O medo

TENHA MEDO DO QUE O GOVERNO PODE FAZER COM VOCÊ. NO BRASIL GOVERNAR É SATISFAZER NECESSIDADES FISIOLÓGICAS.

4 de mar. de 2012

BAÚ DO JIRAU

Pontapé nos fundilhos!

Em 17 de março do já longínquo ano de 2006, quando o Brasil foi eleito como sede da Copa de 2014, a comitiva do lobby oficial brasileiro não podia ser mais seleta.

Lá estavam, no palco das ilusões, uma fauna pública e notória: além de dinossauros como Ricardo Teixeira; picterodáctilos como Pelé, Romário; roedores como ONGlando Silva e Zé Arruda dos Panetones; raposões como Sérgio Cabral, Eduardo Paes; Paulo Coelho, outros bichos e ratazanas de sempre. Uma orquestra de animais políticos toda sob a batuta do maestro Luiz Erário Lula da Silva. Poucos faunos e raríssimas pessoas.

Foi ali, com aquela espécie de cartel de projetos monumentais, que começou a grande, irresponsável e gananciosa aventura de trazer para o Brasil um Mundial de futebol - esporte mais popular do mundo - que, nem de longe, estará ao alcance da população brasileira, fanática por futebol.
Note: as mãos avançam sobre a taça de ouro, uma mostra apenas quatro dedos.

Em Zurique, com aquela banda de vorazes criaturas de enorme olho grosso, deu-se início a uma das mais líquidas e certas crônicas de uma morte anunciada.
Os planos de ganhar rios de dinheiro começaram ali, com aqueles fiéis depositários de empreiteiras, de redes hoteleiras, de agências de viagens, casas de câmbio e de turismo, de patrocinadores e animadores de negócios por dentro e por fora, tudo em nome da grande paixão nacional no País do Futebol.

A Copa de 2014 é, desde já um fracasso retumbante. O mundo inteiro já descobriu o que o governo e a banda bandalha dos organizadores oficiais que, como todo mundo, não gostam de levar um pontapé no traseiro, tentam negar: esse Brasil da Silva, tomado de assalto por essa pandilha, não estava e nem está preparado para realizar com seriedade uma Copa do Mundo e muito menos os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016. O Brasil é um fiasco mais do que consolidado dentro e fora de campo.

Dentro de campo, o Brasil não tem esquema de jogo, não tem identidade, não tem sequer um treinador que se possa dizer do ramo. Tem um bouquê de jogadores quebra-galhos e um ou dois craques que, às vezes ficam no banco. Tem, isto sim, a pior campanha da sua história e a deplorável e humilhante 7ª posição no ranking da Fifa, pior colocação que já ostentou desde o Maracanaço de 1950.

Fora de campo, batendo cabeça e fazendo contorcionismos, está a mixórdia incontrolável da ganância desse grupelho de alto escalão na República dos Calamares e baixo calão no conceito do pobre torcedor que, para comprar o ingresso mais barato no pior lugar de cada estádio, vai ter que atrasar o pagamento da prestação de sua moradia, adquirida numa brecha do programa Minha Casa, Minha Vida.

Agora que o mal-educado Jerome Valcke encheu a boca e meteu o pé no traseiro "dos organizadores" da Copa, a presidenta, o ministro de plantão no Esporte, os laranjas Ronaldo e Bebeto, o boquirroto Romário que não tem língua presa nessas horas, e a turma da banda - exceto Lula que por força do destino tem que ficar calado - abrem os braços, cantam a última esperança e soltam a voz nas estradas que já não podem parar.

Pura cantilena. A sacanagem foi impedida, não pelo anunciado esquema anti-fraude para gringo ver, mas pela pressão da mídia investigativa, séria, incansável, atenta e pela mobilização de núcleos de indignação social que cobram honestidade e competência, chutando o calcanhar de Aquiles da camarilha que se apossou do evento e do espírito olímpico do próprio futebol brasileiro.

O fracasso está mais que anunciado na remodelação dos estádios; nas obras de infra-estrutura; no sistema de segurança pública; nos transportes; nos aeroportos, nos terminais rodoferroviários; nos portos marítimos; na hotelaria velha, insuficiente e precária... Cadê o trem de alta velocidade?!? Cadê a segurança; cadê a confiança?!?

Naquele velho dia em Zurique, brandindo o pavilhão nacional e aos prantos de alegria e avidez pelo que estava por cair no colo e nos bolsos daquele comitê representativo da gandaia planejada, Luiz Erário da Silva, ainda presideus do país-sede, levantou os fundilhos da cadeira e regorgou para todo o planeta uma de suas mais arriscadas e gulosas frases de efeito: "O Brasil vai realizar a melhor Copa do Mundo".

Naquele mesmo dia, hora e local, o ínclito e bem aculturado Ricardo Teixeira falou e disse: "Nós somos uma nação civilizada, uma nação que está passando por uma fase excelente e temos tudo preparado para receber adequadamente a honra de organizar uma excelente Copa do Mundo." 

E sem conter a euforia, gabou-se como o arauto da nação que mais gosta de espoliar: "A Copa do Mundo vai muito além de um mero evento esportivo. Vai ser uma ferramenta interessante para promover uma transformação social."

Naquele dia então, o ministro dos Transportes - hoje defenestrado da Pasta, como malfeitor de uns malfeitos corriqueiros na Esplanada - foi altivo e peremptório: "Na corrida contra o tempo, a Infraero garantirá que os sessenta e sete aeroportos na sua rede estejam em perfeitas condições para receberem com conforto e segurança os passageiros do Brasil e do exterior". Essa elite safardana causa frouxos de riso.

Seu azar é que o tempo não para. Eia, pois, onde nos encontramos, pobres degradados filhos de Eva... Num vale de lágrimas, gemendo e chorando, de calças na mão e tomando um pé nos fundilhos de um reles secretário-geral de Joseph Blatter que é outro que o trem-bala não pega.

O que a Fifa fingiu que não sabia no dia daquela "eleição" do Brasil é que, os nossos "interlocutores" em Zurique eram tão confiáveis quanto a própria banda de Blatter. Eles podem dizer o que querem e bem entendem, uns para os outros. Nós é que não podemos acreditar.
RODAPÉ - Do jeito que a coisa vai, Luiz Erário Lula da Silva não vai conseguir a almejada cadeira permanente nem mesmo na Fifa - A ONU do futebol mundial.