O medo

TENHA MEDO DO QUE O GOVERNO PODE FAZER COM VOCÊ. NO BRASIL GOVERNAR É SATISFAZER NECESSIDADES FISIOLÓGICAS.

15 de mar. de 2011

Histórias da Bota

Minha terra tem palmeiras
Por Carlos Eduardo Behrensdorf - Brasília

Buscar fora do Brasil o que falta no Brasil nem sempre, ou quase sempre, não acaba bem. A Itália serve como exemplo. Digo isso porque vi e conversei com brasileiros e brasileiras que por lá se encontram há dois, dez, quinze, 30 anos tentando “dar um jeito” na vida.

É claro que muitos – mais “muitas” do que “muitos” – se dão bem, constituíram família e pelo menos uma vez por ano visitam o Brasil, a maioria feminina trazendo maridos, filhos, filhas, noras ou genros, netos e netas.

Na marginalidade ficam aquelas que se transformam em “garotas de programa”, neologismo para a prostituição jovem da classe média. De quebra, um grande número de travestis que aos poucos se transformam em donos ou “donas” do “trottoir” noturno em parques e avenidas. O “Brazilian Gay” na Europa é uma grife podre.

Na maioria há a vontade nem sempre revelada de retornar, comprar casa, rever as cidades de origem. O que as palavras não dizem os olhos revelam. É assim, sempre foi assim e será sempre assim. Os olhos entregam o jogo.

Foto: Arq.Behre/Barbearia - Negócio italiano 
Não há na Itália nenhum brasileiro poderoso com ou sem voto, exceção para quem atua nas grandes equipes de futebol, vôlei ou consegue entrar num apertado bólido de Fórmula Um da Ferrari.

Na Itália não há descendentes de Zé da Silva ou João Pereira em destaque em nenhum dos poderes estabelecidos. Na Itália, dona Maria faz limpeza em apartamentos como diarista e os “Zé” estão na pior. Na Itália os brasileiros não têm passado e muito menos futuro na península.

Mesmo assim, não são poucos os brasileiros que procuram sobreviver em algumas das grandes cidades italianas. Nesta situação encontram-se universitários (as) que buscam a cidadania italiana trabalhando em lavanderias, restaurantes, lojas e outros “bicos” sobre os quais não falam.

Não revelo os nomes para não complicar a vida já enrolada dos brasileiros com os quais conversei e converso. Há um estudante brasileiro, nascido no Rio de Janeiro e chegou a Roma com um ano e meio de idade, filho de mãe brasileira e pai italiano que sumiu. Está concluindo o curso de sociologia política e trabalha nas folgas como guia turístico. Ele não vê futuro para quem para a Itália se dirige buscando “uma coisa que não existe”.

Outro é professor de samba há mais de 20 anos. É arquiteto formado pela Universidade de Brasília. Num dos mais famosos cafés da Piazza Navona as recepcionistas e algumas garçonetes são univeristárias. Numa rede de lavanderias, as atendentes também são universitárias. Um detalhe; a maioria é (ou era) de Porto Alegre.

Há histórias sérias e difíceis sem serem melosas ou piegas. A definitiva solução da questão das legalizações não está somente nas mãos das autoridades italianas e sim mais por conta de iniciativa do governo brasileiro.

O Brasil não é signatário da Convenção do Apostille, firmada em Haia, em outubro de 1961, pela qual os próprios governos dos países que aderiram podem legalizar os seus documentos civis e comerciais, validando-os no Exterior. Mas, é aí quem entram cartórios e tabeliães. Não percam o próximo capitulo desta novela.