O cenário é Brasília, celeiro e paiol que guarda os figurões dos três Poderes constituídos, nascidos e criados pelos quatro cantos do país e acomodados na capital da República de terças a sextas-feiras, quando voltam às suas bases de lançamento, onde se formaram nas artes e manhas que afundam o Brasil.
A palavra de Buratti valia, naquele 25 de agosto, muito mais que a do pobre caseiro, até hoje desempregado e correndo o risco de ser preso por ter dununciado as farras e os achaques às burras públicas que Palocci fazia na mansão do lobby, em Brasília. Valia, porque Buratti era o vice-presidente da Leão Leão naqueles bons tempos.
Buratti deixou escorregar a idéia de que havia uma outra razão para a falta de interesse de Palocci pela propina. Pela boca de Buratti não saiu nada com relação a isso, mas o que sua boca não disse tinha um ar de que o ministro tinha resolvido respeitar o interesse de outro ministro no negócio: o assunto já vinha sendo tratado por Waldomiro Diniz, o assessor que Zé Dirceu "mal conhecia" quando era morador da Casa Civil, lugar que por isso e muitas coisinhas mais, lhe foi tomado por sua velha amiga e companheira de guerrilhas urbanas, dona Dilma Rouchefe.
Resumo da opereta bufa: o contrato da Caixa Econômica Federal com a GTech foi assinado, pela micharia de R$ 650 milhões. Bolas, R$ 16 milhões é gorjeta num volume desses. Propineiro que se preza e é considerado, não deixa por menos de 10%. Isso daria uma bijuja inicial de pelo menos R$ 65 milhas. Debocharam de Buratti.
Deputados, senadores, ministros, grandes juízes, nobres servidores de fidelidade canina ao poder a que se aferram, nanicos de todos os tamanhos e sem-vergonhas em geral, canalhas de todos os tipos fazem de Brasília seu ponto de referência. É o lugar onde vêm aplicar e consolidar os golpes que aprenderam em suas cidades natais, de onde saem ilustres pobres desconhecidos e voltam arrotando grandeza e esbanjando prepotência. Dá nauseas.
Pois é nessa cosmopolita terra que, há exatos quatro anos, o advogado finório Rogério Buratti prestava depoimento na chamada CPI dos Bingos. E ele cantou a pedra: o então ministro Antônio Palocci recebeu mesmo propina de R$ 50 mil mensais, ao longo de dois anos, quando exercia sua segunda gestão como prefeito de Ribeirão Preto. A grana procedida da empresa Leão Leão que mordia os cofres da prefeitura a troco de diversos serviços, todos muito gerais.
A palavra de Buratti valia, naquele 25 de agosto, muito mais que a do pobre caseiro, até hoje desempregado e correndo o risco de ser preso por ter dununciado as farras e os achaques às burras públicas que Palocci fazia na mansão do lobby, em Brasília. Valia, porque Buratti era o vice-presidente da Leão Leão naqueles bons tempos.
Mesmo tentando livrar a cara de Palocci, Buratti foi explícito: “Eu sabia de onde o dinheiro saía, e para onde ia. No caso de Ribeirão Preto, acredito que foi entregue na sede do PT”. E avançou um pouco mais: "nenhuma empresa faz contribuição, nem pequena nem grande, sem que o principal, o 'patrão' seja prefeito ou o secretário, saiba. Então acredito que Palocci soubesse. Eu nunca vi ele participar de reuniões confirmando isso, mas acredito que soubesse".
O depoimento do "entregador" é patético: "lamentavelmente, essa é a regra do jogo em muitos lugares. O agente municipal impõe a regra". Diante de seus indagadores, Buratti deu o caminho das pedras: "No caso da Leão Leão, o dinheiro era contabilizado no caixa da empresa como prestação de serviço, ou então retirado diretamente no caixa da empresa e escamoteado com notas compradas. Era assim que os balanços eram forjados".
Lá pelas tantas Buratti diz que foi procurado pela GTech, multinacional que cuidava das Loterias da Caixa Federal. Tratava-se apenas de uma oferta de suborno que poderia chegar até às alturas de R$ 16 milhões. Tudo isso só para facilitar a renovação do contrato com a Caixa Econômica Federal. Aí, ao invés de correr com os caras da frente dele e denunciá-los à polícia, Buratti foi consultar Ralf Barquete, na Caixa.
Ralf Barquete, ex-assessor de Palocci, morreu em 2004.
Com toda a singeleza do mundo Buratti explicava na CPI: "Esse dinheiro não seria para mim, eles falaram claramente que era uma oferta ao governo, eles queriam que chegasse ao governo através do Ministério da Fazenda. Levei essa notícia ao Ralf, do mesmo jeito que ela me foi passada. Um dia depois o Ralf me deu a informação de que havia conversado com o ministro ou com alguém do ministro e que o ministro não iria interferir na negociação com a Caixa em nenhuma hipótese, que a negociação deveria continuar do jeito que estava... Técnica, que não havia interesse na oferta de recursos para o PT".
Buratti deixou escorregar a idéia de que havia uma outra razão para a falta de interesse de Palocci pela propina. Pela boca de Buratti não saiu nada com relação a isso, mas o que sua boca não disse tinha um ar de que o ministro tinha resolvido respeitar o interesse de outro ministro no negócio: o assunto já vinha sendo tratado por Waldomiro Diniz, o assessor que Zé Dirceu "mal conhecia" quando era morador da Casa Civil, lugar que por isso e muitas coisinhas mais, lhe foi tomado por sua velha amiga e companheira de guerrilhas urbanas, dona Dilma Rouchefe.
Resumo da opereta bufa: o contrato da Caixa Econômica Federal com a GTech foi assinado, pela micharia de R$ 650 milhões. Bolas, R$ 16 milhões é gorjeta num volume desses. Propineiro que se preza e é considerado, não deixa por menos de 10%. Isso daria uma bijuja inicial de pelo menos R$ 65 milhas. Debocharam de Buratti.
O Ministério da Fazenda, pouco depois e muito contra a vontade, reconheceu que Antônio Palocci concedera audiência a João Vaz Guedes, presidente da Somague, um grupo português da área da construção civil, por acaso, simples acaso, sócio da Leão Leão de Ribeirão Preto.
A reunião foi no dia 13 de maio de 2003 e Buratti foi quem marcou o encontro com Juscelino Dourado, chefe de gabinete de Palocci. O então ministro vinha negando a reunião, só para não admitir a influência de Buratti em sua agenda.
E assim foi o dia 25 de agosto de 2005. Hoje, 25 de agosto de 2009. Daqui a dois dias, o Supremo Tribunal Federal decide se abre processo contra o deputado Antonio Palocci por suposto envolvimento na quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa. Assim é que o mesmo Palocci pode até escapar de ser julgado pelo STF e entrar na lista de postes preferidos de Lula para a sua sucessão, já que dona Dilma Rouchefe não emplacou até agora.
Como se vê, Lula tem preferência por fraudadores de agenda. Não só de agenda... Currículos, diplomas, desserviços. Já o caseiro Francenildo... Se não pegar 20 anos de cadeia, já tá bom demais pra ele.