Uma vizinha amiga, contumaz desportista de poltrona, me garante que o esporte mais irreverente e instigante é o futebol. O atacante chuta a gol, erra e faz o sinal da cruz; no escanteio, o zagueiro sobe à área adversária, cabeceia, faz o gol e sai dando cambalhotas; o capitão do time cobra bem o penalti, corre para a galera e tira a camiseta; qualquer um deles, caso não tenha mais nada para fazer, basta aparecer em close na TV para dar uma cusparada nos olhos do telespectador...
Pois não é que é mesmo? Você nunca viu o Tiger Woods se benzendo depois de uma tacada; nem o Giba dando uma cambalhota a cada cortada; ou o Roger Federer cuspindo na quadra sempre que acerta um saque; e muito menos viu a Paula Pequeno tirando a camiseta depois de um bloqueio.
Só o futebol tem disso. É o esporte mais irreverente, instigante e mal-educado. E olha que, com a bola que a Marta anda jogando, acabou aquele ranço de que "futebol é pra homem".
Até elas já andam tirando a camiseta pra comemorar o gol só de sutiã. E tem mais ainda: se tiverem que se coçar, se coçam diante das câmeras. Eles e elas. Diante das câmeras e do público nos estádios.
RODAPÉ - Ei, e você viu aquele gol do Santos contra os argentinos? Que tremenda milonga! E viu como los hermanos se abraçam, se beijam, se amontoam quando fazem gol em time brasileiro? Coisas do futebol. Você não vê nem argentinos, nem brasileiros se enroscando cabeça com cabeça, boca com boca, perna com perna, braço com braço, porque o conjunto cavaleiro/montaria saltou zerado o último obstáculo do mundial de hipismo. Já a torcida do Grêmio... Basta o time fazer um golzinho que - como diz uma amiga do José Cruz - ela desce as arquibancadas e se enrola todinha. Os tricolores se encaixam uns nos outros. Chega a dar um arrepio. Torcedor argentino também sofre desses frenesís. Só o futebol tem disso.