O medo

TENHA MEDO DO QUE O GOVERNO PODE FAZER COM VOCÊ. NO BRASIL GOVERNAR É SATISFAZER NECESSIDADES FISIOLÓGICAS.

26 de ago. de 2009

BOLA GENÉRICA

25 de agosto de 1961
Moisés Pereira

Porque estava fazendo o serviço militar no 9° R I, em Pelotas e era o Dia do Soldado, foi festa no quartel. Lembro da cerimônia de juramento à Bandeira e deixávamos de ser recrutas e passávamos a ser soldados.

Fomos dispensados cedo e repousava no Hotel Cacique no fim da tarde quando uma viatura veio recolhernos. O Exército entrava em prontidão. O presidente Janio Quadros renunciara e o Vice João Goulart estava na China Comunista. Esta palavra por si só era o suficiente para ouriçar os militares.

Foi uma experiência no mínimo interessante. Éramos o que, muito tempo depois viria a entender, massa de manobra e sem termos qualquer informação guarnecíamos os locais próximos ao quartel, aí incluído o Cemitério que na madrugada de muito vento zunia um ruído das coroas de metal que até assustava.

Alguns de nós fomos deslocados para Rio Grande criando um clima de mobilização militar. O que não sabíamos é que no centro do país o ministro da Guerra articulava contra a posse de Jango o vice-presidente e Leonel Brizola, governador gaúcho, liderava a Campanha da Legalidade com o apoio do 3° Exército comandado pelo Gen. Machado Lopes.

Não sei por quanto tempo ficamos nessa manobra, que nem cogitávamos, viria fazer parte da história contemporânea deste país na época da Guerra fria.

Lembro do dia em que tudo acabou: chovia muito e houve a cerimônia de dispersão no quartel com a presença de todo o contingente. Não participei deste ato porque exatamente estava de guarda, distante do quartel. Com fome, frio e molhado fui ser rendido com algumas horas de atraso. Isso levou-me a desacatar o sargento chefe da guarda na rendição que escondia suas insígnias sob o capote anti-chuva.

O Brasil ingressava na sua fugaz experiência de Parlamentarismo e todos comemoravam a volta para casa com a normalidade institucional. Menos eu que fiquei detido graças a minha rebelião contra o chefe da guarda. Foi a minha participação nesse episódio ocorrido em agosto de 1961, há 48 anos.

RODAPÉ - Bola genérica pra frente, Moisés! Quem sabe uma açãozinha de anistia - que nem Zé Dirceu, Ziraldo, Carlos Heitor Cony - pela detenção em tempos de guerrilha e revolta?!? Todo mundo é filho de Deus, né não?!?