Ocupado em arranjar uma boa desculpa para não aceitar o convite da escola de samba Tom Maior que desfilou esta madrugada no Sambódromo do Anhembi, em São Paulo, Lula não teve tempo para sair da moita e se manifestar a respeito dos massacres sanguinários da Líbia. Melhor assim, deu Bombom na passarela.
Outros amigos do peito, no entanto, já demonstraram sem nenhum medo ou pejo, seu apreço por Muar Kadafi e seu regime ditatorial. Kadafi, apesar da pressão para que apeie do poder, ainda conta com o apoio de alguns muares que falam. Lula, ao contrário, não tuge nem muge. É como se ainda não tivesse desencarnado do tempo em que não sabia de nada, não fazia nada, não dizia nada.
Ele nem sequer ouviu falar na sugestão de Muamar Kadafi a Hugo Chávez para criar uma comissão mediadora do conflito, sob a direção de Lula. Essa desviada de percurso foi que nem aquela carta dos dissidentes cubanos: não chegou às suas mãos.
Já a Venezuela, o Zimbábue e Cuba - todos também unha e carne com Lula - botaram a boca no trombone e, ao invés de condenarem Muar Kadafi por massacrar o próprio povo, cantam loas e elogiam às escâncaras o ditador amigo, irmão e líder.
Lula, não. Come em tranca. A estratégia é a mesma que o afastou da cena das tragédias naturais brasileiras; que o afastou de Angra; que o afastou de Zé Dirceu quando o esquema do mensalão veio à tona; que o fez nunca mais convidar Erenice Guerra para a mesma mesa onde quer que fosse o banquete. Lula não se queima. Fica na espreita. Como o lobo aquele atrás do arbusto vestido de cordeiro para dar o bote na vovózinha. E na Mariazinha também.
Então, repetindo para que nada fique em brancas e passageiras nuvens: o bolivariano, Hugo Chávez - sem dizer que obedecia ao Muar da Líbia - propôs a criação de uma comissão internacional para mediar a crise Líbia. Convidou Lula para ser o grande mediador, mesmo que o Conselho de Segurança da ONU já tivesse votado a favor de duras sanções ao país norte-africano e pedido investigação de crimes contra a Humanidade cometidos por Kadafi, seus filhos e aliados. Mui amigo, el dictador saleroso que comanda la Venezuela.
Pero no mucho... Lula es un sabelotodo, mui listo y socarrón. Por supuesto, Lula non hubo oído. Calou-se, como faz bem ao fígado de todos como ele mesmo. E como é do seu feitio, quando não tem uma boa idéia e a porca torce o rabo.
De sua parte, o comandante cubano Fidel Castro também condenou o que chamou de "uma inevitável invasão da Líbia pela Otan, com o apoio dos EUA, para controlar o petróleo do país". Babou na gola do culote, como sempre, mas pelo menos babou. O rato não roeu a língua dele.
Ora por isso, não... O silêncio de Lula não se justificaria: Kadafi tem investimentos no Brasil que, só na Bahia do Senhor do Bonfim, chegam a mais de US$ 1,2 bilhão. E Lula, agora tá nem aí.
Há também outros que o trem não pega nessa hora, como China, Rússia e Turquia - que ainda não apoiaram abertamente o líder líbio, mas ficariam contra qualquer reação externa concreta contra o regime do Muar.
Assim é que o silêncio de Lula é o grito de quem consente com o jeito de ser dessa turma aí de cima.
Bom para o Brasil que hoje não seja ele, oficialmente, o presidente da República, ainda que não tenha desencarnado do cargo que havia trocado há muito tempo pela função de cabo-eleitoral de Dilma.
Essa turma que finge que vai pela esquerda e finge que vai pela direita, acaba fondo pelo meio. Esse grupelho está com o Muar e não abre. E nem é tanto por defender direitos constitucionais, republicanos, ou consuetudinários...
A pandilha de sevandijas está com o Muar porque nenhum deles acha nada demais o que Kadafi está fazendo com o povo e com a Líbia. No seu lugar, decerto, fariam até bem melhor.