O medo

TENHA MEDO DO QUE O GOVERNO PODE FAZER COM VOCÊ. NO BRASIL GOVERNAR É SATISFAZER NECESSIDADES FISIOLÓGICAS.

22 de mar. de 2011

Tijolaço do Dia


Marcelo Câmara sai no Globo e explica

O Globo de ontem trouxe uma nota muito simpática sobre o trabalho de Marcelo Câmara como cachaçólogo e degustador, ofícios que exerce há mais de quarenta anos. Quase tudo certo com a nota do colunista e amigo Joaquim Ferreira dos Santos. Apenas uma correção: Marcelo não abriu consultoria, apenas reativou plenamente, consultoria de vários serviços profissionais que presta há quase vinte anos.

E como o diretor deste renovado Sanatório é altamente compreensível, pois também é chegado a um “mé” social, autorizou este compreensivo escriba a apresentar as explicações de Marcelo.

Queremos deixar bem claro que o SDN – não confundir com o partido do Kassab pois é apenas a sigla do Sanatório da Notícia – jamais censura ou persegue seus internos ou aqueles que como o Marcelo ficam no vai e vem.

“A minha intenção, ao ser procurado pelo jornal, foi fazer uma breve análise crítica da defectível produção e do enganoso mercado mundial de cachaças, que crescem espetacularmente, impávidos e incólumes, a despeito de todos os seus desvios e reincidentes anomalias, estruturais e conjunturais. Disse a O Globo que Sua Excelência, a Cachaça, uma das mais belas expressões da Cultura Brasileira e um importante produto da nossa economia há mais de quatro séculos, tem raras vitórias contra a insistente inhaca, o amadeiramento calhorda e o veneno latente. Atualmente, é uma façanha hercúlea, um milagre até, encontrar no mercado brasileiro e internacional, Cachaça (nova: fresca ou “descansada”) “pessoalmente” e Cachaça Envelhecida (em suas variadas idades), “pessoalmente”, duas bebidas diversas, com excelência sensorial. Isto é, cachaças que podem receber, na minha avaliação, notas acima de 8 (oito), cachaças com aroma agradável de bagaço de cana-de-açúcar (de melado ou rapadura) e com o sabor delicioso e único do destilado nacional. São seis mil marcas ativas no mercado nacional e pouquíssimas, talvez uma dezena de marcas de Cachaças e outra dezena de Cachaças Envelhecidas que apresentam verdadeiras virtudes sensoriais: o fascinante aroma e o gosto rústico e peculiar da cachaça, essa exuberância sensorial virtuosa, forte e inebriante que encanta os estrangeiros e faz tremer as grandes corporações que produzem os outros destilados como a vodca, o rum, o uísque e o hegemônico soju, à base de arroz coreano. As cachaças tem cheiro e gosto de tudo – álcool anidro, madeira, cereal, ervas, frutas, loção pós-barba, conhaque e uísque falsos, perfume barato, água de colônia, remédio, protocolo do INSS guardado – menos o legítimo perfume e gosto de cachaça, de cana.

Noventa e nove por cento das marcas são medianas ou ruins, não são saborosas. Três são os recursos criminosos normalmente utilizados pela grande maioria que fabrica produtos imbebíveis, e quer vender a sua cachaça nauseabunda. O primeiro consiste em tingi-la com madeiras agressivas, amadeirar criminosa e sordidamente, ao máximo, a cachaça, transformá-la numa mistura de etanol e serragem a fim de esconder a inhaca original e dissimular o seu terrível fedor e sabor de veneno. O outro é criar embalagens luxuosas e escrever no rótulo que tem quatro, seis, oito anos de ‘”envelhecimento”. Por último, estabelecer preços altíssimos, irreais, exorbitantes. Estas são as três formas vigentes de enganar, de ludibriar o pingófilo, ignorante, iniciante ou acostumado a beber mal.

Quem sabe fazer e envelhecer cachaça com sabedoria e arte, cachaça com qualidade química e, principalmente, com excelência sensorial, nada teme, nada tem a esconder, e vende os dois tipos da bebida: a nova e a envelhecida. Nenhuma cachaça permanece cachaça, mantém a sua natureza, preserva as características sensoriais próprias da bebida, se passa de quatro, cinco, seis anos armazenada em madeira, mesmo apropriada e tratada. Nenhuma das dez Cachaças de excelência que possivelmente existem ou nenhuma das dez Cachaças Envelhecidas de excelência que possivelmente existem tem perfume e sabor estranhos, esdrúxulos, que não sejam o de cana. Nenhuma delas possui embalagem sofisticada ou custa mais que cinquenta reais. A dica para quem quer se iniciar na degustação: “O olfato é a antessala do paladar. Se a cachaça não tem o perfume peculiar e característico da cana, do bagaço da cana, que remete ao melado, à rapadura ou ao manuê-de-bacia (bolo feito de melado) – pode desprezar. Não é pinga boa".

Pronto. Marcelo dixit.
(Pela transcrição Carlos Eduardo Behrensdorf – Brasília)