe política. É que sem classe política não se governa.
A isso é que os homens de casa grande e senzala chamam de gênio da vaca. A vaca se bosteia, se bosteia e não sai do mesmo lugar. O touro vai lá e cobre. E goza. E manda.
E qual é então a saída? Ouçam o que lhes ordena, democraticamente, um anarquista que chegou atrasado a todos os movimentos que se processaram nesse país, desde os tempos da 2ª Grande Guerra, quando o Brasil era honesto e trabalhador. Organizem-se. De baixo para cima.
Só não fiquem em cima muito tempo. Vira poder. E o poder - todo mundo já disse isto - o poder corrompe.
Organizem-se. Esse Movimento Anticorrupção apartidário de camisetas pretas, de luto nas lapelas, que andou mostrando as caras sem pinturas, pode ser um começo. É uma espécie de passaporte não-diplomático, bem patriota que pode permitir à maioria indignada afrontar a minoria já coesa e organizada.
Mas à la louca, que nem os egípicos, não vai dar. É preciso organização. É preciso que haja uma fórmula política para justificar as marchas e contramarchas, as paradas, as passeatas, os movimentos populares. Do contrário, não se chegará a lugar algum desse Brasil da Silva que já não tenha um dono do pedaço.
RODAPÉ - As elites são sempre menores que o povo. Por isso elas se organizam mais facilmente. A indignação, no entanto, pode mais que o poder. Só não pode é se perpetuar no poder. Um povo elitizado não é povo; como democracia de elites não é democracia é oligarquia. E assim seremos para todo o sempre: uns querendo ser o que os outros não querem deixar de ser. Democracia é utopia. Azar do homem - pobre animal social.