Antes de mais nada, preciso é que se diga: bom seria ter assistido às comemorações do PCdoB - que não tem nada a ver com o Partidão, original e nacionalmente romântico - na sala da comunista gaúcha de Veranópolis Maria do Rosário, hoje ministra que cuida da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.
Note que os direitos humanos são da Presidência e não dos brasileiros. Mas isso, nesses tempos bicudos, é de somenos.
Fosse na velha Rússia - dona da antiga e camarada União Soviética, qualquer um teria direito de repartir o cômodo da militante Maria do Rosário, como faz bem à política comunista de partir o pão e repartir o cobertor.
Mas não foi lá. A festa foi por aqui, no Brasil - um dos únicos países do mundo que ainda finge que o comunismo não foi pras cucuias quando se deu a queda do muro de Berlim e assim que Nikita Serguêievitch Khrushchov chutou o regime pros quintos do inferno e foi substituído por Leonid Brejnev que perdeu a boca para Mikhail Gorbatchov.
E foi então que as reformas que intentou acabaram conduzindo ao final do que era chamado de Guerra Fria. Foi assim que, já naquele tempo ele acabou com o poderio do Partido Comunista no país, levando à dissolução da União Soviética.
Este PCdoB que celebra desde o dia 19 e vai celebrar até o ainda longínquo 30 de março com toda pompa e circunstância 90 alegres primaveras brasileiras, não se antenou para isso. O que não é de admirar numa democracia de pernas frouxas e andar ligeiro como a nossa.
Pois, meus diletos camaradas, as comemorações não disseram uma palavra sobre o fatode que os deputados comunistas votaram há poucas luas, como se capitalistas fossem, a favor da privatização dos aeroportos.
Levei o tempo todo querendo escutar alguma coisa ou alguém que matasse a cobra e mostrasse o pau apontando em que país desse mundão o regime comunista deu certo nesses últimos gloriosos 90 anos.
Fiquei perguntando ao meus botões: - Ei, camaradinha, você gostaria de morar em Cuba, ganhar um salário chinês, estudar na Coreia do Norte?
Ninguém disse nada sobre o que está acontecendo no intervalo do Segundo Tempo, nem como vão os folguedos do companheiro e camarada bom e batuta ONGlando Silva, aquele que fez do Ministério do Esporte o Parque de Diversões de Orlando. É como exclama agora o bom burguês, Aldo Rebelo: - Assim é Flórida!
Não houve uma só palavra sobre a alegria que o partido tem em participar do governo Dilma como um nanico de vocação ainda inexplicada sobre as tendências a ser capacho ou pelego de um regime que tem Guido Mantega - caçador dos tributos mais altos da face da Terra, para pagar a máquina administrava mais emperrada e mais cara do planeta.
Vendo o cinismo da celebração de 90 anos de vida, percebe-se a tristeza de ver-se umpartido político que não soube envelhecer. Não se respeitou desde que jogou no lixo a história de uma ideologia que tinha tudo para dar errado, mas era uma ideologia com cabeça, tronco e membros duros. Duros inclusive de aturar.
Vendo o espetáculo do 90° aniversário de um PCB que desde 1958 se chama PCdoB, somos projetados àquela velha história da suruba leste-européia, em que um amigo, na escuridão de uma só alcova para uma única grande orgia, cercado de três lindas mulheres, viu-se sugado por uma boca quente, úmida e sequiosa.
Fez as contas: - Epa! Não são três, são quatro!
Acendeu a luz para conferir. Deparou-se com o velho amigo de noitadas homéricas atracado as suas partes pudendas. Esbaforido, exclamou surpreso:
- Mas o que é isso, Petrov?!? Você me sugando?!?
Quase caiu da cama, quando o amigo recém saído do armário lhe respondeu de boca cheia com toda a singeleza do mundo:
- Festa é festa, meu camarada!
Então o cara apagou a luz e a farra continuou como se tudo que estava acontecendo fosse a coisa mais normal. Era só uma questão de aproveitar mais uma chance; de não perder a ocasião.
RODAPÉ - Bacanal é coisa que se dá entre figuras do mesmo gênero, número e grau. Só quem tem estreita convivência entra numa suruba dessas. E então, festa é festa, meus camaradas.