FUTEBOL CARIOCA
Moisés Pereira
Quando descobri minha paixão pelo futebol, lá nos idos da Copa do Mundo de 1950 realizada no Brasil era difícil não ter uma identificação com o futebol carioca. Era na capital do país que tudo acontecia e a Rádio Nacional pelas suas ondas curtas chegava a todos os confins do Brasil, inclusive no extremo sul, na minha cidade Santa Vitória do Palmar e, como minha formação esportiva foi do rádio, eu alimentava a minha fantasia e pelo áudio me aproximava dos ídolos.
O Vasco da Gama era a base da seleção de 50: Barbosa, Augusto e Juvenal; Eli, Danilo e Bigode; Friaça, Zizinho, Ademir, Jair e Chico . Seis jogavam no Vasco, e embora o vitoriense Juvenal atuasse no Flamengo eu torcia pelo Vasco da Gama. Anos depois na era Pelé fui torcedor do Santos e do Farroupilha. Hoje eu, o Renato e a Tatiana, meus filhos, e Marina a minha neta torcemos para o Grêmio e nada mais pode ser melhor.
Assim, lembro do emocionante Super-Super Campeonato carioca de 1958 quando Vasco, Flamengo e Botafogo terminaram empatados e foram para um supercampeonato que também terminou em igualdade levando ao Super-Super vencido pelo Vasco da Gama.
Se hoje parece estranho entender como sobravam datas para tantos jogos, não acontece o mesmo com a desconfiança de que houve “armação” para maior faturamento com tantos clássicos decisivos.
Hoje, ao nos depararmos com a realidade do futebol carioca somos tentados a fazer uma reflexão sobre essa acentuada decadência. É certo que com a mudança da capital para Brasília o Rio deixou de ser o centro do Poder político e institucional, mas o poder do futebol continuou. É lá que estão a CBF do monarca Ricardo Teixeira e os tribunais de justiça desportiva de Sweiter, Schmitd e outros quetais.
Não obstante este status quo, os tradicionais clubes cariocas que na seara doméstica eram incensados como maravilhas do mundo perderam espaço quando o futebol se globalizou e nacionalmente outros centros tiveram visibilidade e crescimento. O Flamengo que ostenta a maior torcida do país ainda sobreviveu com alguns títulos nacionais e internacionais nos últimos anos.
É notório que, porque o negócio futebol ganhou destaque economicamente e na mídia, dirigentes de clubes usassem essas marcas tradicionais para vantagens pessoais e aí surgiram Eurico Miranda, Montenegro, Márcio Braga, Francisco Horta e outros.
A conseqüência natural de más administrações foi que Botafogo, Vasco da Gama e Fluminense passassem a ser freqüentadores eventuais da Série B, e o Flu também esteve na C. No atual campeonato Botafogo e Fluminense ocupam posições cativas no G4 do Mal, a zona do rebaixamento e o Mengo já está se aproximando. Enquanto isso seus patrimônios decresceram e as dívidas são expressivas.
Para o futebol brasileiro não é boa essa realidade, mas por outro lado é o reflexo de que num momento totalmente profissional, quem não se organizar e não adotar técnicas de gestão modernas está fadado a não sobreviver.