Moisés Pereira
No atual campeonato brasileiro da série A, apenas cinco treinadores dos que começaram o certame são mantidos em seus cargos. Isso equivale a dizer que no mínimo 15 já foram substituídos e alguns mais de uma vez. Sem dúvida é o técnico o elo mais fraco na relação das equipes em busca de desempenho e resultados principalmente.
Observo estes profissionais há muitos anos, desde quando tinham atribuições bem mais diversificadas. Meu grande exemplo é Paulo de Souza Lobo, o Galego, que treinou quase todas as equipes de Pelotas, Rio Grande e Bagé a partir da década de 60. Além do time no campo, e da preparação física, cuidava da grama, do material esportivo, da iluminação, da cozinha, e ainda vendia rifa para arrecadar recursos para o clube.
Hoje tudo é muito diferente. O técnico é considerado professor, chefia uma comissão técnica que dependendo da estrutura do clube abrange cerca de uma dezena de profissionais desde o auxiliar, treinador de goleiros, preparadores, nutricionistas, fisiologistas etc.
Os treinadores são seres solitários, os ditos de ponta ganham salários extravagantes, porém nem sempre são bem entendidos. Conviver com algumas de suas decisões e escolhas não é tarefa fácil.
Francisco Noveletto Neto, presidente da Federação Gaúcha de Futebol, quando dirigente do E. C. São José proferiu uma frase lapidar: ”Um dia ainda mato um treinador”.
Talvez por isso tenhamos hoje personalidades marcantes nessa área no futebol brasileiro e mundial. Ficando aqui no território tupiniquim e sem a pretensão de uma análise acabada sobre o tema vou abordar alguns nomes.
Começo pelo velho Lobo, o Zagallo, que chegou a seleção depois de um chilique do João Saldanha, em 1958. Na minha opinião, devido a uma geração de valores diferenciados de jogadores conseguiu vários títulos sem convencer como grande estrategista e mais aparecendo pela obsessão em relação ao número 13 e outras superstições hoje, fora de moda, felizmente.
Na Seleção destaco Luiz Felipe Scolari, que consagrado nos clubes que treinou no país, ganhou uma Copa de forma invicta. Sua personalidade era marcante e penso grande técnico. Está no exterior desde a Copa de 2002.
Telê Santana, também vitorioso em clubes, na Seleção conseguiu montar uma equipe encantadora em 82 e 86 mas, pelos caprichos do futebol não foi campeão. Seu conceito sempre foi elevado e é lembrado com respeito.
Outro que cito com veneração é Enio Andrade que nunca teve nas mãos um grande time, mas que foi um vencedor. Importante: É o treinador mais destacado pelos boleiros que dirigiu e pelas pessoas que tiveram a oportunidade de trabalhar com ele.
Vanderlei Luxemburgo é outro grande vitorioso no futebol brasileiro. É o homem da filosofia e do planejamento como se intitula, e mesmo atrapalhado em questões éticas, é incensado por muito marketing e já fala em ser senador por Tocantins. Taí. É capaz de ter perfil para a Câmara Alta da República, inspirada na “Câmara dos Lordes da Inglaterra.”( Principalmente no momento atual).
Murici Ramalho diz-se discípulo de Telê. E tem se especializado em ser campeão brasileiro com um futebol pragmático. O mesmo não se pode dizer de seu humor, sempre azedo e explosivo.
Polêmico é Celso Roth. Casmurrão, com certeza é o mais rejeitado pela mídia e, via de regra, larga bem e não chega. Seria “cavalo paraguaio”.
Agora o Grêmio repatriou Paulo Autuori. Deixou a paz dos Emirados Árabes para, de volta à planície, conforme disse, pôr a cara para bater e inclusive ser chamado de burro eventualmente. Autuori é um cavalheiro, sua retórica é acadêmica, fala de conceitos tenta se fazer entender em alto nível. Lugano, seu pupilo, zagueiro uruguaio, quando jogava no São Paulo, mesmo batendo até na sombra dos adversários, teve a sensibilidade de sentenciar sobre Autuori : “É um gentleman. Não sei o que está fazendo no futebol “. Não sei se vai emplacar no Grêmio, mas entendo que tem predicados para ser bem sucedido.
Outros nomes poderiam ser declinados, Foguinho, uma lenda; Minelli um injustiçado, mas fico por aqui, porque já excedi a cota de alguns nomes.